quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Falecimento do profº Emerson Pinto de Araújo.

      Charles Meira e o professor Émerson Pinto de Araújo.

Familiares do professor Emerson Pinto de Araujo, comunicaram para este blog seu falecimento ocorrido nesta quarta-feira (22.02.) de Cinzas por volta das 22 horas e 30 minutos. Ele se encontrava em sua residência localizada na Av. Rio Branco em companhia de sua esposa a professora Terezinha Paranhos, com quem conviveu por mais de 60 anos, a causa morte não foi revelado, ela estava enfrentando alguns problemas de saúde, chegando aos 97 anos de idade. Émerson Pinto de Araújo nasceu em 11 de fevereiro de 1926, em Salvador, filho de Manoel Pinto de Araújo e Alice Pinto de Araújo, seus irmãos médicos Nilton Pinto de Araujo e Waldeck Pinto de Araujo atuaram em Jequié por muito tempo, os dois falecidos. Professor por muitos anos do Instituto de Educação Regis Pacheco-IERP onde se aposentou, historiador escrevendo livros sobre a Historia de Jequié. teve uma passagem na politica da Cidade Sol, como vereador sendo presidente da Câmara Municipal de Jequié. Seu corpo deverá ser velado na Loja Maçônica União Beneficente – centro da cidade, ele que participou por muitos anos como maçon. O jornalista Ari Moura editor chefe da Agência AM de Noticias Ltda envia a todos os familiares o pesar pela morte do profº EMERSON PINTO DE ARAUJO. (Ari Moura)

Charles Meira, entrevista o professor Émerson Pinto de Araújo.


1 - Charles Meira: Quando, como e porque o professor Émerson Pinto de Araújo resolveu escrever sobre a história de Jequié?
Émerson Pinto: Quando comecei a ensinar História, notei logo de início que os alunos sabiam quase tudo sobre a Grécia, sabiam quase tudo sobre Napoleão Bonaparte, sobre os Imperadores Romanos, mas quando perguntava: vocês sabem qual foi o primeiro prefeito de Jequié? Não sabiam. Vocês sabem alguma coisa sobre o banditismo em Jequié? Não sabiam. Vocês sabem onde nasce o rio das Contas? Também não sabiam. Então diante disso, assumi comigo mesmo um compromisso de fazer o levantamento da história ou do passado de Jequié. Devo dizer que encontrei uma dificuldade muito grande. Primeiro, porque a enchente de 1914 destruiu muita coisa da documentação que se possuía na época. Segundo, porque mais tarde o acervo do comércio italiano em Jequié, que começou justamente com Rotondano, que mais tarde tudo isso se perdeu, porque quem recebeu isso Benito Grillo passou para uma pessoa e essa pessoa jogou esse acervo num porão e muita coisa se perdeu, o que sobrou foi para a Associação Comercial e depois para Raimundo Meira e hoje está no Museu Histórico de Jequié. Outro aspecto também, quando o Eliezer Souza Santos foi prefeito de Jequié, a prefeitura ficava na Rua Mota Coelho, onde ficava o antigo quartel e ali foi colocado o arquivo morto da prefeitura, aquilo que sobrou da enchente de 1914 e o que veio depois, acontece que os cupins fizeram a festa e se perdeu muita coisa. Algumas famílias também não deram bola para documentação, para os jornais antigos, tudo isso foi rasgado jogado fora. Ouve uma diretora da biblioteca, que numa reforma ela queimou justamente aqueles jornais antigos que nós tínhamos ou deu fim, deu sumiço, dizendo que aquilo era velharia, então veja como a memória de Jequié foi deteriorando. Então aproveitava quando ia a Salvador, naquele tempo era solteiro tinha tempo à vontade, então nas férias ia correr justamente as bibliotecas, os jornais, à redação dos jornais antigos, o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia e assim fui coletando muita coisa que não tinha em Jequié, diante disso, comecei a escrever a História de Jequié. O primeiro livro sobre a da História de Jequié foi pra o alunado, bem resumido. O segundo, já foram aqueles outros subsídios que chegaram a minhas mãos e que fui colocando na imprensa e depois disso reunidos naquele livro Capítulos da História de Jequié que não segue uma ordem cronológica. Por último, conversando com Ivonildo Calheira, naquela ocasião presidente da Academia de Letras de Jequié, disse, olha Calheira, tenho aqui um livro quase pronto, falta editar e é um perfil de Jequié. Como já tinha abordado o problema da História Jequié em dois livros, esse livro tinha mais um cunho sociológico, falava sobre a evolução dos costumes, do início quando Jequié ainda era distrito de Maracás até os dias atuais. Ele abordava também a mudança na família, na crença, na religiosidade, tudo isso. Acontece que pouco depois, a agência do Banco do Nordeste em Jequié que iria completar quarenta e cinco anos, pretendia um livro mais abrangente sobre Jequié, era uma homenagem que iria prestar ao município. O direito autoral já tinha cedido, porque Reinaldo Pinheiro que era o prefeito na ocasião me procurou no meu apartamento em Salvador e entramos em entendimento. E ai tinha que correr contra o tempo, porque aquelas verbas mesmo no banco se não forem usadas em determinado período, elas caem em exercício findo ou ficam em resto a pagar para o próximo ano e interessava ao Banco do Nordeste coincidir a publicação do livro no ano dos quarenta e cinco anos da agência de Jequié. Esse trabalho feito às pressas, e você sabe que a pressa é inimiga da perfeição, então tive que pegar trechos de livros já publicados e arrumei aquilo da melhor maneira possível para sair à Nova História de Jequié. O livro foi datilografado por mim, então a prefeitura teve que adaptar justamente isso para fazer a digitação, infelizmente à digitação também correndo ouve vários erros. Eu fiz a primeira revisão e disse que antes da impressão mandasse para Salvador para fazer a revisão final. Mas o livro foi encaminhado para a editora sem a segunda revisão e saiu com um bocado de erros, até erros de concordância e várias outras coisas, em linhas gerais se resume nisso ai.

2 - Charles Meira: A música faz parte da vida do escritor Émerson Pinto?
Émerson Pinto: Faz e muito. Tanto gosto da música erudita como da popular. Na música erudita os meus compositores prediletos são: Bach, Mozart e naturalmente Beethoven, que gosto de ouvir no meu momento de descanso, e às vezes no trabalho, porque se for cantada, eu vou prestar atenção e atrapalha tudo. Gosto também da musica popular, da boa música popular, por que a música não tem idade. Devo dizer, que na minha infância ainda prevalecia muito às serenatas, às serestas, e fiquei muito ligado nelas. Na primeira vez que fui ao Rio de Janeiro em 1950, me hospedei no Hotel Serrador e na ocasião conheci cantor Silvio Caldas que também era hospede e cantava na boate night Day, que ficava no ultimo andar do edifício. Ele tinha uma voz espetacular. Considero Silvio Caldas, Orlando Silva e Nelson Gonçalves, os três interpretes maiores da nossa música popular. Cantora, várias cantoras, mas tenho uma predileção muito grande por Elizete Cardozo. Ela tinha aquele fogo interior, sua voz era maravilhosa e para todos os ritmos ela sentia a música. Pouco depois, tivemos o grande compositor Tom Jobim e a excelente interprete Elis Regina que tinha uma voz certinha e afinadíssima.  Atualmente gosto muito da cantora Betânia e dos cantores Gil, Caetano Veloso e de Chico Buarque, que não tem uma voz bonita.

3 - Charles MeiraFiquei sabendo recentemente, que você além de professor, escritor e historiador é também humorista?
Émerson PintoNão, não sou humorista. Acredito que tenho o censo do humor, e às vezes deixo transparecer isso nas minhas crônicas, contando fatos curiosos que surgiram em Jequié, e talvez por causa disso, a pessoa englobasse dando o sentido de humorista. Humorista é aquele que vive mais do humor. Considero-me bem humorado, faço humor, mas não sou humorista de forma nenhuma, é força de expressão.

4 - Charles Meira: O professor provavelmente deve ter assistido muitos artistas da bola jogando. Qual o time do seu coração e qual a sua análise do futebol jogado na sua juventude e o praticado atualmente?
Émerson PintoNa minha juventude participei de alguns babas e devo dizer que fui um péssimo jogador. Naquele tempo só jogava quando precisava completar um dos times. Quando escalado, era na ponta esquerda e nunca me passavam a bola, era um desastre. Quando me botavam de goleiro engolia cada peru tremendo, realmente não dava para o futebol. Joguei também tênis e um esporte intelectual o xadrez. Fui o primeiro campeão de xadrez de Jequié e na Bahia fiquei em terceiro lugar. Representei a Bahia em Sergipe e ganhei para o campeão Sergipano Samuel Aivma. Este troféu está hoje no Clube Baiano de Xadrez. No futebol sou tricolor de ponta a ponta. Sou Bahia, Fluminense e São Paulo. Como torcedor, acompanhei a trajetória de alguns dos grandes jogadores daquela época. Tive a oportunidade de assistir Pelé e Garrincha jogarem no estádio da Fonte Nova, no Pacaembu e no antigo estádio do Vasco da Gama.  Ademir da Guia, Ademir Menezes e Jair da Barra Mansa foram outros jogadores que me empolgaram naquele tempo. Muito antes de Garrincha tinha um excelente meia do Fluminense chamado Tim, que era chamado o pião e o próprio Leônidas que criou a “bicicleta”. Naquele tempo tinha o futebol arte, jogava-se para a arquibancada. Os times utilizavam o esquema 2-3-5 e os jogos na maioria terminavam com muitos gols, não tinha retranca, o que acontece muito no tempo de hoje.

5 - Charles Meira: Qual a opinião do professor Émerson sobre os Blogs?
Émerson Pinto: Bom, estamos hoje diante de uma nova revolução. Quando se fala em revolução, pensamos que envolve guerra, luta e derramamento de sangue, mas temos a revolução industrial, o renascimento foi também uma revolução e não houve sangue. Estamos vivendo hoje uma revolução, que é a revolução da tecnologia, assim sendo, tudo que vem de acordo com esse movimento bato palmas, porque a sociedade é dinâmica, não podemos ficar parados no meio da estrada, todo esse processo, quando jogado para o bem, tudo bem, mas da mesma maneira que existe a boa impressa, existe a impressa “marrom”. Rui Barbosa já dizia que a impressa é a visão da nação. O lado positivo é muito maior do que o negativo, claro que tenho que apoiar tudo isso.

6 - Charles Meira: Qual a importância da leitura na sua vida e para toda a humanidade?  

Émerson Pinto: Bem, a leitura é importante. Os evangélicos, os católicos têm justamente a bíblia como praticamente um livro de cabeceira, consultado a todo o momento, porém existe a leitura profana e gosto muito de romance, das crônicas, algumas peças de teatro e, tive uma influência muito grande com as obras de Dostoievski, que iniciou o romance psicológico. Ele está para o romance psicológico, assim como Shakespeare está para o teatro, você pega, por exemplo, Shakespeare, cada peça dele pode botar o nome de uma virtude ou de um defeito, pega Romeu e Julieta é o amor, Otelo é o ciúme e no romance social Balzac. Balzac abriu o caminho para os escritores mais modernos. O único livro que me deu um trabalho muito grande para ler, que revolucionou a literatura, foi justamente “Ulysses” de James Joyce, são mais de oitocentas páginas e a tradução foi de Houaiss. Houaiss é lexicólogo e na tradução ele complica. O livro era difícil e mais difícil ficou, levei quase um mês para ler. Agora no Brasil, não posso deixar de citar Machado de Assis. Dos escritores modernos, estou muito ligado a Guimarães Rosa, que inovou a língua portuguesa. Estou também ligado é claro, que gosto de Jorge Amado, porque sou baiano e de Graciliano Ramos. Graciliano Ramos tem um português corretíssimo, até parecido com o de Machado de Assis, porque de um modo geral existem aqueles que escrevem certo e os que escrevem bem, tem uns que escrevem certo, mas são chatos que não é brinquedo, não tem espontaneidade e, outros que escrevem bem, porém muitas vezes não escrevem certo, mas a gente gosta da leitura e, Graciliano Ramos escrevia certo e escrevia bem. Então, acho que na literatura o que devemos observar é o seguinte: não deve ser como a âncora que segura o barco e o barco não pode seguir adiante, tem que ser como a vela que vai levando o barco até a enseada bendita.
Admiro também na poesia, por exemplo, gosto da crônica e estou pensando em reunir algumas das minhas crônicas num livro, porque sempre falam, Émerson Pinto é história, então aquela outra face ficou escondida. São crônicas que tocam da realidade e tocam também esperanças futuras, tanto que se chegar a publicar este livro, vou dar justamente como título “O Barro e o Sonho”, quer dizer: a realidade e o que se pretende melhorar. Na crônica, admiro muito Rubem Braga, que soube juntar o humor, ironia com a parte poética. Tem crônica de Rubem Braga, que são verdadeiras poesias em prosa, tenho uma grande admiração, inclusive a maneira como ele usa o verbo, porque às vezes você pode fugir do comum, mudando o verbo, por exemplo, tem uma crônica dele, que fala de um piquenique e dizia que “Teodora é quem mais fazia”, fazia olhos azuis, em vez de tinha olhos azuis. Carlos Drumonnd de Andrade por sua vez no seu poema, diz que “no meio do caminho tinha uma pedra”, dizendo com isso, que poderia fazer muitas coisas boas no caminho, porém se dissesse uma topada, esqueceria a lembrança da dor. O instinto prevalece sobre a imaginação e, diziam que isto não é poesia.
Antigamente os poetas viviam naquela fase de boêmia, viviam pouco tempo. Castro Alves não chegou aos vinte e quatro anos de idade, Álvaro de Azevedo, Bilac que chegou aos trinta e seis anos de idade, mas hoje os poetas com o recurso da medicina já chegam à idade mais avançada, são mais amadurecidos, a poesia moderna não é jogada apenas para o sentimento, é também jogada para a razão, você vê pelo exemplo que Manoel Bandeira na época em que disse: “uns tomam álcool, outros tomam cocaína, eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria”, usou o verbo fugindo do lugar comum, quando falou esta frase, Bandeira já estava curado. Teve outro poeta, não recordo agora se foi Carlos Drumonnd de Andrade, que em vez de dizer que Minas era um estado central ele disse: “Minas tem muitas Janelas, nem uma se abre para o mar”, o contexto da poesia moderna é bem diferente.
Depois de passar um pouco da minha experiência sobre a leitura, aconselho que as pessoas comecem cedo, desde o tempo de criança, lendo histórias para as idades próprias. Não devem faltar os incentivos dos pais e das escolas, se não os mesmos vão procurar outros atrativos. Tem a televisão, o esporte, que devem observar, porém sempre deixar um tempo reservado para a leitura.

7 – Charles Meira: O professor Émerson é admirador da Sétima Arte?
Emerson Pinto: Sou. Quando às vezes Terezinha, minha esposa, ia fazer compras no shopping aproveitava a oportunidade e assistia a um filme. O último foi “Titanic”, nesta nova versão, entretanto hoje prefiro locar os filmes e assistir em casa, porém continuo assistindo. Gosto dos filmes de mistério, aventura e dos musicais. O filme que mais gostei foi “Dançando na Chuva”, a dança de Gene Kelly é algo fora do comum. Na minha juventude, aqui em Jequié, gostava também de assistir os faroestes no Cine Auditório e na mesma época, assistia no Cine Bomfim o filme “Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.

8 – Charles Meira: A Academia de Letras de Jequié tem exercido o seu papel perante a sociedade da nossa cidade?
Emerson Pinto: Ela está engatinhando, tem pouco tempo ainda, mas dentro do possível está fazendo. A academia tem contado com o apoio da Universidade do Sudoeste e, muitas pesquisas estão acontecendo. Os estudantes, professores, estão analisando muito, isso é muito bom para Jequié.
            A academia de certo modo, também tem atuado neste sentido de cultura, tem muita gente hoje publicando livro. A academia tem cumprido o seu papel, agora é como eu disse: ela está na primeira infância, mas acredito que ainda pode melhorar e, deve melhor. A maturidade virá. Isso nós encontramos até na Academia Brasileira de Letras.

9 – Charles Meira: Qual o esporte predileto do professor Émerson Pinto?
Émerson Pinto: Como apreciador gosto do futebol. Gosto do também do vôlei, basquete, o tênis que pratiquei mais na juventude e o xadrez que joguei mais, porém hoje não tenho paciência de permanecer duas horas sentado jogando xadrez esperando o adversário por vinte, trinta minutos para fazer uma mudança, a vontade no momento é de dizer: joga logo, você está demorando, contudo é interessante, sou capaz de ficar duas, três horas lendo um livro, porém estou perdendo a paciência para estas coisas.

10 – Charles Meira: Em sua opinião, as medidas que estão sendo adotadas pelas nações, relacionadas ao meio ambiente vão conseguir salvar o nosso planeta?
Émerson Pinto: Eu acredito, não a curto tempo. Talvez não seja para nossa geração, talvez seja para netos, bisnetos, porque toda ação implica numa reação. A nossa geração já está sofrendo sobre isso, mas vai chegar um ponto que vão dizer: “agora não tem jeito não”. Tudo tem que ter um fim. Estas medidas, quando se fala em ajuda aos pequenos países, dizem logo aquilo: “quem vai pagar a conta?” O que se gasta em dinheiro, armas atômicas e armas mais modernas, tudo isso, esse dinheiro todo daria para acabar a fome no mundo. Acredito que terá um fim, porque a própria terra vai se resfriar, porém vai levar milhões de anos. O sol vai se apagar, tudo tem que ter um fim, entretanto anos luzes isto vai demorar. Já estamos vendo o esfriamento do pólo, os níveis dos oceanos subindo e as temperaturas se elevando.
Com referência ao que a bíblia fala, depende da maneira como colocam. Os católicos pensam de uma maneira, os muçulmanos de outra, depende da formação cultural de cada um. Maomé pregava a Guerra Santa, não avançou quase nada, as mulheres ainda usam burcas, estão muito apegados ao passado. O que o Islamismo propõe, o Budismo e o Cristianismo propõem outra. Da mesma maneira, que os Cristãos têm na Bíblia o Livro Sagrado, os muçulmanos têm também o Alcorão, que é o Livro Sagrado deles, pensam de outra maneira. Meu pensamento é que vai acabar. Eu acredito na sobrevivência do espírito. A matéria desaparece, mas o espírito sobrevive.   

11 – Charles Meira: Como o professor Émerson analisa o papel da imprensa escrita, falada e televisiva no Brasil?
Émerson Pinto: A melhor possível. É a maneira de você ficar atualizado, sabendo das notícias. Rádio ouvia no carro ou pela manhã quando ia fazer a barba. Sou mais ligado á televisão. A escrita leio tudo, jornais e revistas. Quando me aposentei em Jequié, os meus livros de história, antropologia e psicologia social, joguei tudo para o fundo da estante e, disse: agora eu vou trocar a minha leitura de obrigação, pela de devoção, tanto que ultimamente só estou lendo literatura, poemas, é claro que revistas e jornais, mais leio para ficar atualizado. De história somente a de Jequié, que estou sempre atualizando. Quanto ao profissional de impressa, antes de tudo a seriedade. Temos jornalistas sérios e têm outros que fogem um pouco a ética, mas isso acontece em todas as profissões. Quanto à parte ideológica, depende de cada um. Leio tudo àquilo que está de acordo comigo e contra o que penso.
Acho que é um meio de ilustração muito grande, pior é que não houvesse uma imprensa livre ou uma imprensa voltada apenas para o que determina o governo. Tivemos assim no estado novo e na época da ditadura militar, hoje está bem melhor. Acontece que temos leis, entretanto no Brasil a maioria das vezes as leis são compridas e não são cumpridas, são leis enormes, mas no cumprimento não são observadas. As rádios e as televisões na atualidade estão restritas aos políticos. Alguns profissionais da televisão estão ligados aos evangélicos e outros espaços são cedidos devido à necessidade de ter renda para manter a emissora. Quanto à revista, jornal, vigora a lei do maior espaço, hoje é mais fácil você ouvir do que você ler, nem todo mundo gosta da leitura, quando vê aquela leitura dinâmica. Por isso o romance está caindo e a crônica você ler. O comerciante hoje investe mais na televisão e no rádio, porque está mais próximo do povo e tem um retorno melhor.

12 – Charles Meira: Na sua visão a educação no Brasil é levada a sério?

Émerson Pinto: Já foi. Hoje poucos ainda levam isso em consideração. Tivemos Anísio Teixeira, que para mim foi o maior educador no Brasil. Darcy Ribeiro tinha uma visão completamente diferente e também levou a sério. Acontece que o professor não é bem remunerado e procura outra profissão, ensina visando completar os recursos para manter a família, olhando a educação como bico. O culpado disso é o governo central, que não oferece ao professorado os recursos necessários para que a educação não seja enxergada apenas como um meio de sobrevivência. Em resumo, na época que lesionava o ensino era levado a sério. Basta dizer que naquele tempo, tanto o Instituto de Educação Régis Pacheco (IERP), como o Centro Educacional Ministro Spinola (CEMES), quando os alunos terminavam o curso, passavam no vestibular sem precisar de cursinho.

 

13 – Charles Meira: Para o professor Émerson Pinto a insegurança na época dos Coronéis e do Cangaço é comparada a vivida nos tempos de hoje?
Émerson Pinto: Quando o Brasil foi descoberto, Portugal tinha uma população muito pequena para povoar o imenso território, maior que a Península Ibérica, quase do tamanho da Europa, que pertencia justamente a Portugal por força do Tratado de Tordesilhas, tratado que estava á frente o destacado Alexandre Borja, que depois se tornou o Papa Alexandre VI, que era espanhol, Papa este, que na parte religiosa deixou vários filhos, foi um papão, digamos, mais que um papa. Para povoar toda essa jurisdição, Portugal começou a oferecer vantagens. O que era público passou a ser particular, naquele tempo de Capitanias Hereditárias, sedia terra para os outros explorarem. Vieram as Sesmarias, os grandes latifundiários, onde cada fazendeiro era senhor de suas terras e precisavam de jagunços para defendê-los dos proprietários de outras terras. Existiam na época, exércitos particulares dentro do Estado, surgindo assim o coronelismo e também os jagunços. Os jagunços trabalhavam nas suas roças e apenas no momento de luta se reuniam sobre a chefia do patrão, para enfrentar o inimigo comum, entretanto os cangaceiros atacavam de qualquer maneira, queriam roubar, foi o caso de Lampião. Lampião tem uma passagem interessante que aconteceu durante a Coluna Prestes. O Governo de Artur Bernardes prometeu a Lampião, esquecer todos os seus crimes praticados, oferecendo armas e dinheiro para o cangaceiro enfrentar a Coluna Prestes. Lampião não enfrentou a Coluna Prestes e usou aquelas armas para atacar e roubar os vizinhos. O chefe dos cangaceiros foi uma consequência das injustiças sociais e perseguições da época. Na ocasião na capital existia mais segurança do que hoje, mas no interior, onde estava o cangaço dominando, era muito inseguro. Os Italianos que vieram se estabelecer em Jequié, não traziam suas esposas, porque aqui existiam aquelas lutas de “Rabudos”, “Mocós” e também os “Cauaçus”. Em Jequié era uma total insegurança, uma guerra, poucos Italianos ficaram a maioria depois que fizeram o seu “pé de meia”, voltou para a Europa. Naquela época a capital era mais segura que o interior, devido à presença do governo. Hoje não, a insegurança generalizou-se e, está pior em todo o Estado.

14 – Charles Meira: Como o cidadão Émerson Pinto analisa o crescimento e a diminuição de fieis em algumas religiões?

Émerson Pinto: A sociedade é dinâmica, tudo tem que caminhar para frente, às religiões tem que se adaptarem também. Aquelas que ficam presas justamente a aquele passado, não evoluem, não avançam. Podem seguir a crença, a sua crença própria na religião, mas a maneira de agir varia muito, hoje as gerações são bem diferentes do passado, os costumes são diferentes com a tecnologia. Com a Igreja Católica acontece que a sociedade avança um metro e a igreja apenas um palmo, está havendo este desencontro entre a religião, que fica apegada ao passado. Os evangélicos estão partindo para outra situação diferente, mesmo porque tiveram uma reforma dentro do próprio cristianismo, com o rompimento de Lutero. Com o João Calvino a igreja teve o seu processo de inquisição, Calvino que abriu o espaço para o Presbiterianismo, seguindo de certo modo o princípio da predestinação, porque a igreja defendia no tempo de Santo Agostinho, que o indivíduo já nascia predestinado para alguma coisa, negava o livre arbítrio. Tomaz de Aquino com a sua teologia e outras coisas, criou o livre arbítrio, que a igreja vem seguindo agora. Veja que o Calvinismo em Genebra estava ligado também à doutrina da predestinação, tanto que houve uma inquisição e algumas pessoas foram queimadas. Uma coisa interessante é que mesmo depois de negar o princípio da predestinação durante a ocupação da Península Ibérica, os muçulmanos ficaram lá sete séculos. Depois de tudo isso, a influência foi tão grande que muitos católicos hoje continuam dizendo que fulano não morreu, porque não chegou o dia, isso é predestinação e não livre arbítrio. Sou um católico relapso, missa vou de vez em quando. Fui batizado e casei na igreja católica, porém sou Cartesiano, antidogmático e também nas ciências humanas me oponho aos pressupostos, gosto de ir a fundo às raízes para saber como são as coisas, gosto de estudar. Quanto a Cristo foi uma figura marcante, tanto que já se passaram mais de dois mil anos e ele continua influenciando toda a humanidade. As pessoas não devem ficar em cima do muro, tem que formar uma posição. Pilatos no momento de tomar uma decisão preferiu lavar as mãos e passados mais de dois mil anos suas mãos continuam sujas. Dentre alguns Pentecostais e Evangélicos não existe uma formação para pastores, são pegos de qualquer maneira, não tem uma formação cultural, incorrendo nestes erros, falhas. Para ministrar a palavra de Deus responsavelmente tem que conhecer o que está pregando, porém muitos não têm uma cultura especializada. É preciso primeiro ter uma cultura geral para não ficar bitolado, tem que ter uma cultura geral para depois se especializar. Estes pastores que surgem de qualquer maneira interpretam a Bíblia da maneira deles, são muito apegados aos metais, o dinheiro, com raras exceções. Dizem por ai, que a melhor coisa hoje é abrir uma igreja. Meu pregador predileto foi Carlos Dubois, basta dizer que alguns alunos de Jequié, quando não tinham o segundo grau, iam estudar no Colégio Taylor Egídio em Jaguaquara – BA. Por este motivo, Carlos Dubois e sua esposa Estelinha prestaram uma homenagem a alguém de Jequié, e como estava dirigindo o Instituto de Educação Régis Pacheco (IERP) naquele tempo, fui convidado para ser o paraninfo da turma. Edésio Chequer também é um bom pregador e tenho uma boa aproximação, pois foi meu aluno.

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