Por Carlos Eden Meira
Houve
uma época em que não tínhamos lá na casa onde eu nasci, nem na casa do meu avô,
onde moro hoje, nenhum recurso moderno para guardar alimentos. Usava-se naquele
tempo, um compartimento da casa chamado "despensa" onde eram
guardados os alimentos como toucinho salgado para conservar, manteiga de
garrafa, carne do sol também salgada, ovos guardados num pequeno depósito, e
mergulhados em farinha, para diminuir o risco de ficar podre.
Havia também o
"guarda-comida" que era uma despensa móvel. Era um pequeno armário de
madeira, com uma tela de arame trançado bem fino, para evitar a presença de
ratos. Alí eram guardados os alimentos de uso diário, pois, sem geladeira, esse
era o único recurso. A carne fresca era comprada diariamente nos açougues.
Verduras, frutas e algumas hortaliças eram compradas na feira semanal e
consumidas o mais breve possível. O leite era comprado diariamente em garrafas
vendidas na porta e fervido. Era também, para ser consumido em no máximo
uns três dias.
A maioria desses alimentos era
preparada num fogão a lenha, pois, nem se sonhava em ter um fogão a gás,
assim como não havia geladeira. E não quero dizer que não existia geladeira,
fogão a gás e outros utensílios domésticos em outras residências. O caso é que
meu avô, nascido e criado numa fazenda da família, não precisava de recursos
modernos para preservar alimentos. Por isso, trazia para a cidade a mesma forma
de preservar alimentos que utilizava na fazenda.
Mas, o mais interessante, era a
maneira utilizada para abrir latas. As latas de extrato de tomate eram abertas
ralando a lata no chão de cimento áspero até desgastar a parte de cima da
tampa. Isso levava uns dez minutos ou mais, até a tampa se soltar. Latas de
doces e de sardinha abriam-se com uma faca de ponta tipo
"peixeira" encostada na borda da lata e golpeada com um cepo de
madeira, até a tampa sair. Nós crianças achávamos aquilo muito correto. Mas,
quando íamos numa vendinha comprar qualquer alimento enlatado, o balconista
pegava um abridor, e, tranquilamente, abria a bendita lata. Esse processo
levava menos de um minuto. Ficávamos boquiabertos, sem entender porque em
nossas casas não tinha abridor.
Somente anos mais tarde, meus irmãos mais velhos começaram a entender que aquele processo rudimentar de preservar alimentos e abrir latas, tinha que acabar. Então, quando meu avô morreu, passamos a ter geladeira, fogão a gás, abridores de garrafa, e, é claro, abridores de lata. Mas, meu avô tinha seus óbvios motivos para não precisar utilizar esses meios modernos. Na fazenda, ele fabricava requeijão, e um tipo de queijo que era muito procurado pelos italianos daqui de Jequié. Meu avô, Martiniano Meira Neto era um homem empreendedor. Construiu açudes que beneficiaram muita gente da região de Boa Nova, onde fica a sede da fazenda, hoje pertencente aos seus herdeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário