domingo, 12 de junho de 2022

Marli, a filha adotiva de José e Maria.

                                                                                             Charles Meira

Charles e Marli.

No final do mês de maio de 2022, Charles Meira estava na casa de Marli sua prima, local que vai sempre no período da manhã, ficou sabendo que Tomaz seu irmão havia solicitado dela, que contasse a história da sua infância relacionada a sua convivência com seus pais. Como Charles também tinha a mesma curiosidade, antecipou a solicitação do seu irmão, entrevistou sua prima e fez uma matéria mais completa sobre o assunto.

Cândido Marques da Silva um jovem de 18 anos de idade, viajava sempre do distrito de Porto Alegre para Maracás-Ba no seu animal, cidade onde vendia, comprava e recebia o dinheiro da venda feita na viagem anterior, trabalho que fazia para seu pai Randulfo Marques da Silva (Duca). Certa ocasião quando executava suas tarefas naquele município, Cândido conheceu uma jovem chamada Recímia dos Anjos Silva, que na época tinha 16 anos de idade. Comeram a namorar e em pouco tempo estavam apaixonados. Quando o pai dela Ângelo dos Anjos, mais conhecido como Anjinho, rico fazendeiro ficou sabendo do namoro foi totalmente contra, achava Recímia muito jovem e o namorado era pobre, mesmo sendo filho de Duca, comerciante e político famoso na região. Anjinho continuou com esta ideia por muito tempo, entretanto o amor dos jovens venceu, ele aceitou o casamento e deu uma casa para Cândido e Recímia, que mesmo depois de casada e engravidar continuou os estudos. Nesta ocasião, o casal foi passar uma temporada em Porto Alegre, local onde nasceu Marli Silva Matos no dia 30 de março de 1947. Depois retornaram para Maracas e foram morar na casa de seu avô Anjinho. Em 29 de janeiro de 1949, nasceu o segundo filho e colocaram o nome de Francisco dos Anjos Marques.


Cândido

Recímia

Cândido continuou fazendo o trabalho para seu pai montado em seu animal de Maracás para Porto Alegre. Nesta ocasião, Gersímio irmão de Recímia que tinha uma loja em Maracás e comprava de vários representantes mercadorias das firmas da Bahia, que estavam faltando na firma. Recímia que ajudava seu irmão no local, conheceu e gostou de um daqueles representantes, que também simpatizou com ela e levou a irmã do dono da loja para morar com ele em Feira de Santana. Os filhos dela ficaram com Anjinho seu pai.

Em Feira de Santana Recímia morava com o representante que era dono da Violeta, loja famosa na cidade, contudo o homem era casado e vivia com as duas mulheres. Recímia engravidou e teve uma filha chamada Ana Maria. Em seguida o representante largou a amante e não reconheceu sua filha. Ainda em Feira de Santana, ela conheceu uma mulher e foi convidada para morar em Salvador. Vivendo na capital, Recímia se envolveu com um marinheiro, pessoa que viveu por muito tempo e teve duas filhas, chamadas de Rosangela e Eliana.


Marli com laço no cabêlo, quando tinha 3 anos de idade em Porto Alegre - Distrito de Maracás - BA.

Quando Cândido retornou da viagem, ficou sabendo que sua esposa tinha ido embora com um representante. Ele ficou muito triste pois gostava muito dela. Em seguida, pegou Marli com 3 anos de idade e levou no lombo do animal para morar com seus pais em Porto Alegre e deixou Francisco morando com seu avô. O casamento de Cândido e Recímia durou somente três anos.

Em Porto Alegre ficaram em uma casa grande e cuidada por Quinita que estava alegre, pois gostava muito de Candinho e da neta. Entretanto ele continuou triste e começou a beber, vício que nunca teve. De início mesmo bebendo continuou viajando e realizando o seu trabalho, mas em seguida passou a não fazer com perfeição e gastando com bebida o dinheiro que recebia. Dominado pelo vício, Candinho falou para seu pai que não queria mais nada da vida, sua vontade era morrer e pediu também para não realizar o seu trabalho. A seguir passou somente a beber e seu pai não aceitava, reclamava e tratava Candinho com grosseria, atitude que Quinita sua esposa não gostava e chorando pedia dele paciência.

Marli com 5 anos de idade, junto de sua tia Maria no casamento dela com José em Maracás - BA.

Maria casou em 1951 em Maracás e depois foi morar em Jequié na rua Beira Rio no bairro do Mandacaru. Candinho nesta época ficou doente e José foi com Maria busca-lo para ir no médico. Ali chegando ele foi medicado, mas continuou bebendo e constantemente sumia, obrigando José e Maria saírem a procura dele, que normalmente era encontrado nos gaveteiros que ficavam na região com uma garrafa de cachaça. Levavam para casa cuidava, porém ele saía novamente. Maria chorava bastante, pois seu irmão não comia e necessitou novamente levar no médico, que depois de fazer alguns exames foi diagnosticado que estava com Cirrose Hepática. Candinho também passou a chorar e pedir para ir embora, pois queria ficar com sua mãe em Porto Alegre.

Em Porto Alegre foi pouco tempo de vida. Marli nesta ocasião tinha 6 anos de idade e levava as coisas que sua vó Quinita mandava no quarto de Candinho, que pedia para ela tirar as galinhas que estavam cantando e incomodando. Antes de morrer, entregou Marli para sua mãe cuidar. No final da sua vida era um sacrifício para comer, deixando Candinho muito fraco, não demorar de falecer e ser enterrado em Porto Alegre. Marli não sofreu muito por causa da sua pouca idade, mas lembrava muito dele.

Enquanto isso, Chico irmão de Marli foi levado por Anjinho para Itiruçu e ficou morando com seu irmão muito rico que era casada com Anorata e que deu muito conforto para ele. Viveu uns oito anos com o casal e depois o seu tio morreu, ficando Anorata com muito dinheiro. Só que ela tinha um homem diferente por mês, gastando toda riqueza dela. O que sobrou, ela comprou um carro zero para um taxeiro, que fugiu no carro novo com a empregada dela. Em seguida foram morar na Avenida Santas Luzia em Jequié-Ba e depois da morte de Anorata Chico foi residir na casa de Maria Letícia. Posteriormente seu tio Antônio o levou para morar na sua casa e trabalhar nas Lojas do Sul em Feira de Santana – Ba, onde casou e mora até hoje.

Depois da morte de Candinho, Marli continuou em Porto Alegre. Ocasião que estudou, ficava passeando, brincando, chupando umbu, tomando banho no Rio de Contas e era também bastante mimada pela avó Quinita, que sempre deixava ela ir para o rio, mesmo as tias não querendo.

Um ano após casarem em Maracás, Jose e Maria foram buscar Marli para morar com eles em Jequié, mesmo sem o consentimento de Quinita, porque estava apegada e gostava muito da neta.

Inicialmente Marli morou na Rua Beira Rio no mandacaru e depois na casa que José comprou na Av. Otavio Mangabeira, próximo da serraria. Logo começou a estudar na Escola Rosa Levita ao lado da sua morada. 

Conrado e Dona Leonor (Nozinha),

Neste local, morou depois seu Conrado e Dona Leonor (Nozinha), pais de Letícia e após residiu seu Leleu, Miralva e os filhos Linda, Lea, Fátima e Son. No lado direito da casa de José tinha a venda de seu Augusto (Nenzinho) e dona Rosa. No intervalo da escola, Marli ia ajudar sua tia Maria e quando chegava da escola tirava a roupa, guardava os livros e ia ajudar Marião, empregada da casa a enxugar e guardar os pratos, tarefa que ela ensinou a menina, uma solicitação de José, que era brabo e rigoroso e se não fizesse tomava uns bolos de palmatória. José ensinava Marli a colocar e tirar a mesa e Maria pedia para não mandar ela fazer pois era muito nova, mas José questionava dizendo que é de pequena que aprende. José e Maria não brigavam, pois ela sempre atendia seu marido. 

Marli ajudava também a descarregar a lenha para colocar no fogão da casa, lavava a sua roupa e tinha que ficar olhando Marião cozinhar para aprender, varria a casa, ajudava sua tia a cuidar dos meninos, fazia feira de verduras com ela, ajudava de A a Z nos afazeres da casa. Quando terminava as tarefas da casa ia fazer o dever da escola com José, que ensinava para Marli a tabuada, ocupação que não poderia errar, errando tomava um bolo com a palmatória que Charles tem até hoje. Disse também Marli que tomou bolos de dona Quinita em Porto Alegre, porque ia escondido tomar banho em uma lagoa que a água era suja. Tudo de José era no horário certo: 8 h o Café da Manhã,  e em seguida ia para a Serraria, Almoço 12h, depois voltava 1h para o trabalho, 3h Marli levava todo dia o café de José e dos funcionários no escritório da Serraria. Trabalhava na serraria: Ciara, Toninho, João Pedro, Vitalino, Celi Meira, Antônio e João Quintino. Certo dia quando levava o café, Marli furou o pé em um prego e depois em casa tomou um puxão de orelha de José porque contou antes para Maria. Ele pegou o toucinho colocou no fogo e quando estava bem quente colocava várias vezes no local que o prego entrou. Segundo Marli, na frente da serraria tinha casas de negócios alugadas para a oficina de Santos e a Retífica de Motores de Batista, Hercules e do Torneiro Gilberto. Diariamente José chegava do serviço no final da tarde, entrava assobiando como tivesse chamando a palavra filho e Charles ficava agitado, alegre, batendo na cadeira e falava: “Papai, Papai”. José era muito carinhoso, brincava com o filho e em seguida tomava banho, colocava o pijama, ouvia o programa “A voz do Brasil”, também músicas e depois das 9h ia dormir. 

Determinado dia conversando com Maria, José falou que Marli poderia abrir a porta 5:30 h para Marião, porém sua esposa não concordou, pois ela era muito pequena e não conseguiria acordar. José com a autoridade de sempre não aceitou o questionamento e disse que ela somente dormiria até o momento que receber um balde de água gelada. Marli que do quarto ouvia a conversa ficou nervosa, o coração começou a bate forte, mas com medo aceitou o pedido dele. A menina foi dormir cedo, pois teria que acordar quando visse o dia clareando para abria a porta, ensinou José. Marli contou que sentou na cama e disse que não ia dormir pois não ia acordar no horário. Que pediu a Deus para ajudar ela não dormir e consegui abrir a porta, contudo a menina logo dormiu. Passados algumas horas, falou que acordou assustada, saiu correndo abriu as duas bandas da porta e viu tudo claro, como José ensinou, que agradeceu a Deus e pensava “agora vou abrir dos os dias” e aliviada foi deitar. Sua tia Maria levantou umas 23h para fazer mingau para as crianças e viu a porta cozinha aberta e logo lembrou que tinha sido Marli que com medo abriu a porta naquele horário. Ela fechou a porta e 5:30h levantou bem devagar e abriu a porta novamente. No café da manhã, José perguntou para Marli se havia aberto a porta. Ela disse que abriu e depois Maria pediu novamente para ela não continuar abrindo a porta, contudo ele disse que tinha dado certo e repetiu a frase: “se não abrisse tomaria banho de água gelada”. Maria com pena de sua sobrinha continuou abrindo a porta.

A folga de Marli era no domingo, quando ia para o Cinema, onde assistiu Ben Hur, filme que marcou sua vida, Parque e Circo com José ou com as amigas filhas de dona Nicinha. Passava as férias escolares em Porto Alegre, viagem que realizava na boleia de um caminhão, recomendada ao motorista por José, que levava ela até o local do embarque. Com uma semana de férias, Marli recebia carta de José pedindo para ela voltar. Sua tia Maria contava que ele era brabo, mas quando Marli estava de férias ficava com muita saudade e até chorava. A menina não ligava e queria mesmo era curtir os três meses de férias, brincando muito com sua amiga predileta Olindina, filha adotiva de dona Maria Costa. Quando era época de voltar, Marli chorava muito com saudade de tudo e de todos da localidade.

O primeiro filho de Maria iria chamar José Barrois Meira, mas morreu na hora do parto com o umbigo enrolado no pescoço, gravidez que ela ficou muito enjoada, não comia e foi orientada pelo médico Humberto Mariote passar uma temporada em outra cidade. Foi para Maracas e ficou na casa do seu tio Rodolfino Marques da Silva. A seguir nasceu Charles e dois anos depois Tomaz, sempre de parto normal.

Marli quando tinha 7 anos de idade com José, Maria, Charles, Tomaz, Judite e a família do professor Antonin Brioude na residência dele.

Perto do dia de Natal de 1957, José comprou um guarda roupa para presentear sua esposa, quando chegou da loja os carregadores demoraram para colocar no local desejado e ele pegou o móvel sozinho, pois queria fazer uma surpresa para Maria, que não estava no momento. José tinha uma úlcera que não havia tratado e sempre estava queixando, contudo por causa deste peso que pegou começou a sentir mais enjoous, mas mesmo assim foi para serraria. Quando retornou para almoçar e abriu o portão começou a vomitar sangue e chamaram Hercules e foram urgentes para a para a Clínica Perpetuo Socorro. Foi atendido pelo médico Humberto Mariote, que tentou de tudo, mas não conseguiu resolver o problema e a solução foi levar para Salvador. Batista, Marialvo e Maria acompanharam de avião José sedado, que ao chegar no Hospital Português acordou e começou novamente a vomitar sangue. Todos recursos foram utilizados pelos médicos, porém ele não resistiu e faleceu no dia 27 de dezembro. Retornaram também de avião e o enterro que teve até a presença do prefeito da cidade Lomanto Júnior, amigo da família aconteceu no dia 29 de dezembro de 1957 com um grande número de pessoas. Maria depois da morte de José ficou de cama, muito triste, magra e teve que fazer tratamento médico.


Charles, Tomaz e Maria, depois da morte de José.

Três casos interessantes aconteceram após a morte de José, que Marli fez questão de contar. Um deles aconteceu com o filho novinho de Marião chamado Samuel, criança que sempre ficava sozinha no quanto do quintal, mas com a porta encostada. Neste dia ela não encostou a porta e Charles muito esperto foi no quarto sem ninguém perceber, olhou o menino e depois começou a carregar terra do quintal e jogar nele. Todos da casa estavam envolvidos nas tarefas e não observaram a travessura que Charles estava fazendo e quando deram falta dele foram no quarto e ficaram desesperados, pois Samuel tinha terra na boca, nariz, ouvidos e nos olhos. Marião que era chamada assim por ser alta e gorda, começou a gritar: “matou o meu filho”, todos vieram correndo e esqueceram de Tomaz, que estava no andador e caiu da porta que tinha três degraus e bateu a testa no chão, fazendo um galo e quebrou a boca. Maria gritou: “agora quem morreu foi o meu filho” e logo chegaram dona Nozinha, sua filha Letícia, vizinhas que eram experientes e foram socorrer o filho de Marião, colocaram o menino de cabeça para baixo, deram um banho, depois levaram no posto de saúde e o médico disse que estava tudo bem e Maria colocou gelo na testa de Tomaz, remédio na boca e logo ele ficou melhor, acalmando todos familiares e amigos.

Em outro, Charles sumiu e Maria, Marli e Marião começaram a procurar em baixo da cama, no quintal, no jardim na frente da casa. Maria desesperada gritava chorava, dizendo que ele tinha saído para a rua e os caminhoneiros tinha roubado. As vizinhas Dona Nicinha e as filhas Flora, Vene, ouvindo os gritos dela vieram saber do acontecido e começaram também a procurar o menino. Foram no Posto Fiscal, onde trabalhava Natinho, amigo de Maria, em todos os lugares da vizinhança e nada do menino. Então resolveram que deveria ligar para a polícia, mas antes Marião foi novamente procurar dentro de casa com mais cuidado. Ao abrir o guarda roupa e afastar os cabides, as roupas, encontrou Charles sentado no cantinho, todo encolhido e suando muito. Marião alegre gritou: “achei, achei”, isto depois de quase uma hora de procura, que parecia já ter passado um ano. Foram dar banho nele e Maria falava: “Charles não tem jeito mesmo, sempre fazendo estrepolias”.

E no último, Leir irmã de Lomanto Junior que morava em uma casa grande e bonita, onde tinha móveis feitos na serraria de José na rua onde fica hoje o estúdio de Wilson Novaes. Leir depois do enterro de José ficou amiga de Maria, achava Charles uma criança muito linda e toda as tardes ia na casa dela levar doces e pegar Charles num carro grande, bonito e preto para dar um passeio. A amizade foi aumentando e ela passou a buscar também para almoçar na casa dela. Maria confiava em Leir porque a família era muito conhecida e amiga. Em determinada ocasião, Leir chegou a levar Charles para passar o dia todo na casa e também na fazenda de Lomanto, somente trazendo o menino no período da noite e Maria ficou preocupada. Leir era muito bonita e foi morar em Salvador e não deu mais notícia.


Marli com 11 anos, quando fez a primeira comunhão na Igreja Matriz de Santo Antônio.

Após o inventário e repartição dos bens da família, Maria comprou uma casa no centro, época que Marli tinha 11 anos, estudou no colégio Castro Alves durante cinco anos e Conceição esposa Marialvo Meira foi sua professora. A seguir, estudou no IERP até a sua formatura em 1968. Marli depois trabalhou na Casa de Saúde Santa Helena e deu banca na garagem de sua tia. Casou com 22 anos de idade com Astrogildo Souza Matos (Dodoca) com 44 anos e foi morar durante seis anos em Governador Valadares – MG, época que nasceu Lina Mara em Jequié e depois de nove anos Murilo Cesar também em Jequié.


Marli com 20 anos de idade em frente a casa de Maria no centro de Jequié - BA.

No período que estava em Governador Valadares, Tomaz morou um ano com Marli e estudava o segundo ano cientifico e lembra que ele cantava na janela do quarto a música Felicidade, gravada por Caetano Veloso e que passou pouco tempo na cidade, porque estava com saudade dos amigos e da namorada Rita filha de Cotrim.

Maria Letícia da Silva Meira, mãe adotiva de Marli faleceu com 94 anosa de idade em Tatuí – SP em 12 de abril de 2022 e Marli é viúva, mora em Jequié com Murilo César e Lina Mara casou com José Mário e reside na mesma cidade.

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