Jacozinho virou até mosaico no Rei Pelé — Foto: Viviane Leão/GloboEsporte.com
Jacozinho mudou muito. Ganhou dinheiro, perdeu, viu o tempo e a noite destruírem os últimos dias da carreira e disse que chegou a dormir embaixo de uma arquibancada por não ter pra onde ir. Como outros tantos boleiros, viveu dias de glória e desespero no futebol. Ídolo do CSA, ele agora é auxiliar do clube e pastor evangélico. Em entrevista ao GloboEsporte.com, Jacó, de 62 anos, contou que virou a história quando acertou uma garrafada num traficante. O pontinha arisco, habilidoso, driblou a morte no último minuto.
- Eu tava em Imperatriz do Maranhão, já quase em fim da carreira. Depois de um jogo, eu fiz o gol da vitória, gol do título, e eu tava na Praça Mané Garrincha, comemorando, e dali eu tive uma briga com o chefe de drogas lá de Imperatriz. Dei uma garrafada lá no cara. Quando acordei, estava no meu quarto, tranquilo, e não sabia o que tinha acontecido. O pessoal veio e disse: "Jacó, você é doido, você bateu no cara, chefe, e o cara puxou um revólver pra te matar. Nós gritamos que era Jacozinho. O cara disse que era teu fã e por isso que ele não fez nada". Nesse dia, eu disse: vou aceitar Jesus, senão eu vou morrer. Desse dia pra cá, final de 94, pra 95, eu falei para Deus, ajoelhado na cama, que nunca mais eu beberia e que daquele dia em diante eu iria seguir o caminho de Deus - contou Jacó.
Zico e Jacozinho
chegaram a disputar um amistoso em Maceió: muitas histórias — Foto: Reprodução
Facebook
Hoje auxiliar-técnico, o ex-jogador já teve o nome gritado no Rei Pelé, jogou com Zico e Maradona no Maracanã, conquistou títulos e se jogou de cabeça na boêmia. Voltou ao CSA há dois anos, viu o clube renascer e disse que agora vem pregando a palavra de Deus em Alagoas, onde fez as maiores besteiras.
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- De lá pra cá, nunca mais desisti da palavra de Deus. A gente passa por maus momentos, momentos de dificuldade, mas sabe que tem um Deus todo poderoso que está ali guerreando. O mais interessante é que eu aprontei muito aqui em Alagoas, baguncei muito, e é onde Deus me colocou. De volta ao lugar onde eu baguncei, onde eu fiz e aconteci como jogador também. Agora, posso falar de Deus para qualquer pessoa, como tenho feito, como tem muita gente aqui me chamando para ir nas suas casas orar.
Jacozinho é
auxiliar-técnico do CSA e assumiu o time duas vezes em 2018 — Foto: Aílton
Cruz/Gazeta de Alagoas
A consagração como pastor veio em 2017, mas, antes disso, já havia um projeto: segundo ele, antes de chegar em Alagoas, o nome que conquistou como jogador auxiliava a viajar pelo Brasil dando o seu testemunho, pregando em igrejas e "ganhando muitas almas para Deus".
- Quando vim para Alagoas, fiquei um ano morando no campo, numa suíte, e Deus continuou a me usar grandemente. No ano passado, meu pastor lá do Espírito Santo, do ministério Libertar, veio aqui em Maceió com a família e me batizou. Batizou minha esposa e eu. Nós somos pastores. Foi ali na igreja do pastor Ildo, a Casa de Oração. E não paro só nisso: continuo andando muito, indo em muitas igrejas, e tenho rodado Alagoas toda, de igreja em igreja. Eu vou também em colégios, vou falar com os alunos. Fico aqui em aberto pra qualquer pastor, qualquer igreja que queira que eu vá pregar, que eu vá dar testemunho.
Sigo me pegando com Deus, orando a Deus, chorando com Deus e Deus me mostrando o caminho. Deus tem me honrado cada dia mais
Conheça a história de Jacozinho,
figura do futebol brasileiro na década de 1980
Natural de Gararu, em Sergipe, Jacozinho estava em Santa Catarina quando atendeu o chamado de voltar para Maceió. Ele é uma das figuras mais carismáticas do CSA: grava vídeos pedindo o apoio da torcida, brinca nas coletivas de imprensa e é responsável por aconselhar os jogadores com as histórias de sua carreira. O time também tem ótimo retrospecto quando Jacó esteve no comando. Até agora, só ganhou ou empatou.
- Deus tem me consagrado como um grande auxiliar-técnico do time que eu amo, o CSA. Acontecem coisas que eu nem imagino: o técnico vai embora, eu assumo, a gente vai lá e mantém o retrospecto positivo. Nós também estamos pregando lá dentro do Mutange, falando do amor de Deus para conosco. Nós temos ganhado títulos que ninguém acreditava. Mas nós, que somos servos do Senhor, acreditamos. E está aí essa vitória alagoana. Estão aí o Alagoano, a Série C, a Série D. Então isso é indiscutível. É a mão de Deus sobre nós do CSA.
A palavra diz: "Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio?" E no esporte é sempre exigido do atleta. Que ele se esmere, treine, ensaie, tenha garra, força de vontade, etc. Um time apático nunca vence
Jacozinho,
auxiliar, e Marcelo Cabo, treinador do CSA — Foto: Gustavo Henrique/CSA
Sobre o CSA, ele continuou:
- Aqui, nós damos graças a Deus que 90% do grupo são atletas de Cristo, são pessoas que conhecem a palavra e nós estamos ali para pregar a palavra, para dizer a palavra, e nós estamos pregando lá dentro do Mutange, falando do amor de Deus para conosco.
O início
- Fui criado com meus avós e não conhecia a minha mãe. E quando a pessoa é criada pelos avós é assim: mimado, faz de tudo e os avós passam a mão na cabeça. Foi quando eu conheci o futebol e passei a ser jogador. Cresci e vim aqui pro CSA, me tornei famoso e aí minha vida virou de cabeça pra baixo porque eu só queria bebida, nostalgia, mulherada. Eu conheci o repórter Márcio Canuto, que viu que eu era um grande jogador. Ele me chamou, me aconselhou, eu recebi os conselhos dele e comecei a subir na vida profissional. Mas também perdi tudo e depois voltei ao zero, dormi embaixo de uma arquibancada por não ter para onde ir. Fui batizado em 1995 em Pernambuco, depois de Caruaru, em Santa Cruz do Capibaribe, na igreja Batista, e ainda estava jogando. Foi quando deu a virada na minha vida. Eu me tornei um cara consciente, conhecedor da palavra de Deus e me tornei um evangélico, fiel até hoje, como sou. E tudo começou ali.
Em 1987, Jacozinho voltou a Maceió,
emprestado pelo Santa Cruz ao CSA, e foi recebido com festa
O exemplo
- Como é que você pega a confiança desse povo que não conhece Jesus? Pelo seu modo de vida. Quando eu falo o que eu fiz, eles ficam pasmados. Mas eu falo que hoje eu sou um servo de Deus, sou um pastor e tenho vivido como pastor, dando exemplo a muitos que me conheceram aqui. Muitos que me conheceram naquela época triste da minha vida, hoje ficam abismados com a mudança. Alguns já aceitaram Jesus. Quando eu dou uma entrevista, primeiro eu falo do senhor Jesus. Eu agradeço a Deus, porque se não fosse Deus eu não estaria aqui.
O exemplo
- Como é que você pega a confiança desse povo que não conhece Jesus? Pelo seu modo de vida. Quando eu falo o que eu fiz, eles ficam pasmados. Mas eu falo que hoje eu sou um servo de Deus, sou um pastor e tenho vivido como pastor, dando exemplo a muitos que me conheceram aqui. Muitos que me conheceram naquela época triste da minha vida, hoje ficam abismados com a mudança. Alguns já aceitaram Jesus. Quando eu dou uma entrevista, primeiro eu falo do senhor Jesus. Eu agradeço a Deus, porque se não fosse Deus eu não estaria aqui. (GE)
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