sexta-feira, 10 de outubro de 2025

ABRIDORES DE LATAS "SUI GENERIS"

                                                    Por Carlos Eden Meira

Houve uma época em que não tínhamos lá na casa onde eu nasci, nem na casa do meu avô, onde moro hoje, nenhum recurso moderno para guardar alimentos. Usava-se naquele tempo, um compartimento da casa chamado "despensa" onde eram guardados os alimentos como toucinho salgado para conservar, manteiga de garrafa, carne do sol também salgada, ovos guardados num pequeno depósito, e mergulhados em farinha, para diminuir o risco de ficar podre.

Havia também o "guarda-comida" que era uma despensa móvel. Era um pequeno armário de madeira, com uma tela de arame trançado bem fino, para evitar a presença de ratos. Alí eram guardados os alimentos de uso diário, pois, sem geladeira, esse era o único recurso. A carne fresca era comprada diariamente nos açougues. Verduras, frutas e algumas hortaliças eram compradas na feira semanal e consumidas o mais breve possível. O leite era comprado diariamente em garrafas vendidas na porta  e fervido. Era também, para ser consumido em no máximo uns três dias.

A maioria desses alimentos era preparada num fogão a lenha, pois, nem se sonhava em ter um fogão a gás,  assim como não havia geladeira. E não quero dizer que não existia geladeira, fogão a gás e outros utensílios domésticos em outras residências. O caso é que meu avô, nascido e criado numa fazenda da família, não precisava de recursos modernos para preservar alimentos. Por isso, trazia para a cidade a mesma forma de preservar alimentos  que utilizava na fazenda.

Mas, o mais interessante, era a maneira utilizada para abrir latas. As latas de extrato de tomate eram abertas ralando a lata no chão de cimento áspero até desgastar a parte de cima da tampa. Isso levava uns dez minutos ou mais, até a tampa se soltar. Latas de doces e de sardinha  abriam-se com uma faca de ponta tipo "peixeira" encostada na borda da lata e golpeada com um cepo de madeira, até a tampa sair. Nós crianças achávamos aquilo muito correto. Mas, quando íamos numa vendinha comprar qualquer alimento enlatado, o balconista pegava um abridor, e, tranquilamente, abria a bendita lata. Esse processo levava menos de um minuto. Ficávamos boquiabertos, sem entender porque em nossas casas não tinha abridor.

Somente anos mais tarde, meus irmãos mais velhos começaram a entender que aquele processo rudimentar de preservar alimentos e abrir latas, tinha que acabar. Então, quando meu avô  morreu, passamos a ter geladeira, fogão a gás, abridores de garrafa, e, é claro, abridores de lata. Mas, meu avô tinha seus óbvios motivos para não precisar utilizar esses meios modernos. Na fazenda, ele fabricava requeijão, e um tipo  de queijo que era muito  procurado pelos italianos daqui de Jequié. Meu avô, Martiniano Meira Neto era um homem empreendedor. Construiu açudes que beneficiaram muita gente da região de Boa Nova, onde fica a sede da fazenda, hoje  pertencente aos seus herdeiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário