J. B. Pessoa
Maria
Celeste era uma moça ditosa.
Apesar
de pertencer a uma família de poucos recursos, sempre encarou a vida com
coragem e otimismo, nunca deixando que as desventuras existenciais, abatessem o
seu ânimo, impedindo de atingir seus objetivos. Começou a trabalhar muito cedo,
carregando marmitas para restaurantes e engraxando sapatos para a vizinhança.
Tinha seus próprios rendimentos para comprar as coisas que necessitava e se
sentia orgulhosa em ajudar a família nas despesas mensais. Aos treze anos
arranjou um emprego num armarinho, o qual tinha como balconistas os filhos do
comerciante, conhecendo com eles o gosto amargo do assédio. Conservando-se pura
e recatada, a menina reprimia as ousadias com elegância e diplomacia. Deixando
um emprego e conseguindo outro, estudando a noite e trabalhando durante o dia,
conseguiu graduar-se, com distinção, em professora na Escola Normal do
Instituto de Educação Régis Pacheco, sendo considerada a mais bela normalista
daquele ano, que o homem pisou na Lua.
Celeste
gostava muito de festas, principalmente as que aconteciam nos clubes sociais de
sua cidade. Era uma excelente dançarina e ia aos bailes, soberbamente vestida.
Os modelos que usava eram criados e confeccionados por ela mesma. Muito
educada, ela era estimada por todos que a conhecia. Morena cor de jambo e olhos
esverdeados tinha uma pele macia e delicada. Alta e elegante, com um corpo
escultural, chamavam a atenção dos rapazes por onde passava. Seu rosto belo e
mimoso despertava paixões nos jovens, sendo bastante cortejada em todas as
reuniões sociais que frequentava.
Havia
certo indivíduo na sociedade jequieense, que assediava Celeste constantemente.
Pretendia seduzir a moça e a exibir como troféu aos estroinas da cidade.
Pertencente a umas das oligarquias da região, tinha fama de ser um conquistador
inveterado. Era um sujeito alto, forte, de aparência razoável e metido a
bacana. Andava pela casa dos trinta e sua performance era verdadeiramente
anacrônica para a época. Tinha cabelos escuros e lisos, penteados
cuidadosamente com brilhantina e um vasto bigode, que lhe dava um efeito
totalmente singular. Andava bem vestido com roupas feitas à medida; porém, o
seu gosto pela moda parou na década anterior. Seu nome completo era José Epaminondas
Garcia e Silva, mas era conhecido pelo apelido de Pepe Marreta. Seu maior
orgulho, além de sua vasta cabeleira, era o seu DKV-Vemag de quatro portas, de
cor vermelha, que ele exibia pelos quatro cantos da cidade. A sua ocupação
predileta era a boemia e a libertinagem.
O
sujeito se considerava uma verdadeira maravilha. Apoiado por um batalhão de
bajuladores ao seu lado, afirmava ter deflorado 32 meninas e todas elas
apaixonadíssimas por ele. Às vezes, quando um pai ou irmão se atrevia tomar
alguma satisfação, era por ele surrado. Pois além de forte, Pepe Marreta
praticava a nobre arte do pugilismo.
Um
belo dia, caminhando alegre em direção ao Grupo Escolar Castro Alves, onde
passou lecionar depois de formada, Celeste foi abordada por Pepe que, usando galanteios
piegas, lhe ofereceu uma carona. Celeste detestava o sujeito. Tinha verdadeira
aversão pelas coisas que ele dizia e fazia, principalmente pelas músicas que
ouvia. Pepe era o oposto de tudo que ela considerava como uma pessoa refinada.
-
Vamos menina, é só uma carona! – Insistiu ele com uma voz adocicada e lançando
para a garota o seu olhar de galã hispânico, disse sorrindo:
– Uma
boneca como você não deve andar a pé. Isso é até um pecado!... Olha, cuidado
com o lobo mau!
Celeste
considerava Pepe um verdadeiro imbecil. Apesar dos galanteios bizarros do
sujeito, ela disse gentilmente:
-
Agradeço-lhe o convite, porém já estou perto da escola, não havendo necessidade
disso!
O
malandro olhou a garota com descontentamento e fingindo tristeza, disse a seguir:
- Oh!
Que pena! Quando você precisar é só pedir! Sou seu escravo!... Olha que nós nos
conhecemos desde que você era apenas uma menininha!
A
garota esboçou um sorriso e disse dissimulando a sua antipatia:
- Sei
que posso contar com a sua pessoa!
Celeste
nunca havia se esquecido do assédio daquele sujeito, durante toda a sua
adolescência. Ela ainda se lembrava do medo que sentia do malandro e de sua
raiva pelo desrespeito à sua pessoa. Respirando aliviada depois que Pepe foi
embora, a moça entrou na escola, um pouco preocupada, sentindo que novo
assédio, iria ocorrer seguidamente.
Depois
que o sujeito se despediu da garota, dirigiu-se para um bar chamado White Star,
que ficava perto da escola. Era um bar famoso, muito frequentado pela boemia
local. A maioria era de gente decente, como comerciários, estudantes e
operários; havendo, também, alguns velhacos e libertinos, que faziam daquele
estabelecimento o seu ponto predileto. Ali chegando o sujeito foi logo abordado
e entrevistado pelos malandros que estavam à espreita, desde que o famoso Pepe
Marreta abordou aquela garota maravilhosa.
Dando
a sua versão do ocorrido, o fanfarrão aproveitou a plateia de desocupados e
despejou um turbilhão de mentiras para aquele grupo de beberrões, que só tinha
uma ocupação na vida: beber e falar da vida alheia!
- A
menina tá na minha! – Disse Pepe Marreta com desdém e, tomando um trago de
conhaque, acrescentou:
- Ela
está temerosa!... Afinal é uma professora e tem um nome a zelar.
- Só
quero saber quando você vai comer ela, cara! – proferiu com cinismo, um sujeito
asqueroso, que se comprazia com o sucesso dos outros.
Pepe
ascendeu um cigarro e, olhando para todos que estavam no bar, disse aparentando
naturalidade:
- Já
marcamos tudo, meu compadre!... Sábado à noite, depois da festa do Tênis, eu a
levo pra Cidade Nova e aí a gente faz a nossa festa particular!
Alguns
rapazes, que se encontravam no bar, sabiam que tudo aquilo era calúnia e
ficaram revoltados com a tamanha patifaria, daquele canalha mentiroso. Porém,
ninguém tinha coragem de dizer coisa alguma, pois os socos de Pepe eram uma
verdadeira marreta, daí o cognome do famigerado cafajeste.
O
patife já havia concebido um ardiloso plano, para comprometer a honra daquela
charmosa moça, que soube resistir às suas investidas amorosas. Ele nunca a
perdoou por tamanha afronta! - “Quem era aquela sujeitinha sem eira e nem
beira, que se atrevia a esnobá-lo”, - pensava ele a todo o momento. A atração
que ele sentia pela garota, foi aos poucos se transformando em rancor e com o
tempo em ódio. Uma antiga colega de Celeste, sofrendo chantagem por parte do
velhaco, foi forçada a ajudá-lo na ocasião.
Naquele
sábado à noite, o Jequié Tênis Clube estava repleto da bonita mocidade
jequieense! Dava-se a impressão, que toda a sociedade local tinha comparecido à
festa, pois todas as mesas tinham sido reservadas. O baile foi animado pela
famosa banda, “Oliveira e seu Conjunto” e o evento resplandecia de um colorido
animador. Tratava-se de uma festa beneficente, coordenada pelos alunos da
quarta série ginasial do Ginásio de Jequié. Celeste estava radiante e era, sem
dúvida, a garota mais bonita do baile! A rapaziada não tirava os olhos dela,
despertando por parte de algumas moças, pouco dotadas de encantos, do nefasto
sentimento de inveja.
Às
duas horas da manhã, quando a festa estava no auge, o malandro colocou em
evidência o seu diabólico plano. Deu sinal para a colega de Celeste que, a
contragosto, foi conversar com ele:
- Não
estou gostando nada dessa situação! Não sei que tipo de peça você quer pegar
nela. Veja bem o que você vai fazer...
-
Deixa de bobagem, menina! Não é nada demais! Confie em mim! - Argumentou o
sujeito, fazendo ar de moço bom!
Depois
de ser orientada no que deveria fazer, a moça foi ao encontro de Celeste e,
fingindo ansiedade, disse-lhe a seguir:
-
Celeste querida! Preciso muito de um favor seu! Meu irmão bebeu demais e está
caído em um bar! Preciso levar ele para casa! Pepe vai comigo de carro até o
local, mas eu não queria ir sozinha com ele! Você poderia me acompanhar?
- A
garota franziu a testa e proferiu preocupada:
- Mas
logo com esse cara?!... Não tem outra pessoa?
-
Infelizmente não. Foi o único rapaz que se prontificou a me ajudar!
Celeste
ficou bastante contrariada com a situação; mas, como não era incapaz de negar
ajuda a alguém, não viu outra solução. E, apesar da companhia do detestável
sujeito, foi com a amiga em socorro do irmão.
Logo
que viu a sua vítima, o malandro sorriu simpaticamente, tecendo largos elogios
à moça. Celeste o cumprimentou com um sorriso frio e os três entraram no carro
com destino ao bairro do Jequiezinho. Celeste sentou no banco da frente com
Pepe, após a insistência do sujeito.
Quando
deu a partida, o malandro percebeu os olhares das pessoas que estavam por perto
e sorriu satisfeito. O seu plano corria ás mil maravilhas. Entrou com o seu
carro na Avenida Rio Branco e foi até ao White Star Bar, com a desculpa de
comprar um maço de cigarros. Os vagabundos de plantão sorriram, maliciosamente,
quando Pepe piscou para eles, esboçando um largo sorriso. O carro seguiu depois
para seu destino à procura de um inexistente bêbado, que não se encontrava em
parte alguma. A busca já havia demorado mais de uma hora, como estava previsto
no infame plano, quando a irmã do garoto veio com a informação, de que o bêbado
já se encontrava em casa dormindo. A moça pediu ao sujeito que a levasse para
casa, pois precisava ver o irmão para saber de sua saúde. Pepe levou a moça até
a sua casa que, convenientemente, morava no Jequiezinho, perto de onde eles se
encontravam. Esse fato implicou em Celeste voltar para a festa, tendo somente a
companhia do famigerado Pepe Marreta.
- Você
vai me deixar sozinha com esse sujeito?! - Perguntou indignada a garota,
preocupada com a sua situação.
- Não
se preocupe meu anjo! Pepe é um rapaz de respeito! Ele levará você até a festa,
que deve estar um barato nesse momento!
Celeste
voltou com Pepe Marreta, que sorria satisfeito, dizendo a moça do apreço que
ele lhe tinha e que ela poderia considerá-lo como verdadeiro amigo. Na volta para
o clube, o sujeito fez questão de passar novamente no White Star Bar para
esnobar entre os presentes, a pretensa conquista. Quando Celeste entrou no
clube, na companhia do sujeito, notou os olhares inquisidores das pessoas ali
presentes. Ficou um pouco preocupada com as possíveis fofocas, porém bastante
aliviada por se ver livre de tão pegajoso individuo.
A
festa corria às mil maravilhas, com muita gente dançando ao som de Oliveira,
que na época estava na sua melhor fase. Celeste foi ao encontro de sua turma e
explicou o motivo de sua demora. Pepe permaneceu no salão por pouco tempo e,
logo depois, deixou a festa, indo ao encontro de seus camaradas, para relatar à
sua canalhice. O plano para comprometer a reputação de Celeste, tinha dado
certo, nos mínimos detalhes.
No
domingo pela manhã, a notícia correu de boca em boca: “Pepe Marreta comeu
Celeste!” Chuvas de telefonemas para todos os rapazes da cidade, contando a
grande novidade, dando um trabalho extra para as telefonistas da Companhia de
Telefone de Jequié. Parecia, afinal, haver caído o último baluarte da virtude,
após tenaz resistência de uma heroína, que aos poucos foi desfalecendo sob o
jugo de tão poderoso opressor! A ninguém parecia tratar-se de uma grande
mentira! Dir-se-ia que, as pessoas têm uma vocação natural para crer nos
fracassos do próximo e nunca em suas vitórias. Como sempre acontece, o ocorrido
tomou feições mais dramáticas, devido à força das fofocas, principalmente, das
comadres zelosas da moral e dos bons costumes! Uma delas sugeriu, que a moça
fosse expulsa da escola e barrada no clube, devido à má influência exercida por
ela à juventude jequieense!
Naquele
domingo, Celeste acordou mais tarde do que o costume. Afinal chegou a sua casa
pela madrugada, após o final da festa, a qual foi bastante divertida. Dormiu
até ao meio dia, quando foi despertada por sua mãe, a qual relatou o boato que
afetava a sua honra. A moça ficou bastante
nervosa
com aquela situação e, aos prantos, explicou todo o ocorrido, pedindo perdão à
sua família por tamanha ingenuidade. Sua mãe foi bastante compreensiva e a moça
foi totalmente apoiada por seus familiares, solicitando-a que deixasse as
coisas como estavam! Afinal, dizia sua mãe: “A mentira tem pernas curtas”.
Mesmo assim, a moça foi acometida de uma pequena febre nervosa e teve que ser
atendida pelo Doutor Nilton Pinto de Araújo, um médico amigo de seu falecido
pai, pedindo que ela ficasse de repouso por três dias.
Na
manhã seguinte, Celeste pensou em tudo que poderia fazer para reverter à
situação. Depois de muito refletir, achou melhor fazer uso de um provérbio
popular, que diz: “Bem ou mal, mas fale de mim!” Porém, descartou logo a ideia,
pois não possuía cinismo bastante para isso! Mais tarde lembrou-se de outro
ditado: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido!” E calmamente começou a
arquitetar a sua vingança!
Naquela
terça-feira, a moça acordou mais animada, pretendendo ir logo à desforra, pois
não era uma pessoa que se deixasse abater pelos infortúnios existenciais do
cotidiano. Chegando à escola cumprimentou todas as colegas com o seu sorriso de
sempre e evitou conversar sobre o assunto, dando satisfação somente às pessoas
de sua inteira consideração.
Havia
nessa escola, um grupo de professoras, as quais eram as mais famosas boateiras
da cidade. Esse grupo era liderado por uma solteirona, que era temida por
todos, devido á sua língua ferina! Celeste sabia que entre dois boatos, o mais
escabroso prevaleceria e colocou logo em ação, com o seu ardiloso plano! Para
que isso acontecesse, aproximou-se daquelas fofoqueiras e, com sutileza puxou
conversa com elas, falando sobre amenidades. Depois de algum tempo, uma delas
perguntou de sobressalto:
-
Então Celeste!...Quando será o casamento!
- Que
casamento menina? – Perguntou, fingindo espanto. As professoras entreolharam-se
com sorrisos maliciosos, e uma delas disse a seguir:
- Ora
essa! Com Pepe!... Afinal ele “tirou você de casa!” Não é verdade?
- Sim,
certa forma!... Porém não quero me casar com ele!
- Por
que não?!... Você não gosta dele?
- Eu
gostava dele! Mas a decepção que tive, mata qualquer amor!... A minha tão
sonhada primeira vez foi um fracasso total!
- Como
assim?!... O que foi que aconteceu?! – Interrogou uma das professoras, bastante
excitada, prevendo o reboliço que iria acontecer.
Celeste
olhou para elas com cara de choro e, demonstrando uma grande tristeza, pediu em
tom conspiratório:
-
Vocês prometem não contar isso a ninguém?
-
Claro que prometemos!... Não somos fofoqueiras!... Pode confiar na gente!
A
garota deu um profundo suspiro e fingindo uma grande mágoa, começou a relatar o
suposto acontecimento, daquele fatídico sábado.
-
Sabe!... É que ele tem hábitos estranhos...
- Como
assim? – Perguntaram as três professoras de uma só vez!
A moça
elaborou uma furtiva lágrima e, com uma voz rouca, denotando um profundo
desgosto, disse baixinho:
- É
que ele gosta de introduzir objetos em seu anus!
-
Verdade?!... Nossa! Dê-nos mais detalhes, menina! Essa história está ficando
muito interes... Digo séria! – Expos a solteirona escondendo o sorriso!
Celeste
suspirou novamente e, fingindo estar mais calma, relatou os supostos
acontecimentos, os quais, indubitavelmente, ela seria a grande vítima. À medida
que ia narrando, as professoras arregalavam mais os olhos, diante de tamanha
revelação.
A
garota, sentindo a atenção das professoras, deu mais ênfase a sua estória:
- É
que ele precisa dessas coisas para atingir a ereção! A princípio foi só uma
vela normal. Como ele não estava conseguindo nada foi aumentando o tamanho e a
grossura delas! A cada tentativa, eu ficava mais assustada com tudo aquilo! De
repente ele ficou nervoso por não
conseguir,
foi até a cozinha e trouxe o maior pepino que eu já vi e disse para mim: “Este
aqui é bom, parece de verdade” e introduziu tudo nele!... Só assim ele
conseguiu! E quando quis me possuir, foi acometido de uma súbita ejaculação
precoce!... Fiquei bastante triste! Ele me disse, pra não contar a ninguém e
que na próxima vez, a coisa iria ser diferente!
- Ora
essa!... Quem diria!... Pepe Marreta gosta de tomar no...
- O
que é isso mulher?!... Não tem vergonha? – Disse a solteirona tapando a boca da
colega com a mão e ao mesmo tempo tentando controlar a gargalhada, que acabou
tomando conta das três! A seguir uma delas pergunta a Celeste:
-
Menina!... Quer dizer que você saiu dessa aventura, totalmente invicta?!
- Sim!
Estou bastante triste com isso, pois eu gostava muito dele!
- Ora,
não se preocupe com isso! Você é uma garota muito bonita e não vão faltar
rapazes para você! Espere um pouco e logo estará gostando de outro! Depois de
relatar tudo, conforme o seu plano, Celeste despediu-se das colegas e foi ter
com seus alunos, dando início à sua aula, esperando o rolar dos acontecimentos.
Como ela previra, o boato correu de boca em boca, rapidamente, como um rastilho
de pólvora e, na noite daquela terça-feira, nos principais bares e botequins da
cidade, o assunto era o mesmo: “Pepe, a marreta caída!” A maioria dos boêmios
jequieense não gostava daquele sujeito “metido a besta” e aumentavam,
maliciosamente a noticia, dando uma conotação mais picante! No White Star Bar,
também conhecido como o bar do Tõe, o assunto não era diferente:
- Pepe
Marreta!... Gilete?! – Perguntou alguém.
-
Gilete uma ova, o sacana é bichona mesmo! – Respondeu outro,
-
Aquele cara nunca me enganou! Aquele bigodão era só para disfarçar. Eu soube
que desde pequeno ele gosta da coisa! Seu apelido era “Pepita, a Santa” e dava
pra todo o mundo no Ginásio do Padre! – Comentou outro rapaz, que nutria um
ódio mortal por Pepe, desde que ele inventou certo boato e sua irmã ficou
falada em toda a cidade. Naquele momento, aproveitou a oportunidade para dar o
troco no sujeito.
O
tempo foi passando, a notícia se espalhando e o boato sendo aumentado! A
princípio o sujeito tentou reagir àquela “ignóbil calúnia”, distribuindo socos
e pontapés em todos os caçoadores que ele encontrava em seu caminho. Pepe não
podia compreender como um boato desses tivesse tamanha repercussão. E jamais
poderia imaginar que a meiga Celeste tivesse alguma coisa com isso. Nos dias
que foram sucedendo os acontecimentos, o sujeito foi acometido de uma terrível
paranoia. Via inimigos em toda a parte e acabou achando que era coisa da
ditadura militar, que vitimava a democracia, naquele período da vida
brasileira.
Numa
noite calorenta de sábado, perto do fim do ano, a rapaziada bebia alegremente
no White Star, que estava repleto de estudantes comemorando o final do ano
letivo. Na ocasião, Pepe Marreta estacionou seu carro na porta do bar e entrou
olhando para todos com cara de mau. Já bastante embriagado, pediu uma “batida
de limão”, tomando todo o copo de um trago só. De repente, sem que nada o
provocasse, bateu com violência no balcão, gritando em alto e bom som:
-
Porra!... Nessa merda de cidade não tem homem!
Silêncio
total em todo o recinto! Ninguém se atrevia a contrariar o sujeito que, naquele
momento, parecia uma fera preste a dar o bote! Depois de um curto momento, no
qual, ninguém emitiu qualquer som, um rapaz magrinho, chamado Raimundo Meira,
também embriagado, gritou mais alto ainda:
- Como
é que é, porras?!... Vamos deixar um veado falar mal da gente?
Pepe
quando ouviu aquilo, partiu em direção do rapaz como um touro na arena! Nesse
instante, alguém lhe passou a perna e o sujeito foi cair numa mesa em que
estavam acomodados três irmãos, famosos arruaceiros do Bairro Joaquim Romão! A
briga que se seguiu então foi sangrenta. Os arruaceiros, ajudados por alguns
estudantes, desferiram uma memorável surra em Pepe Marreta, o qual foi parar no
hospital, bastante machucado! Logo após o final da confusão, alguém chegou ao
bar, vendo tanto alarido, perguntou:
- O
que houve por aqui?!
-
Deram uma surra num veado chato! – Respondeu um bêbado!
Celeste
ficou sabendo de todo o ocorrido. Sua vingança tinha sido totalmente consumada.
Ela sentiu que um capítulo de sua vida tinha chegado ao fim. Saiu da cidade,
progrediu na vida e hoje é uma empresária de sucesso no Rio de Janeiro!
Pepe
Marreta desapareceu! Desmoralizado, foi embora para sempre de Jequié. Algumas
pessoas comentavam que ele havia mudado de nome! Outras diziam que ele havia
morrido de tanto beber! Ninguém sabia, ao certo, do seu distino. Um dia, muito
tempo depois, alguém se recordou dele e fez o seguinte comentário:
- Êta
veado valente, sô!
Esse
Conto foi publicado no site londrino DinalvaArtsFacts, com vários comentários
favoráveis, principalmente em Portugal.
(Esse conto faz parte do livro não publicado “Velhos Tempos Jequie)
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