sexta-feira, 15 de agosto de 2025

O RADIALISTA

                                            Carlos Eden Meira

Pouca gente sabe que já fui radialista. Aos dezesseis anos fiz um concurso aberto pela "Rádio Bahiana de Jequié", para locutores e operadores de som.

O ano era 1964, minha voz já tinha o timbre suficiente para locutor, portanto, passei a ler em voz alta, os noticiários e textos comerciais dos jornais do meu pai. O pessoal de casa ficava intrigado com essas leituras, e me questionava. Só então, expliquei que iria participar do concurso da rádio. Havia vaga para um locutor, no entanto, durante o teste, Marivaldo Galvão que era um meu ex-colega de escola no primário foi aprovado no teste. Aconteceu que o diretor artístico da rádio Geraldo Teixeira gostou da minha locução para noticiários ficando assim, dois locutores aprovados.

Os veteranos Ary Santana, Aldo Porto, Eutímio Almeida, José Mariano e outros, já tinham seus nomes reconhecidos pelos ouvintes. Humberto Roosevelt, por exemplo tinha o seu já famoso programa "Ritmos da Juventude" que era levado ao ar às 17 horas. Antônio Falcão e Tomé de Souza eram operadores de som veteranos, no entanto, Pedro Augusto Espinheira era um dos calouros na sonoplastia. Foi aprovado na mesma época em que eu e Marivaldo fizemos o nosso teste na locução.

Os novatos sofriam "trotes" dos veteranos sonoplastas que às vezes desligavam o som da cabine de locução, deixando rolar uma música ou um comercial qualquer. As cabines eram separadas por um grande vidro pelo qual nos comunicávamos por sinais. Na cabine de locução havia na frente do locutor, logo acima do vidro, as palavras "NO AR" com letras luminosas em vermelho. Significando que o locutor podia ler ao microfone, as publicidades impressas num caderninho sobre a bancada.

Os novatos não tinham programação nem horários definidos. Podiam trabalhar substituindo um locutor que faltasse durante o dia. Eu e Pedro Augusto trabalhávamos no período noturno, até o encerramento à meia-noite. Pedro Augusto ligava num telefone (pasmem), daqueles antiquissimos, pendurado na parede, por onde tinha que gritar encostando a boca num tubo com uma mão segurando o fone, e a outra mão girando uma manivela. Essa ligação era mandar a torre tirar a rádio do ar. Essa bendita torre ficava num local distante da sede da rádio. Era muito engraçado, Pedro Augusto gritando “já tirou do ar”? Já tirou do ar?

Essa gritaria era repetida umas seis vezes, até alguém atender. Eu fui vítima de um acontecimento deprimente, quando estava ao microfone num período vespertino, substituindo Aldo Porto. Era justamente quando eu encerrava meu expediente, e iria anunciar "A Hora do Angelus" com quem? Com Geraldo Teixeira! No exato momento em que eu abri a boca, uma muriçoca entrou-me boca adentro, fazendo-me tossir. O microfone estava aberto pra mim, é claro e quem estava na sonoplastia? O veterano Antônio Falcão que se acabou de tanto rir. Aplicou-me um trote, mas levou uma bronca de Geraldo Teixeira.

Permaneci na rádio por menos de um ano, pois, meu pai me proibiu de ficar até meia-noite, já que eu era menor de idade.

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