Por Carlos Eden Meira
O título acima pode até parecer de
alguma fábula ou historinha infantil, no entanto, não é nada disso. É que um
dia desses, atendi a uma ligação telefônica em que alguém do outro lado da
linha insistia em me empurrar um “remédio poderosíssimo”, que me transformaria
num sujeito imune a tudo. A primeira coisa que o “milagreiro” falou, foi
perguntar se eu já havia tomado algum remédio desse tipo, justamente no momento
em que acabava de enviar para o organismo, uma boa dose de “água de matar
gato”. No ato, respondi: - “Tô tomando agora!”. O operador de telemarketing
então, perguntou qual remédio eu estava tomando, e, quando expliquei o que era,
ele deu uma risadinha profissionalmente amarela, dizendo que também gostava de
tomar uma pinguinha ou outra de vez em quando, mas, argumentou que o álcool é
nocivo à saúde, e que o produto que ele vendia era ótimo, era isso e mais
aquilo, e coisa e tal.
Concordei com ele no que se referiu ao
álcool, porém, também não pude deixar de argumentar que se esse produto dele
tivesse realmente o potencial conforme era apregoado, os postos de saúde,
clínicas e farmácias estariam às moscas, e os médicos estariam vendendo cocada
na porta da igreja. Seria o tal remédio, um cruzamento do “elixir da longa
vida” com água da “fonte da eterna juventude” dos quais rezam as lendas?
Lembrei a ele que sendo assim, o remédio parecia ser semelhante ao que era
vendido na nossa velha praça da feira, nos meus tempos de criança, quando uma
multidão se reunia em volta de dois “picaretas”: um com uma mala fechada na
qual dizia haver uma cobra perigosíssima. O outro, com outra mala, onde estaria
um teiú. No chão, mais uma mala, abarrotada de vidrinhos contendo um líquido
amarelo, tido como um milagroso remédio que curava dor de cabeça, dor de
estômago, dor de dente, dor na boca da titela, espinhela caída, dor de
cotovelo, dor de corno, dor nos quartos, maleita, bexiga preta, catapora, papeira,
amarelão, hemorróidas, lumbago, sezão, tifo, sarampo, topada, mal dos sete
dias, além de prevenir contra tudo quanto é “doença braba”.
O teiú e a cobra iriam sair das malas e
entrar na porrada, mas antes, era preciso que o distinto público ali presente
comprasse o máximo possível de vidros do santo remédio. O tempo ia passando, e
nada de cobra e teiú darem os ares de suas presenças. Enquanto isso, algumas
pessoas iam comprando o bendito remédio fabuloso, “preparado pelos índios com
raízes, folhas e óleos de plantas misteriosas da região da mata”, conforme
diziam eles. Para distrair ainda mais a plateia, os dois “ambulantes”
inventavam diálogos neste feitio:
- Cês tão pensando que eu preciso deste
tipo de ofício pra viver? Preciso não, eu faço porque gosto! Minha mãe tem
muita terra lá em Mato Grosso! – Ao que o outro perguntava:
- Ochente! Então tua mãe tem tanta
terra assim?
- Tem sim. Em cima dela, coitadinha,
enterrada lá em Mato Grosso. Já morreu há muitos anos!
O público ria e se divertia, mas, vendo que aquilo era pura embromação, que nem cobra nem teiú iriam sair de nenhuma mala para brigar, ia esvaziando o local para cuidar de seus afazeres. Alguns desocupados ainda permaneciam ali por um bom tempo, escutando os hilariantes diálogos dos dois “picaretas”. Até hoje, nunca soube de ninguém que tivesse assistido a tal briga dos bichos. Assim, toda vez que me ligam querendo vender remédios poderosos que curam ou previnem todas as doenças, eu os aborreço contando este caso do teiú e da cobra. Haja saco!
Maravilha de crônica . Carlos Éden e o seu humor , sua poesia , sua memória .
ResponderExcluirObrigado, Bené! Fico feliz em ver um elogio seu.
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