J. B. Pessoa
A
cidade de Jequié nasceu na confluência de dois rios, onde estava localizada a
sede de uma fazenda, desmembrada do antigo latifúndio Borda das Matas, que
pertencia ao inconfidente José de Sá Bithencourt. O seu nome é derivado do
pequeno afluente do Rio das Contas, outrora denominado Rio Jequié, hoje Rio
Jequiezinho. A Fazenda Barra do Jequié, ou simplesmente Jequié, pertencente a
Joaquim Fernandes de Souza, casado com a bisneta do inconfidente, tornou-se
ponto obrigatório de repouso, aos cruzamentos naturais entre tropeiros e
boiadeiros, vindos do sertão e do norte de Minas Gerais, com o destino ao
litoral. Esses constantes movimentos de idas e vindas, com paradas na Fazenda
Jequié, ocasionou o aparecimento de rancharias e das primeiras vendas, onde o
tropeiro e o boiadeiro refaziam suas forças e tomava as suas “pingas”,
comentando as noticias que eram trazidas de diversas paragens. Não tardou
muito, e em volta da fazenda começou formar um pequeno povoado, que crescia,
constantemente, com o aparecimento de retirantes, (1860) provindo das secas
sertanejas. A partir de então, foram se multiplicando às construções, próximas
à sede da fazenda, incentivadas pelo próprio dono, que doava ou vendia terras a
quem quisesse se estabelecer. As primeiras praças e ruas foram aparecendo e as
casas sendo construídas seguindo a margem esquerda do Rio de Contas e as duas
margens do Rio Jequiezinho, Havia poucas casas de telhas. A maioria era de
taipa, coberta de palhas, com grandes quintais, onde eram plantadas hortas,
árvores frutíferas e com criatório de porcos e galinhas. A localidade crescia
com um pequeno comércio, constituído, na maior parte, de casas de pasto,
rancharias, pequenas vendas e quitandas, que serviam aguardentes e atendiam as
necessidades de tropeiros, boiadeiros e viajantes que cruzavam esses rincões.
Nessa época começaram a aparecer os primeiros comerciantes ambulantes, a
maioria de origem árabe, conhecidos como “mascates”, os quais traziam
mercadorias para serem negociadas com os habitantes de um povoado, que crescia
com vigor, transformando-se num arraial, cheio de esperanças no futuro. É
Também desse tempo, o começo da imigração italiana, com a chegada de João
Rotondano (1866), José Rotondano (1868) e José Niella (1869), que vieram
estabelecer no povoado, dinamizando o seu comercio, sendo os precursores da
colônia italiana em terras jequieenses. Por volta de 1877, época de outra
grande seca, Jequié teve a sua população aumentada, com novas levas de
retirantes que, acolhidos em suas terras, teve a sua população aumentada,
terminando, assim, sendo elevado à categoria de distrito de Maracás, em 13 de
agosto de 1880.
Com a
chegada dos italianos e a instalação da firma Rotondano & Niella, o arraial
foi progredindo a passos largos, devido aos métodos modernos de seus
empreendedores. Graças o apoio dessa firma pode o arraial ter a sua feira
semanal e o seu serviço de correios. Os italianos dinamizaram o comércio
jequieense, deixando marcas dessa atuação. O trabalho desses empreendedores,
oriundos da cidade italiana de Trecchina, foi primordial para o progresso da
região. A agricultura e a pecuária ajudaram a desenvolver a riqueza, com o
plantio de
diversas
culturas, como fumo, algodão, mamona, cana, café, cacau e a criação de gados
bovinos, suínos caprinos e muares.
A
implantação da pecuária em Jequié, não apresentou a mesma rentabilidade, que
agricultura, no seu início. O gado solto pela caatinga necessitava de cuidados
especiais e a maioria dos vaqueiros tinha outras atividades. Além disso, a
região era infestada de felinos, a exemplo da onça pintada e da suçuarana, que
faziam estragos nos rebanhos. Com o tempo e muito trabalho, abrindo novas
pastagens e a renovação do capim, o rebanho bovino, a principio constituído de
gado rústico, melhorou de qualidade, com a introdução de raças mais apuradas.
Apesar
de trazer em seu bojo o vírus do progresso, Jequié era atormentada pelo
banditismo que infestava a região. Euclides da Cunha, em seu famoso livro “Os
Sertões”, escreveu: “Em Jequié, toda sorte de arbitrariedades eram cometidas”.
Além do bandoleiro vulgar, havia chefes políticos, os quais utilizavam serviços
de jagunços, para fazer valer suas pretensões. O respingo das lutas entre as
facções políticas para deter o poder no município de Maracás, atingia Jequié na
sua condição de distrito. Nessa época, o bacharel em direito, Lindolfo Rocha
reuniu os homens de bem da terra e fundou o Clube União, que objetivava o
combate ao banditismo e a emancipação política de Jequié. Concretizando seus
objetivos pode o ilustre bacharel dar uma nova realidade a Jequié: a de
município autônomo e de vila emancipada.
Ainda
na condição de distrito de Maracás, os italianos que, além dar impulso à
agricultura e pecuária, ensaiaram os primeiros passos na atividade industrial.
José Rotondano passou a fabricar rolos de fumo, enquanto Miguel Conte fabricava
tachos de cobre e consertava armas. A criação de gado alimentava uma indústria
de derivados, como a manteiga, queijo e requeijão além de carnes “charqueadas”
secas, inteiramente absorvidas pelo mercado regional. Com a chegada de vários
artesãos, provindos de diversos cantos da região, pode Jequié contar com
padarias, alfaiatarias, sapatarias e marcenarias. Com a plantação de mandiocas
surgiram às casas de farinha e com o cultivo da cana, começou a produção de
rapaduras e apareceram os primeiros alambiques, dando destaque à produção de
aguardente. Entretanto, a produção artesanal que fez Jequié ser conhecida
nacionalmente, foi a produção de selas. Tanto que, Graciliano Ramos, em um dos
seus romances, deu destaque às famosas selas de Jequié.
Em
1908, quando o presidente do Brasil, Afonso Pena organizou a grande Exposição
Nacional para comemorar o centenário da abertura dos portos às nações amigas, o
comércio jequieense, liderados pela colônia italiana, marcou presença, ao lado
de onze mil expectadores, conquistando um diploma e nove medalhas na referida
exposição.
Com a
chegada da ferrovia na cidade em outubro de 1927, pode o município escorrer a
sua produção agropecuária com mais facilidade. A produção jequieense de
algodão, arroz, cacau, café, feijão, fumo, milho e farinha atingiram patamares
elevados, assim como sua produção de gado. A produção jequieense de cacau no
ano de 1926 assegurou a cidade o quarto lugar no Estado.
Durante
as décadas de 30 e 40 surgiram algumas indústrias de pouca importância. A
agropecuária era mais importante. Nessa época a cidade tinha um comercio
bastante desenvolvido e era considerada a terceira cidade mais importante do
Estado. Nos anos 50 e 60 surgiram algumas fabricas de destaque;
outras,
devido à retração da economia jequieense, tiveram curta duração, a exemplo de
uma fábrica de pregos e uma indústria de calçados, que chegou a exportar
sapatos para países do continente sul americano. Nessa época duas indústrias
ficaram famosas entre a população e concorriam com as similares do sul,
ganhando a preferência dos jequieenses: a Fábrica de doces “Peri” e o
refrigerante “Guaraná Regis” fabricado por Adalto Simões. É também desse tempo
a Fábrica Carioca, que produzia caramelos e dos deliciosos biscoitos “Tio-Gau”
fabricados pela padaria Conceição.
Em
1968 quando a população do município foi estimada em 84.430 habitantes, a
população pecuária era de 247.122 cabeças, sendo que, o gado
bovino,representava 81,8% do valor total. Nesse ano foram produzidos 9,8
milhões de litros de leite e a produção de ovos atingiu a cifra de 595 mil
dúzias. Quanto a indústria de transformação, existiam 124 estabelecimentos, nos
quais trabalhavam 897 operários.
Em
1970 Jequié contava com indústrias bastante desenvolvidas de confecções,
calçados, colchões de molas, bebidas, derivados de leite, além de
beneficiamento de sisal, fumo, café, mamona, couros, ouricuri, carnes e
derivados. Havia também fabricas de Móveis, cordas, carroçarias de madeiras,
serrarias, gráficas e produtos de cerâmicas.
Na
última década do século passado e o inicio da atual, o cacau, a mandioca, e a
cana-de-açúcar aparece como as principais atividades agrícolas do município. É
também cultivado, com bastante destaque, o algodão a mamona, feijão, milho,
tomate, abacaxi, banana, melancia, coco e laranja. No setor pecuário destaca os
rebanhos bovino, suíno e caprino; destacando, também os rebanhos ovinos,
eqüinos, e muares. O município dispõe também de grande quantidade de granjas,
as quais produzem aves e ovos, que são exportados para outras localidades.
Apesar
de destaque em muitas atividades, o frigorífico do Sudoeste Baiano (FRISUBA),
que chegou a abater em 1992, cerca de 400 bois por dia foi fechado, como também
o Curtume Aliança, que exportava seus produtos para todo o Brasil e para o
exterior, a exemplo do Mercado Comum Europeu. A industria de confecções teve,
também, seus reveses.
Atualmente
a pecuária bovina, ainda coloca o município entre os principais produtores de
carne da Bahia e a cafeicultura começa a ter um destaque especial em certas
áreas. O cacau decaiu, não só em Jequié, como também nos municípios do sul do
Estado, seus maiores produtores.
A
atividade industrial localizada no Distrito Industrial de Jequié está em plena
expansão, principalmente nas áreas de produtos alimentícios, vestiários e
beneficiamento de produtos agropecuários. A indústria de sapatos Ramarim é a
mais importante no número de operários
Nos
últimos tempos tem se comentado na cidade a pretensão de indústrias arrojadas,
a exemplo de uma siderúrgica e três companhias de mineração. A cidade tem
potencial. Cabe aos homens públicos valorar seus ideais e valorizar as
perspectivas da região, trabalhando, no sentido de transformar esta cidade, que
muito brilhou no passado, voltar a ter o destaque de antigamente.
Este
modesto trabalho foi realizado em 2008, pelo então monitor do Museu Histórico
de Jequié João Batista Pessoa, visando a atender os alunos secundários do
município, em suas pesquisas.
Bibliografia.
A Nova Historia de Jequié e Capítulos da Historia de Jequié de Emerson Pinto de Araújo; Fatos Pitorescos da Cidade Sol de Raimundo Meira; Geografia da Bahia de Fernando Floriano Rocha; Geografia da Bahia de Olga Pereira Meting; Revista de Jequié – Informativa de 1970 – Gestão: Waldomiro Borges; Jequié, Síntese Histórica e informativa de 1992 – Gestão: Luis Amaral e um livro de pontos para o curso primário, editado nos anos 50 pela Tipografia Sudoeste.
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