Por Carlos Eden Meira
Em princípios dos anos 50, o
psiquiatra, escritor e filósofo alemão Fredric Wertham mudou-se
para os Estados Unidos, onde publicou o polêmico livro A SEDUÇÃO DOS INOCENTES.
Aqui no Brasil foi publicada em
capítulos na revista "Seleções do Reader Digest", com tradução do
jornalista e político de direita, Carlos Lacerda, provocando uma espécie de
pânico entre pais e professores, pois, o tal livro dizia que as Histórias em
Quadrinhos eram prejudiciais à formação moral e cultural de crianças e
adolescentes.
Nos EUA, o livro tomou
conotações políticas, afirmando que as Histórias em Quadrinhos eram coisa de
comunistas tentando despertar a sexualidade dos jovens prematuramente, ao usar
personagens femininas com roupas provocantes. Sheena, Nioka, Mulher Maravilha e
outras apareciam nas HQs de pernas nuas, corpos esculturais e provocantes, o
que na visão de Wertham seria a decadência da moral estadunidense através das
HQs.
O mais incrível nisso tudo é
que aqui no Brasil, alguns esquerdistas afirmavam tratar-se de uma imposição da
cultura dos EUA, em detrimento da nossa cultura. Mas prevaleceu a afirmação de
Wertham, e as HQs passaram a ser proibidas com veemência por pais e professores
como se fossem drogas. Entretanto, as editoras apelaram para o livre
direito de expressão, ainda que passassem a publicar HQs infantis como as da
Warner e as da Disney. Mas muitas revistinhas de super-heróis e de terror
continuaram a vender ainda mais, depois dessa proibição, tanto aqui no Brasil
como nos EUA.
Meu pai, colecionador da revista Seleções, era admirador de Carlos Lacerda e leu todo o livro de Wertham em capítulos traduzidos pelo jornalista. Lembro de ver meu pai rasgando as revistas em quadrinhos de meu irmão Raymundo. O interessante era que ele lia o título na capa, e rasgava as revistas sem sequer olhar as historinhas. Eu cuidei de pegar meu pequeno caixote com as minhas revistas, e escondi debaixo da minha cama. Atualmente, as HQs viraram uma coisa "cult". São compradas via internet por colecionadores e quase não existem nas bancas. Alguns álbuns mais caros são vendidos em livrarias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário