Charles Meira e o professor Émerson Pinto de Araújo.
1 - Charles Meira: Quando,
como e porque o professor Émerson Pinto de Araújo resolveu escrever sobre a
história de Jequié?
Émerson Pinto: Quando
comecei a ensinar História, notei logo de início que os alunos sabiam quase
tudo sobre a Grécia, sabiam quase tudo sobre Napoleão Bonaparte, sobre os
Imperadores Romanos, mas quando perguntava: vocês sabem qual foi o primeiro
prefeito de Jequié? Não sabiam. Vocês sabem alguma coisa sobre o banditismo em
Jequié? Não sabiam. Vocês sabem onde nasce o rio das Contas? Também não sabiam.
Então diante disso, assumi comigo mesmo um compromisso de fazer o levantamento
da história ou do passado de Jequié. Devo dizer que encontrei uma dificuldade
muito grande. Primeiro, porque a enchente de 1914 destruiu muita coisa da
documentação que se possuía na época. Segundo, porque mais tarde o acervo do
comércio italiano em Jequié, que começou justamente com Rotondano, que mais
tarde tudo isso se perdeu, porque quem recebeu isso Benito Grillo passou para
uma pessoa e essa pessoa jogou esse acervo num porão e muita coisa se perdeu, o
que sobrou foi para a Associação Comercial e depois para Raimundo Meira e hoje
está no Museu Histórico de Jequié. Outro aspecto também, quando o Eliezer Souza
Santos foi prefeito de Jequié, a prefeitura ficava na Rua Mota Coelho, onde
ficava o antigo quartel e ali foi colocado o arquivo morto da prefeitura,
aquilo que sobrou da enchente de 1914 e o que veio depois, acontece que os
cupins fizeram a festa e se perdeu muita coisa. Algumas famílias também não
deram bola para documentação, para os jornais antigos, tudo isso foi rasgado
jogado fora. Ouve uma diretora da biblioteca, que numa reforma ela queimou
justamente aqueles jornais antigos que nós tínhamos ou deu fim, deu sumiço,
dizendo que aquilo era velharia, então veja como a memória de Jequié foi
deteriorando. Então aproveitava quando ia a Salvador, naquele tempo era
solteiro tinha tempo à vontade, então nas férias ia correr justamente as
bibliotecas, os jornais, à redação dos jornais antigos, o Instituto Histórico e
Geográfico da Bahia e assim fui coletando muita coisa que não tinha em Jequié,
diante disso, comecei a escrever a História de Jequié. O primeiro livro sobre a
da História de Jequié foi pra o alunado, bem resumido. O segundo, já foram
aqueles outros subsídios que chegaram a minhas mãos e que fui colocando na
imprensa e depois disso reunidos naquele livro Capítulos da História de Jequié
que não segue uma ordem cronológica. Por último, conversando com Ivonildo
Calheira, naquela ocasião presidente da Academia de Letras de Jequié, disse,
olha Calheira, tenho aqui um livro quase pronto, falta editar e é um perfil de
Jequié. Como já tinha abordado o problema da História Jequié em dois livros,
esse livro tinha mais um cunho sociológico, falava sobre a evolução dos
costumes, do início quando Jequié ainda era distrito de Maracás até os dias
atuais. Ele abordava também a mudança na família, na crença, na religiosidade,
tudo isso. Acontece que pouco depois, a agência do Banco do Nordeste em Jequié
que iria completar quarenta e cinco anos, pretendia um livro mais abrangente
sobre Jequié, era uma homenagem que iria prestar ao município. O direito
autoral já tinha cedido, porque Reinaldo Pinheiro que era o prefeito na ocasião
me procurou no meu apartamento em Salvador e entramos em entendimento. E ai
tinha que correr contra o tempo, porque aquelas verbas mesmo no banco se não
forem usadas em determinado período, elas caem em exercício findo ou ficam em
resto a pagar para o próximo ano e interessava ao Banco do Nordeste coincidir a
publicação do livro no ano dos quarenta e cinco anos da agência de Jequié. Esse
trabalho feito às pressas, e você sabe que a pressa é inimiga da perfeição,
então tive que pegar trechos de livros já publicados e arrumei aquilo da melhor
maneira possível para sair à Nova História de Jequié. O livro foi datilografado
por mim, então a prefeitura teve que adaptar justamente isso para fazer a
digitação, infelizmente à digitação também correndo ouve vários erros. Eu fiz a
primeira revisão e disse que antes da impressão mandasse para Salvador para
fazer a revisão final. Mas o livro foi encaminhado para a editora sem a segunda
revisão e saiu com um bocado de erros, até erros de concordância e várias
outras coisas, em linhas gerais se resume nisso ai.
2 - Charles Meira: A música
faz parte da vida do escritor Émerson Pinto?
Émerson Pinto: Faz e
muito. Tanto gosto da música erudita como da popular. Na música erudita os meus
compositores prediletos são: Bach, Mozart e naturalmente Beethoven, que gosto de
ouvir no meu momento de descanso, e às vezes no trabalho, porque se for
cantada, eu vou prestar atenção e atrapalha tudo. Gosto também da musica
popular, da boa música popular, por que a música não tem idade. Devo dizer, que
na minha infância ainda prevalecia muito às serenatas, às serestas, e fiquei
muito ligado nelas. Na primeira vez que fui ao Rio de Janeiro em 1950, me
hospedei no Hotel Serrador e na ocasião conheci cantor Silvio Caldas que também
era hospede e cantava na boate night Day, que ficava no ultimo andar do
edifício. Ele tinha uma voz espetacular. Considero Silvio Caldas, Orlando Silva
e Nelson Gonçalves, os três interpretes maiores da nossa música popular.
Cantora, várias cantoras, mas tenho uma predileção muito grande por Elizete
Cardozo. Ela tinha aquele fogo interior, sua voz era maravilhosa e para todos
os ritmos ela sentia a música. Pouco depois, tivemos o grande compositor Tom
Jobim e a excelente interprete Elis Regina que tinha uma voz certinha e
afinadíssima. Atualmente gosto muito da
cantora Betânia e dos cantores Gil, Caetano Veloso e de Chico Buarque, que não
tem uma voz bonita.
3 - Charles Meira: Fiquei sabendo recentemente, que você além de
professor, escritor e historiador é também humorista?
Émerson Pinto: Não, não sou humorista. Acredito que tenho o
censo do humor, e às vezes deixo transparecer isso nas minhas crônicas,
contando fatos curiosos que surgiram em Jequié, e talvez por causa disso, a
pessoa englobasse dando o sentido de humorista. Humorista é aquele que vive
mais do humor. Considero-me bem humorado, faço humor, mas não sou humorista de
forma nenhuma, é força de expressão.
4 - Charles Meira: O professor provavelmente deve ter assistido
muitos artistas da bola jogando. Qual o time do seu coração e qual a sua
análise do futebol jogado na sua juventude e o praticado atualmente?
Émerson Pinto: Na minha
juventude participei de alguns babas e devo dizer que fui um péssimo jogador.
Naquele tempo só jogava quando precisava completar um dos times. Quando escalado,
era na ponta esquerda e nunca me passavam a bola, era um desastre. Quando me
botavam de goleiro engolia cada peru tremendo, realmente não dava para o
futebol. Joguei também tênis e um esporte intelectual o xadrez. Fui o primeiro
campeão de xadrez de Jequié e na Bahia fiquei em terceiro lugar. Representei a
Bahia em Sergipe e ganhei para o campeão Sergipano Samuel Aivma. Este troféu
está hoje no Clube Baiano de Xadrez. No futebol sou tricolor de ponta a ponta.
Sou Bahia, Fluminense e São Paulo. Como torcedor, acompanhei a trajetória de
alguns dos grandes jogadores daquela época. Tive a oportunidade de assistir
Pelé e Garrincha jogarem no estádio da Fonte Nova, no Pacaembu e no antigo
estádio do Vasco da Gama. Ademir da
Guia, Ademir Menezes e Jair da Barra Mansa foram outros jogadores que me
empolgaram naquele tempo. Muito antes de Garrincha tinha um excelente meia do
Fluminense chamado Tim, que era chamado o pião e o próprio Leônidas que criou a
“bicicleta”. Naquele tempo tinha o futebol arte, jogava-se para a arquibancada.
Os times utilizavam o esquema 2-3-5 e os jogos na maioria terminavam com muitos
gols, não tinha retranca, o que acontece muito no tempo de hoje.
5 - Charles Meira: Qual a
opinião do professor Émerson sobre os Blogs?
Émerson Pinto: Bom, estamos
hoje diante de uma nova revolução. Quando se fala em revolução, pensamos que
envolve guerra, luta e derramamento de sangue, mas temos a revolução
industrial, o renascimento foi também uma revolução e não houve sangue. Estamos
vivendo hoje uma revolução, que é a revolução da tecnologia, assim sendo, tudo
que vem de acordo com esse movimento bato palmas, porque a sociedade é
dinâmica, não podemos ficar parados no meio da estrada, todo esse processo,
quando jogado para o bem, tudo bem, mas da mesma maneira que existe a boa
impressa, existe a impressa “marrom”. Rui Barbosa já dizia que a impressa é a
visão da nação. O lado positivo é muito maior do que o negativo, claro que
tenho que apoiar tudo isso.
6 - Charles Meira: Qual a importância da leitura na sua vida e para toda a humanidade?
Émerson Pinto: Bem, a
leitura é importante. Os evangélicos, os católicos têm justamente a bíblia como
praticamente um livro de cabeceira, consultado a todo o momento, porém existe a
leitura profana e gosto muito de romance, das crônicas, algumas peças de teatro
e, tive uma influência muito grande com as obras de Dostoievski, que iniciou o
romance psicológico. Ele está para o romance psicológico, assim como
Shakespeare está para o teatro, você pega, por exemplo, Shakespeare, cada peça
dele pode botar o nome de uma virtude ou de um defeito, pega Romeu e Julieta é
o amor, Otelo é o ciúme e no romance social Balzac. Balzac abriu o caminho para
os escritores mais modernos. O único livro que me deu um trabalho muito grande
para ler, que revolucionou a literatura, foi justamente “Ulysses” de James
Joyce, são mais de oitocentas páginas e a tradução foi de Houaiss. Houaiss é
lexicólogo e na tradução ele complica. O livro era difícil e mais difícil
ficou, levei quase um mês para ler. Agora no Brasil, não posso deixar de citar
Machado de Assis. Dos escritores modernos, estou muito ligado a Guimarães Rosa,
que inovou a língua portuguesa. Estou também ligado é claro, que gosto de Jorge
Amado, porque sou baiano e de Graciliano Ramos. Graciliano Ramos tem um
português corretíssimo, até parecido com o de Machado de Assis, porque de um
modo geral existem aqueles que escrevem certo e os que escrevem bem, tem uns
que escrevem certo, mas são chatos que não é brinquedo, não tem espontaneidade
e, outros que escrevem bem, porém muitas vezes não escrevem certo, mas a gente
gosta da leitura e, Graciliano Ramos escrevia certo e escrevia bem. Então, acho
que na literatura o que devemos observar é o seguinte: não deve ser como a
âncora que segura o barco e o barco não pode seguir adiante, tem que ser como a
vela que vai levando o barco até a enseada bendita.
Admiro
também na poesia, por exemplo, gosto da crônica e estou pensando em reunir
algumas das minhas crônicas num livro, porque sempre falam, Émerson Pinto é
história, então aquela outra face ficou escondida. São crônicas que tocam da
realidade e tocam também esperanças futuras, tanto que se chegar a publicar
este livro, vou dar justamente como título “O Barro e o Sonho”, quer dizer: a
realidade e o que se pretende melhorar. Na crônica, admiro muito Rubem Braga,
que soube juntar o humor, ironia com a parte poética. Tem crônica de Rubem
Braga, que são verdadeiras poesias em prosa, tenho uma grande admiração,
inclusive a maneira como ele usa o verbo, porque às vezes você pode fugir do
comum, mudando o verbo, por exemplo, tem uma crônica dele, que fala de um
piquenique e dizia que “Teodora é quem mais fazia”, fazia olhos azuis, em vez
de tinha olhos azuis. Carlos Drumonnd de Andrade por sua vez no seu poema, diz
que “no meio do caminho tinha uma pedra”, dizendo com isso, que poderia fazer
muitas coisas boas no caminho, porém se dissesse uma topada, esqueceria a
lembrança da dor. O instinto prevalece sobre a imaginação e, diziam que isto
não é poesia.
Antigamente
os poetas viviam naquela fase de boêmia, viviam pouco tempo. Castro Alves não
chegou aos vinte e quatro anos de idade, Álvaro de Azevedo, Bilac que chegou
aos trinta e seis anos de idade, mas hoje os poetas com o recurso da medicina
já chegam à idade mais avançada, são mais amadurecidos, a poesia moderna não é
jogada apenas para o sentimento, é também jogada para a razão, você vê pelo
exemplo que Manoel Bandeira na época em que disse: “uns tomam álcool, outros
tomam cocaína, eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria”, usou o verbo fugindo
do lugar comum, quando falou esta frase, Bandeira já estava curado. Teve outro
poeta, não recordo agora se foi Carlos Drumonnd de Andrade, que em vez de dizer
que Minas era um estado central ele disse: “Minas tem muitas Janelas, nem uma
se abre para o mar”, o contexto da poesia moderna é bem diferente.
Depois
de passar um pouco da minha experiência sobre a leitura, aconselho que as
pessoas comecem cedo, desde o tempo de criança, lendo histórias para as idades
próprias. Não devem faltar os incentivos dos pais e das escolas, se não os
mesmos vão procurar outros atrativos. Tem a televisão, o esporte, que devem
observar, porém sempre deixar um tempo reservado para a leitura.
7 – Charles Meira: O professor Émerson é admirador da Sétima
Arte?
Emerson Pinto: Sou. Quando
às vezes Terezinha, minha esposa, ia fazer compras no shopping aproveitava a
oportunidade e assistia a um filme. O último foi “Titanic”, nesta nova versão,
entretanto hoje prefiro locar os filmes e assistir em casa, porém continuo
assistindo. Gosto dos filmes de mistério, aventura e dos musicais. O filme que
mais gostei foi “Dançando na Chuva”, a dança de Gene Kelly é algo fora do
comum. Na minha juventude, aqui em Jequié, gostava também de assistir os
faroestes no Cine Auditório e na mesma época, assistia no Cine Bomfim o filme
“Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
8 – Charles Meira: A Academia de Letras de Jequié tem exercido o seu papel perante a
sociedade da nossa cidade?
Emerson Pinto: Ela está engatinhando, tem pouco tempo ainda, mas dentro do possível está
fazendo. A academia tem contado com o apoio da Universidade do Sudoeste e,
muitas pesquisas estão acontecendo. Os estudantes, professores, estão
analisando muito, isso é muito bom para Jequié.
A academia de certo modo, também tem atuado neste sentido
de cultura, tem muita gente hoje publicando livro. A academia tem cumprido o
seu papel, agora é como eu disse: ela está na primeira infância, mas acredito
que ainda pode melhorar e, deve melhor. A maturidade virá. Isso nós encontramos
até na Academia Brasileira de Letras.
9 – Charles Meira: Qual o esporte predileto do professor Émerson Pinto?
Émerson Pinto: Como apreciador gosto do futebol. Gosto do também do vôlei, basquete, o
tênis que pratiquei mais na juventude e o xadrez que joguei mais, porém hoje
não tenho paciência de permanecer duas horas sentado jogando xadrez esperando o
adversário por vinte, trinta minutos para fazer uma mudança, a vontade no
momento é de dizer: joga logo, você está demorando, contudo é interessante, sou
capaz de ficar duas, três horas lendo um livro, porém estou perdendo a
paciência para estas coisas.
10 – Charles Meira: Em sua opinião, as medidas que estão sendo adotadas pelas nações,
relacionadas ao meio ambiente vão conseguir salvar o nosso planeta?
Émerson Pinto: Eu acredito, não a curto tempo.
Talvez não seja para nossa geração, talvez seja para netos, bisnetos, porque
toda ação implica numa reação. A nossa geração já está sofrendo sobre isso, mas
vai chegar um ponto que vão dizer: “agora não tem jeito não”. Tudo tem que ter
um fim. Estas medidas, quando se fala em ajuda aos pequenos países, dizem logo
aquilo: “quem vai pagar a conta?” O que se gasta em dinheiro, armas atômicas e
armas mais modernas, tudo isso, esse dinheiro todo daria para acabar a fome no
mundo. Acredito que terá um fim, porque a própria terra vai se resfriar, porém
vai levar milhões de anos. O sol vai se apagar, tudo tem que ter um fim,
entretanto anos luzes isto vai demorar. Já estamos vendo o esfriamento do pólo,
os níveis dos oceanos subindo e as temperaturas se elevando.
Com referência ao que a bíblia fala, depende da maneira
como colocam. Os católicos pensam de uma maneira, os muçulmanos de outra,
depende da formação cultural de cada um. Maomé pregava a Guerra Santa, não
avançou quase nada, as mulheres ainda usam burcas, estão muito apegados ao
passado. O que o Islamismo propõe, o Budismo e o Cristianismo propõem outra. Da
mesma maneira, que os Cristãos têm na Bíblia o Livro Sagrado, os muçulmanos têm
também o Alcorão, que é o Livro Sagrado deles, pensam de outra maneira. Meu
pensamento é que vai acabar. Eu acredito na sobrevivência do espírito. A
matéria desaparece, mas o espírito sobrevive.
11 – Charles Meira: Como o professor Émerson analisa o papel da imprensa escrita, falada e
televisiva no Brasil?
Émerson Pinto: A melhor possível. É a maneira de você ficar atualizado, sabendo das
notícias. Rádio ouvia no carro ou pela manhã quando ia fazer a barba. Sou mais
ligado á televisão. A escrita leio tudo, jornais e revistas. Quando me
aposentei em Jequié, os meus livros de história, antropologia e psicologia
social, joguei tudo para o fundo da estante e, disse: agora eu vou trocar a
minha leitura de obrigação, pela de devoção, tanto que ultimamente só estou
lendo literatura, poemas, é claro que revistas e jornais, mais leio para ficar
atualizado. De história somente a de Jequié, que estou sempre atualizando.
Quanto ao profissional de impressa, antes de tudo a seriedade. Temos
jornalistas sérios e têm outros que fogem um pouco a ética, mas isso acontece
em todas as profissões. Quanto à parte ideológica, depende de cada um. Leio
tudo àquilo que está de acordo comigo e contra o que penso.
Acho que é um meio de ilustração muito grande, pior é que não houvesse
uma imprensa livre ou uma imprensa voltada apenas para o que determina o
governo. Tivemos assim no estado novo e na época da ditadura militar, hoje está
bem melhor. Acontece que temos leis, entretanto no Brasil a maioria das vezes
as leis são compridas e não são cumpridas, são leis enormes, mas no cumprimento
não são observadas. As rádios e as televisões na atualidade estão restritas aos
políticos. Alguns profissionais da televisão estão ligados aos evangélicos e
outros espaços são cedidos devido à necessidade de ter renda para manter a
emissora. Quanto à revista, jornal, vigora a lei do maior espaço, hoje é mais
fácil você ouvir do que você ler, nem todo mundo gosta da leitura, quando vê
aquela leitura dinâmica. Por isso o romance está caindo e a crônica você ler. O
comerciante hoje investe mais na televisão e no rádio, porque está mais próximo
do povo e tem um retorno melhor.
12 – Charles Meira: Na sua visão
a educação no Brasil é levada a sério?
Émerson
Pinto: Já foi. Hoje poucos ainda levam isso em consideração. Tivemos
Anísio Teixeira, que para mim foi o maior educador no Brasil. Darcy Ribeiro
tinha uma visão completamente diferente e também levou a sério. Acontece que o
professor não é bem remunerado e procura outra profissão, ensina visando
completar os recursos para manter a família, olhando a educação como bico. O
culpado disso é o governo central, que não oferece ao professorado os recursos
necessários para que a educação não seja enxergada apenas como um meio de
sobrevivência. Em resumo, na época que lesionava o ensino era levado a sério.
Basta dizer que naquele tempo, tanto o Instituto de Educação Régis Pacheco
(IERP), como o Centro Educacional Ministro Spinola (CEMES), quando os alunos terminavam o
curso, passavam no vestibular sem precisar de cursinho.
13 – Charles Meira: Para o professor Émerson Pinto a
insegurança na época dos Coronéis e do Cangaço é comparada a vivida nos tempos
de hoje?
Émerson Pinto: Quando o Brasil foi descoberto, Portugal tinha uma população muito
pequena para povoar o imenso território, maior que a Península Ibérica, quase
do tamanho da Europa, que pertencia justamente a Portugal por força do Tratado
de Tordesilhas, tratado que estava á frente o destacado Alexandre Borja, que
depois se tornou o Papa Alexandre VI, que era espanhol, Papa este, que na parte
religiosa deixou vários filhos, foi um papão, digamos, mais que um papa. Para
povoar toda essa jurisdição, Portugal começou a oferecer vantagens. O que era
público passou a ser particular, naquele tempo de Capitanias Hereditárias,
sedia terra para os outros explorarem. Vieram as Sesmarias, os grandes
latifundiários, onde cada fazendeiro era senhor de suas terras e precisavam de
jagunços para defendê-los dos proprietários de outras terras. Existiam na
época, exércitos particulares dentro do Estado, surgindo assim o coronelismo e
também os jagunços. Os jagunços trabalhavam nas suas roças e apenas no momento
de luta se reuniam sobre a chefia do patrão, para enfrentar o inimigo comum,
entretanto os cangaceiros atacavam de qualquer maneira, queriam roubar, foi o
caso de Lampião. Lampião tem uma passagem interessante que aconteceu durante a
Coluna Prestes. O Governo de Artur Bernardes prometeu a Lampião, esquecer todos
os seus crimes praticados, oferecendo armas e dinheiro para o cangaceiro
enfrentar a Coluna Prestes. Lampião não enfrentou a Coluna Prestes e usou
aquelas armas para atacar e roubar os vizinhos. O chefe dos cangaceiros foi uma
consequência das injustiças sociais e perseguições da época. Na ocasião na
capital existia mais segurança do que hoje, mas no interior, onde estava o
cangaço dominando, era muito inseguro. Os Italianos que vieram se estabelecer
em Jequié, não traziam suas esposas, porque aqui existiam aquelas lutas de
“Rabudos”, “Mocós” e também os “Cauaçus”. Em Jequié era uma total insegurança,
uma guerra, poucos Italianos ficaram a maioria depois que fizeram o seu “pé de
meia”, voltou para a Europa. Naquela época a capital era mais segura que o
interior, devido à presença do governo. Hoje não, a insegurança generalizou-se
e, está pior em todo o Estado.
14 – Charles Meira: Como o
cidadão Émerson Pinto analisa o crescimento e a diminuição de fieis em algumas
religiões?
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