quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Uma curta história da Avenida Santa Luzia.

                   J. B. Pessoa.

O quadro acima representa a rua em 1954. Era a casa onde João morava e a vizinha moravam Paulo e Aroldo Vieira.

No pequeno vale entre duas colinas, nivelando o Rio das Contas, surgiu uma rua singular, a qual conhecemos como Avenida Santa Luzia. Antigamente, essa área baixa era a estrada natural das grandes boiadas, vindas do Norte de Minas e do Sudoeste Baiano, com destino à cidade de Feira de Santana, onde existia uma grande Feira de gado.

Na ocasião da grande enchente ficou alagada, principalmente na extensão por onde passava um pequeno córrego. Após a catástrofe de 1914, que quase destruiu a cidade de Jequié, aquela estrada de boiadas foi, aos poucos, sendo povoada. No  princípio apareceram as vendas e repouso para atender às necessidades dos boiadeiros, os quais descansavam os seus rebanhos em uma larga área, perto da margem esquerda do rio. A seguir foram construídas as primeiras moradas, pertencentes às famílias mais carentes da região.

A construção das casas, que apareciam na rua, não obedecia a nenhuma regra de planejamento. No princípio era uma rua torta, cujas casas procuravam evitar proximidade com o corrego, que transbordava em dias chuvosos, transformando aquela via em um verdadeiro rio.

A rua começava no largo onde descansavam os animais, o qual foi nominado, tempos depois, de Praça João XXIII e terminando em um lugar, onde havia uma pequena lagoa, denominada de "Lagoa do Cururu", hoje Largo do São Francisco. A rua era larga demais, em algumas partes, e estreita em outras. A partir de um local foi-se estreitando, longamente, até ficar às duas fileiras de casas, perto uma da outra, formando um caminho triangular.

Em meados dos anos de 1920, segundo depoimentos de antigos cidadãos, um senhor afrodescendente, morador da rua, fez uma novena em sua casa, para pagar uma promessa à Santa Luzia, pela saúde restaurada de sua filha, chamada Luzia. Depois da novena, numa festa animada e no calor da animação ele denominou a rua que morava de Rua Santa Luzia, sob aclamação dos diversos vizinhos, que o apoiavam, integralmente.

Com o passar dos anos, Jequié foi progredindo, a rua Santa Luzia crescendo e, aquela parte da cidade, situada na zona oeste, foi modernizada, transformando-se em um bairro periférico, com o nome Joaquim Romão, que  era antigo proprietário daquelas terras. 

Antes disso, outro morador de destaque foi um cidadão conhecido como Manoel Crespo, que por aqui aportou em 1927, construindo várias casas modernas na rua, as quais alugava por um bom preço e, com o lucro ia construindo outras. Essas novas residências foram atraindo moradores da classe média  e a rua foi adquirindo um status mais qualificado.

É interessante notar que,  a Avenida Santa Luzia é a única via importante em Jequié, que não leva o nome de algum político ou pessoa de destaque na história. Quando a rua começou a ficar importante, alguns políticos tentaram mudar o nome, homenageando uma figura qualquer. Foi aí então que o cidadão afrodescendente, chamado  Domingos Nery de Santana entrou na disputa. O Seu Domingos protestou, brigou, quebrou placas com o nome dos pretendentes. Fez novenas e apelou para padres e pessoas importantes, para conservar o nome da Santa. Graças à sua persistência e apoio popular, o nome "Rua Santa Luzia" foi mantido.

Até o início dos anos 60, a rua continuou sendo o caminho natural das boiadas, quando essa condução passou a ser substituída por carretas adequadas ao transporte. Nessa época, às rodovias federais já haviam sido asfaltadas.

Em 1953, os moradores do Bairro Joaquim Romão fundaram um clube social denominado "Clube dos Cadetes", o qual ficava de esquina com a atual Avenida Rio Branco, no setor oeste da cidade, na parte onde, atualmente, está localizado um luxuoso hotel. Logo depois apareceram um pequeno número de estabelecimentos comerciais, que deram mais categoria à rua.

As festas no Clube dos Cadetes ficaram famosas; em seguida, pessoas de outros bairros tornaram-se sócios daquela singela agremiação. Não tardou muito e logo apareceram os afamados "pés de valsa", a exemplo do folclórico Zé das Moças, o bem amado das garotas casadoiras daquela época.

No ano de 1965, na gestão do prefeito Daniel Andrade, a rua que era torta e irregular sofreu uma grande reforma. O córrego foi canalizado e várias casas foram derrubadas, para construir outras, alinhadas metricamente, a rua, que ganhou um moderno sistema de esgotos. Além disso, foi calçada com pedras paralelepípodais, ganhando o status de avenida.

No final dos anos 90, a Avenida Santa Luzia foi novamente reformada, ganhando duas pistas asfaltadas, com canteiros entre elas e arborizada.

 Tendo a sua trajetória começada na Avenida Lomanto Júnior, atravessando a Avenida Rio Branco e sendo uma via de comunicação entre a rodoviária e a famosa "feirinha", a Avenida Santa Luzia tornou-se uma via residencial e comercial, sendo bastante movimentada, tendo os seus bares frequentados por notívagos e diurnais de toda a cidade. Recentemente, essa grande via foi, novamente, reformada com exuberância pelo atual prefeito Zenildo Brandão Santana, mais conhecido como "Zé Cocá", dando encanto e formosura à famosa avenida, trazendo alegrias e satisfações para seus felizes moradores.

Como é uma autovia importante, próxima e posicionada, paralelamente, com a área central da cidade, o futuro da Avenida Santa Luzia é promissor. Está destinada a  se tornar uma bela avenida,  altamente acessível à especulação imobiliária, com imóveis de alto padrão e lojas conceituais, transformando o ato de morar ou passear em um evento de sofisticação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário