sábado, 16 de agosto de 2025

A FEIRA NO PORTA-MALAS

                                          Carlos Eden Meira


Estávamos num bar que existia na Praça Ruy Barbosa, cujo proprietário era "Seu Kennedy", que achávamos parecido com o falecido presidente dos EUA, assassinado em 1963. Na mesa, onde estávamos, obviamente como sempre, bebendo cerveja e tocando violão, fomos abordados por um cidadão fã de uma farra de fim de semana, e que não aguentava ver aquele violão ali sem que nos pedisse pra tocar algum samba-canção de Nelson Gonçalves ou um bolerão qualquer. Dos boleros até gostávamos, mas samba-canção não era nossa praia. Era mais de meia-noite, quando "Seu Kennedy" nos pediu educadamente, licença para ele fechar o estabelecimento, o que prontamente atendemos.

O rapaz que não conhecíamos, ao perceber que a farra ia terminar, protestou:

-Poxa, agora que tava ficando bom! Eu tô com um carro aqui na porta. Vocês não querem vir comigo? Eu moro na Cidade Nova, e lá a gente continua a festa em algum outro bar. E aí? Vamos nessa?

Ficamos assim meio cabreiros com aquele convite, mas, todos nós já devidamente alcoolizados topamos o convite. Quando o carro em movimento deu um primeiro solavanco, percebemos um barulho na parte traseira do veículo. O rapaz, ao volante, teve um sobressalto repentino e gritou:

-Vixe! Agora que me lembrei! Esse barulho aí é a feira lá de casa que eu esqueci de levar mais cedo! E agora?

Não tínhamos nenhuma sugestão a dar, pois, como o cara ia chegar em casa àquela hora pra entregar a feira? A solução foi a mais viável possível. Retiramos a feira do porta-malas, e fizemos uma "montanha" de pacotes, encostados na porta da casa.

-A minha mulher vai virar no cabrunco quando encontrar essa feira aí. Vamos bater na porta e correr pro carro. Dito e feito! O cara bateu na porta, e, quando a mulher abriu, a feira desabou porta adentro. Só ouvíamos os berros da senhora xingando o marido de todos os palavrões cabíveis, enquanto corríamos todos para o carro, e fomos procurar um bar aberto. E tome-lhe violão e cerveja, até o sol raiar... Éramos todos uns irresponsáveis!

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