Por Carlos Eden Meira
Primeiro, eu senti o bafo e o cheiro. Era uma onda de calor, numa
mistura de suor, cerveja, cachaça e sei lá o quê mais. Então, levado pelo
contágio do ritmo da música frenética e o efeito de várias doses de vódica ou
coisa semelhante, fui arrastado naquele "tsunami humano". De repente,
percebi que mesmo que eu quisesse, não poderia mais sair daquele turbilhão
alucinado, espremido entre corpos saltitantes e suados de maneira que os pés
não tocavam o chão. Fiquei à deriva, sem poder me locomover na direção que eu
quisesse, com os pés no ar como se flutuasse, ao sabor da massa de foliões do
chamado "bloco da pipoca", que acompanhava o trio elétrico
Por um breve momento, vi uma brecha na multidão saltitante, quando nos
aproximamos de uma calçada da avenida onde passávamos. Pensei sair por ali,
pulando no meio-fio. Quem disse que pude?? Levei um empurrão de banda e fui
engolido pela massa ululante, permanecendo por bom tempo sendo jogado de um lado
para outro, como bola de vôlei, ping-pong, ou coisas semelhantes.
Finalmente, numa esquina qualquer, fui "cuspido" fora daquela
alegre bagunça, ainda zonzo, o corpo dolorido, vendo tudo girando, sem entender
muito bem o que havia acontecido. O que teria dado em mim para me meter naquela
"zorra trio-eletrizada"? Ainda com as ideias confusas, percebi que
havia perdido os óculos! Meu Deus, quem vai entrar numa bagunça daquela usando
óculos? A carteira, contendo uns trocados
e uns documentos, tomaram "chá de sumiço" e notei também, que uma
perna parecia mais curta do que a outra quando eu tentava andar, o que ficou
esclarecido quando vi que somente um pé estava calçado. O outro pé do tênis,
deve ter ficado lá, pulando no meio da multidão.
Traumatizado por esse fato, jurei que nunca mais iria a shows e eventos
barulhentos em praça pública. - Nem arrastado! - dizia eu, quando há alguns
anos, o pessoal de casa me chamou para um mega-show com Elba Ramalho, num São
João da época. Jurei, mas acabei indo, pois iria sair todo mundo, e eu não
queria passar o São João sozinho em casa. Cuidei de ficar a uma distância
segura, numa mesa de bar defronte do palco, porém, longe demais. Mesmo assim,
achei que era melhor assim do que perto da zonzeira geral, muito doida. Eu,
hein?
Mas que lugar seguro que nada, meu irmão!! O bar onde eu estava com a
família, era de esquina, as cadeiras estavam sendo disputadas a tapa, e, minha
cadeira ficava bem na curva da calçada. Cada marmanjo que passava me dava uma
cotovelada nas costas, dizendo: - Dá licença aí, meu tio - Eu, com um copo de
plástico cheio de cerveja na mão, a cada cotovelada apertava o copo e espirrava
a cerveja toda na minha cara e na roupa.
Quando resolvi comer uns amendoins como tira-gosto, foi bem pior! A cada cotovelada, eu engasgava, tossia, e voavam amendoins pra todo lado, inclusive, na cara de quem estivesse na mesa comigo. Além disso, na distância em que estávamos, víamos a Elba Ramalho do tamanho de uma pulga, pulando lá no palco. Voltei pra casa sozinho, deixando a família assistindo o resto do Show. Queriam curtir a festa até o final. Voltei pra casa com as costas doloridas, faminto, com as roupas molhadas e fedendo a cerveja que quase não bebi, e praticamente não vi o show. Ainda tive que aguentar na rua, comentários como esse: - E aí meu tio? Mijou nas calças? Deve ter sido um "programão", hein?








