terça-feira, 7 de novembro de 2023

Intervenção Urbana. Jussiape: Afluentes de lembranças, encontros no Rio de Contas.


Na manhã de 07/11/2023, o artesão Charles Meira esteve no local com o Museólogo Antônio Varjão.

Apresentação: 

O Programa Narrativas Visuais, realizado pelo SESC/BA, em sua 3ª edição, teve como título “Bahia de Todas as Águas” para que diferentes artistas, localizados em cidades do interior da Bahia, pudessem produzir atividades formativas e intervenções urbanas. No caso de Jequié, Katarine Maria escolheu tratar das memórias do Rio de Contas, pensando nas águas que conduzem a história da cidade e das pessoas. O Rio, que nasce na região da Chapada Diamantina e deságua em Itacaré, se tornou uma lembrança que atravessa as memórias da vida de jequieenses, sendo assim, um lugar onde haviam ribeirinhos, pescadores, lavadeiras e pessoas que usavam da água para subsistência, lazer e cultura no tempo em que essas águas eram limpas.

A artista escolheu o nome “Jussiape” da língua tupi que significa “lugar para onça beber” trazendo uma memória indígena e um significado às águas enquanto intrínseca e essencial à vida. Nesse sentido, a partir da combinação de fotos e poemas intimistas, criou uma poesia visual com imagens e palavras que seguem um fluido movimento das águas, revelando narrativas de uma lembrança boa de quando o Rio de Contas era subsistência e substância da vida de tantas pessoas em Jequié. Foi um percurso de muita escuta, pesquisa social, fruição e criatividade para deixar se embebedar das memórias cultivadas. Teve como grande contribuição uma atividade formativa em que realizou no mês de novembro com mulheres da terceira idade em uma oficina chamada "Cartografia das Memórias Banhadas nas Águas" no SESC de Jequié, além de sua tia avó Darci que a inspirou desde da sua infância, contando do tempo em que brincava na beira do rio. Essa intervenção com arte urbana no muro do Museu Histórico de Jequié é uma exposição a céu aberto. Quem quiser, desfruta da arte e sente que cada poema também pode falar um pouco de si. Como disse Katarine: “Afinal, as águas atravessam nossas histórias. Deixemos nos embebedar, como nos lembra "Jussiape'. Convido todo mundo a conhecer!”

A construção da intervenção urbana em formato de lambes na parede foi finalizada dia 03/11/2023, teve um lançamento dia 04/11/2023 e ficará exposta até metade do mês de dezembro.

Programa Narrativas Visuais:

Em 2023 recebem ações do Narrativas as cidades de Alagoinhas, Barreiras, Feira de Santana, Jequié e Santo Antônio de Jesus, espraiando a ação por distintas regiões do território baiano. Muitos dos artistas envolvidos nesta edição vivem em trânsito entre suas cidades de origem e Salvador, ou mesmo residem em Salvador, devido ao fato de a capital concentrar a produção, as instituições, as galerias e os consumidores. O Narrativas Visuais Sesc Bahia é uma tentativa de romper com essa concentração, é uma proposta de descentralização do circuito de arte, interiorizando as ações, valorizando o artista de cidades pequenas e permitindo acesso de uma parcela do público antes excluída do contato com a produção artística atual.

Escrito por Divino Sobral, Curador do Programa Narrativas Visuais.

Obra:

O interesse da artista volta-se para as memórias do Rio de Contas que atravessa a cidade, inspirada pelas lembranças guardadas pela população (muitas coletadas durante a oficina Cartografia das memórias banhadas nas águas) que revelam um rio que não mais existe, que outrora foi limpo, fonte de sustento, local de trabalho e de lazer, mas que hoje encontra-se poluído, Katarine Maria cria um painel com a junção de fotografias e textos, que funciona como um tipo de poesia visual instalada em contexto urbano.

As fotografias em preto e branco são tomadas de cursos de água presentes em Jequié feitas pela própria artista e sobre elas são aplicados pequenos textos que correm em linhas sinuosas, mimetizando os cursos dos rios e os encontros dos afluentes desaguando em um rio principal, os textos escorrem sobre as paisagens formando uma bacia hidrográfica imaginária constituída por narrativas extraídas das memórias individual e coletiva. As fotografias são editadas de modo que se encaixam criando um tipo de mosaico que forma uma grande cartografia, reinventada como poema visual, associando diretamente palavra e imagem, uma completando, ampliando e potencializando o sentido da outra.

Escrito por Divino Sobral, Curador do Programa Narrativas Visuais.

Katarine Maria:

Natural de Jequié, mas se movimenta em Salvador desde 2019 como estudante de Ciências Sociais na UFBA, com ênfase no bacharelado de Antropologia. Como artista, integrou  a escrita da Antologia Insubordinada, para o Ciclo de Literatura Negra Médio Rio de Contas (2021) e de um Livro Digital Paradidático “Saci” sobre Educação Patrimonial (2022) que estão disponíveis gratuitamente na internet. Possui experiências na escrita acadêmica, poética e criativa, adora escrever sobre o cotidiano e as relações da vida de forma intimista, tendo como referência Elisa Lucinda.

Atualmente, participa do Grupo ObservaBaía, um Observatório de Riscos e Vulnerabilidades Socioambientais da Baía de Todos os Santos, pesquisando na área da Antropologia Visual, com experiências em metodologias qualitativas e quantitativas, assim como faz parte da equipe do Programa Narrativas Visuais 2023, com o SESC-BA, onde ofereceu a oficina “Cartografia das Memórias Banhadas nas Águas” e uma intervenção urbana, chamada “Jussiape: Afluentes de Lembranças, Encontros no Rio de Contas” (2023). Já realizou trabalhos fotográficos e audiovisuais como assistente de direção e imagens, como também na construção de pesquisa, produção e filmagens, em filmes documentais como “Presença Indígena em Jequié” (2021), “Cantigas de Roda: A Trajetória da Mestra Ana Umburana” (2021) e “Ocupar e Resistir: O Coração do Centro Histórico de Salvador” (2023). Participou como Assistente de Fotografia em Cachoeira-BA de um Projeto Foto-Livro Tessituras (2022), financiado pela ProExt UFBA que teve o objetivo de desenvolver um trabalho artístico e antropológico na construção de um livro visual com a comunidade quilombola de São Francisco do Paraguaçu.

Seu interesse é voltado para registros visuais que comuniquem histórias e documentem expressões culturais, sociais e simbólicas, tecendo significados e interpretações sensíveis na imagem. Além disso, se dedica a várias temáticas de estudos enquanto pesquisadora, como gerenciamento de projetos, urbanismo e antropologia urbana, arte e cultura, memória e relações étnicas. Expande suas aprendizagens realizando oficinas e debates. Como artista e pesquisadora, costura sua caminhada entre a arte e a antropologia.

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