J. B. Pessoa
Nestor
Ribeiro foi um dos baluartes da emancipação política de Jequié. Natural de
Ituaçu, município de sudoeste baiano, aportou em terras jequieenses na segunda
metade do século XIX. Juntamente com outros cidadãos provindos de cantões
diferentes, Nestor Ribeiro percebeu o futuro promissor, que o dinâmico arraial
irradiava.
O
povoado que nasceu da Fazenda Borda do Rio Jequié cresceu entre as suas duas
margens, acompanhando até a sua confluência com o Rio de Contas. Esse local era
um cruzamento de várias vias com tropas e boiadas, vindos de diversas áreas do
Sertão da Bahia e Norte de Minas Gerais. O Rio Jequié, o qual deu o seu nome à
cidade é atualmente conhecido como Rio Jequiezinho, Rio de Elza, Rio da Suíça
etc. Crescendo rapidamente e se transformando em um promissor arraial, Jequié
atraiu, também, pessoas de diversas nacionalidades.
Sendo
um ativo homem de negócios, com fazenda, olaria e casa comercial Nestor Ribeiro
enveredou, também, na apaixonante arte da política. Juntamente, com outros
cidadãos, participou ativamente no movimento pela emancipação política de
Jequié.
Aqui
chegando, diferentemente de outros moradores do arraial, Nestor Ribeiro
preferiu construir sua residência em seu sítio, o qual ficava numa área alta,
que dava uma visão geral de todo o arraial de Jequié, longe da agitação geral
da comunidade.
Por
essa época, Jequié sofria com o banditismo regional e, como distrito de
Maracás, já na condição de vila, com os arrochos da luta política dos “Rabudos”
e “Mocós”, cujos respingos atingiam a população jequieense.
Em
meados do ano de 1894 chega a Jequié, o advogado Lindolfo Jacinto Rocha,
abrindo seu escritório na Rua da Vitória, que atualmente leva o seu nome. Aqui
chegando, Lindolfo Rocha contrai matrimônio com Dona Áurea Augusta, cunhada de
Nestor Ribeiro, o qual desfrutava de invejável prestigio em Jequié.
Chegando
a conclusão de que, enquanto Jequié permanecesse na condição de distrito de
Maracás, os reflexos de sua luta política continuariam incidindo sobre a
população. Sendo assim, os dois amigos e concunhados uniram suas forças e,
juntamente com outros cidadãos fundaram o Clube União.
Como a
residência de Nestor Ribeiro ficava distante do balburdio jequieense e longe da
curiosidade pública, o seu casarão serviu como palco das articulações políticas
de seus confrades. Nele Nestor Ribeiro e Lindolfo Rocha, juntamente com outros
cidadãos, tratavam dos assuntos relacionados com os problemas da vila de
Jequié. Em suas dependências funcionaram as primeiras sessões do Clube União.
Construída
no último quartel do século XIX, dentro dos padrões das grandes construções
soteropolitanas, nas dependências do casarão, muitas articulações políticas
foram tramadas com Lindolfo Rocha para a emancipação política de Jequié.
Após
várias reuniões e conjunturas políticas junto ao governo do Estado da Bahia,
levando em consideração que todo esse processo foi gastos mais de dez anos,
pode Lindolfo Rocha e seu amigo Nestor Ribeiro verem os seus sonhos realizados.
Compridas as exigências legais , no dia 24 de outubro de 1897, em reunião do
Conselho Municipal, presidida por Nestor Ribeiro, foram acertadas os detalhes
para a comemoração das festividades do dia seguinte. Graças a isso no dia 25 de
outubro de 1897, o município de Jequié foi oficialmente instalado, cortando as
amarras que o prendia a Maracás.
Tendo
vida própria e independente, embora na condição de vila, Jequié deu os seus
passos firmes rumo ao progresso. Em 07 de janeiro de 1898, o Conselho Municipal
aprovou, por unanimidade, um voto de louvor ao seu presidente Nestor Ribeiro e
ao intendente Urbano de Souza Brito Gondim, pela operosidade demonstrada na
condução da coisa pública.
Em 19
de janeiro de 1899 foi criada a primeira paróquia em Jequié. Havia anos que os
moradores da vila almejavam essa graça. Novamente, no interior do casarão de
Nestor Ribeiro, o consenso para a escolha do padroeiro foi feito pela união de
italianos e brasileiros, escolhendo Santo Antônio de Pádua, santo português,
que se notabilizou em Pádua, cidade italiana, tendo como vigário o cônego
Jacinto Hilário Ribeiro Sanches, cuja igreja foi erguida na Praça do Comercio,
hoje Praça Luiz Viana.
Nos
primeiros tempos de seu mandato, o intendente Urbano de Souza Brito Gondim
manteve o mais estreito relacionamento com o Conselho Municipal. A partir de 12
de junho de 1899, por questões políticas contrárias, houve rompimento do
legislativo com o executivo. Porém, os moradores da vila de Jequié pouco se
importaram com o fato. Suas atenções estavam voltadas para as consequências de
uma nova seca, que contribuíra para que um grande número de flagelados e
retirantes se abrigasse na periferia da vila.
O
grande medo da população era de que, premidos pela fome, os retirantes pudessem
saquear as residências e casas comerciais. Havia boatos de que entre os
retirantes tinham bandoleiros e elementos de maus costumes. Contudo, apesar do
medo, não se verificou nenhum incidente de maior gravidade. Mais uma vez, o
prestigio pessoal de Nestor Ribeiro foi de grande valia para a população.
Conseguiu do governo do estado, o envio de substancial número de víveres e
mantimentos, concorrendo para que os retirantes, passado o momento crítico,
esvaziasse a sede do município, tão repentinamente como chegaram.
Passados
o perigo em consequência da seca, a trégua entre o legislativo e executivo
cessou, após o resultado das eleições municipais de 12 de novembro de 1899.
Em 15
de janeiro de 1900, prestigiado pelo governo estadual, Nestor Ribeiro assumiu a
Intendência Municipal em caráter interino, em razão do afastamento do titular
Urbano Brito Gondim, determinado pelo Conselho. Por
essa
época, um surto de febre amarela se abateu na vila. A epidemia atingiu
indistintamente pessoas de todas as classes sociais. Calcula-se que o número de
mortos atingiu mais de uma centena da população. Entre as vítimas estava a
esposa de Nestor Ribeiro. Uma junta médica, vinda da capital, chegou a Jequié
para socorrer a população, deixando no município medicação e instruções aos
cuidados do médico José Alves Pereira.
Durante
o auge da epidemia, a vila de Jequié ficou quase despovoada, pois seus
moradores, receosos da doença, se retiraram temporalmente. Depois da morte de
sua esposa, Nestor Ribeiro preferiu deixar a política, passando a chefia de seu
grupo ao médico José Alves Pereira.
A
permanência de Nestor Ribeiro como Intendente de Jequié não chegou há sete
meses. Apesar dos infortúnios que abateu a vila, sua gestão foi proveitosa.
No
interior do casarão do patriarca Nestor Ribeiro, além dos planos para a
emancipação política de Jequié, foi palco dos de outras atividades políticas, o
qual acolheu os ideais do movimento integralista dos anos 30. O casarão
abrigou, também, no final dos anos 60 e começos dos 70, uma espécie de
“subterrâneo da liberdade”, ideais de uma geração que conspiraram contra a
ditadura militar, a qual era filiada ao partido comunista. Mais tarde, o
casarão foi transformado em órgão público como sede do INPS; depois para a
secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Jequié, a seguir, sede da
Guarda Municipal de Jequié, voltando, novamente, abrigar a Secretaria de
Cultura e Turismo, após uma restauração em suas dependências.
Bibliografia.
A Nova
Historia de Jequié e Capítulos da Historia de Jequié de Emerson Pinto de Araújo,
Fatos Pitorescos da Cidade Sol de Raimundo Meira; Geografia da Bahia de
Fernando Floriano Rocha; Geografia da Bahia de Olga Pereira Meting; Revista de
Jequié – Informativa de 1970 – Gestão: Waldomiro Borges; Jequié, Síntese
Histórica e informativa de 1992 de Dernival Rios – Gestão: Luis Amaral, projeto
de implementação do memorial Nestor Ribeiro, de Lucia Brito Ribeiro. Um livro
de pontos para o curso primário, editado nos anos 50 pela Tipografia Sudoeste,
além dos depoimentos de diversos cidadãos.
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