por Lula Bonfim
O prefeito de Jequié e presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Zé Cocá (PP), negou que tenha traído o governador Rui Costa (PT) ao acompanhar o vice-governador João Leão (PP) na mudança de lado que sacudiu a política baiana em março. O gestor municipal aproveitou para cutucar um rival político: o deputado federal Antônio Brito (PSD).
“Traição seria se eu fizesse, por exemplo, como Antônio Brito fez na primeira eleição de Rui. Chegou aqui em Jequié na última semana e fez um jantar para Paulo Souto, escondido, dizendo a todo mundo que estava com Rui. Eu fiz questão de mostrar o lado em que eu estaria, com quem eu estaria, e acabou. Isso que é importante para mim. Não caracterizo isso como traição. É posição, de mostrar o lado e onde realmente você está”, disparou o prefeito.
Zé Cocá confirmou que o deputado federal Cláudio Cajado (PP) questionou a escolha de Cacá Leão (PP) para a vaga de candidato ao Senado na chapa de ACM Neto (UB). Entretanto, de acordo com o presidente da UPB, a decisão não foi imposta e já era um sonho antigo do Progressistas na Bahia.
“Todos os membros do partido, fora Cajado, aceitaram isso. Inclusive, lá atrás, era uma das indicações do nosso partido, que Cacá Leão fosse o nosso candidato a senador. E [João] Leão, naquele momento, achou que estava preparado e que ele seria. Falando que Leão não aguentaria essa maratona, que seria muito alta, a gente colocou Cacá Leão. Mas já era um sonho da maioria absoluta do partido Cacá na chapa de Neto, com certeza. Então foi tranquilamente digerido no partido”, afirmou Cocá.
Na entrevista ao Bahia Notícias, o prefeito de Jequié falou ainda sobre subsídio ao transporte público, eleições presidenciais, apoio a candidaturas do legislativo e muita coisa sobre a disputa estadual que se aproxima. Confira na íntegra a seguir.
A Câmara aprovou, nesta semana, o
piso salarial para os profissionais de enfermagem. Como esse piso pode impactar
no orçamento das prefeituras na Bahia?
Hoje, se você colocar, 100% dos profissionais de enfermagem que trabalham nos municípios são pagos pelos municípios. Então, como vai dobrar o piso, qual é a nossa luta? É para que tenha o piso, mas para que o governo federal, nos programas em que financia os municípios, aprove a PEC 122/2015, que é não criar nenhuma despesa sem a fonte pagadora; e que também aumente os repasses aos municípios para que a gente possa pagar os profissionais, que seria a coisa justa. São programas federais ou programas estaduais. A intenção dos municípios é essa, que se aumente o piso, mas que também se indique a fonte pagadora.
Muitos prefeitos pelo Brasil têm
cobrado do governo Bolsonaro uma ajuda para segurar o aumento da tarifa de
ônibus neste ano. Como está o andamento das negociações por um subsídio do
governo federal ao transporte público nos municípios?
Eu, inclusive, estive e falei com o prefeito [de Salvador] Bruno Reis [UB] sobre esse problema. Quanto maior a cidade, mais tem esse problema na questão do transporte público. As cidades menores quase não têm esse problema. Mas é um problema seríssimo. Hoje, o transporte público não tem se pagado em todos os cantos da Bahia e acho que do Brasil. O governo federal sinalizou uma conversa, mas não sinalizou nenhum apoio em relação a isso. Tanto o governo federal quanto o estadual. Há uma cobrança aos dois entes, para que eles dêem esse apoio na questão do transporte público.
Jequié foi um dos municípios baianos
que sofreram com as chuvas de dezembro de 2021. Foi o momento mais delicado da
sua gestão até aqui? Como a cidade conseguiu se recuperar?
Nós conseguimos, com recursos do município mesmo, atuar rápido. Do governo federal, tivemos um apoio de pouco mais de R$ 200 mil, um valor irrisório para a recuperação da cidade. Do governo do estado, ainda não tivemos apoio nenhum. Tivemos só o apoio da doação das geladeiras, através da Coelba, 300 e poucas geladeiras. E nós estamos trabalhando agora para que o governo do estado autorize as 190 casas. Já tem um laudo do Corpo de Bombeiros, para que a gente comece a contratação para fazer essas casas. Há um déficit muito grande e a população tem cobrado muito a construção dessas casas.
O seu partido, nacionalmente, é
alinhado ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Mas, aqui na Bahia, também
sempre esteve muito ligado ao ex-presidente Lula. Qual é o caminho natural para
o PP baiano em outubro: Lula ou Bolsonaro?
Isso vai depender de muitas questões. O PP hoje está alinhado com [ACM] Neto. O que Neto buscar, a gente vai buscar. Há uma resistência de grande parte do partido a Bolsonaro. E há também uma resistência de parte em relação a Lula. Eu, particularmente, sempre digo que Lula, com 76 anos de idade, para governar esse país não é brincadeira. Eu acho que já passou o tempo. Lula fez muito, é um cara muito carismático, mas eu ainda sonhava com uma terceira via, que, cada dia que passa, vai definhando e a gente vai vendo que não vai chegar. Mas seria um sonho: uma via que mudasse isso, que tirasse Bolsonaro pelas loucuras que faz, mas também não cedesse ao presidente Lula, com idade avançada, para governar um país desse, com uma crise desse tipo.
A mudança na chapa majoritária, com a
saída de João Leão e a entrada de Cacá na vaga para o Senado, foi bem digerida
pelas demais lideranças políticas do PP? Porque Cacá até comentou sobre uma
insatisfação do deputado Cláudio Cajado. Como está o clima no partido hoje: a decisão
foi vista como natural ou como uma imposição?
Foi vista como natural. O único que questionou de fato foi Cajado. Leão resolveu tomar essa decisão [de desistir da candidatura ao Senado] logo em seguida dele passar mal naquele evento da pisadinha. E aí todos os membros do partido, fora Cajado, aceitaram isso. Inclusive, lá atrás, era uma das indicações do nosso partido, que Cacá Leão fosse o nosso candidato a senador. E [João] Leão, naquele momento, achou que estava preparado e que ele seria. Falando que Leão não aguentaria essa maratona, que seria muito alta, a gente colocou Cacá Leão. Mas já era um sonho da maioria absoluta do partido Cacá na chapa de Neto, com certeza. Então foi tranquilamente digerido no partido. Cajado questionou, mas não foi nem por uma imposição. Cajado queria mais tempo. Só que não podíamos demorar muito, porque Neto já tem outros movimentos. As coisas vão passando e Leão não tem mais condições de fazer uma maratona como estava fazendo com Neto. E a maratona de deputado federal, por mais que seja pesada, é 10 vezes menor que uma maratona de majoritária.
Com a candidatura de Leão a deputado
federal, o que muda para as demais candidaturas do PP à Câmara? Acha que Leão
tem capacidade de ser o mais votado do estado?
Eu acho que ele pode ser o mais votado e levar de fato o PP a fazer cinco ou seis nomes, em vez de só quatro, que é o que todo mundo vinha dizendo. Leão tem uma pujança. Não que Cacá não seja um grande parlamentar, mas Leão, como ele é, como ele constrói, vice-governador, tem tido um trabalho na Bahia inteira, ele terá um voto solto. Já é muito importante. E terá votos em grandes cidades em que ele tem atuação desde quando começou a vida política. Ele será um puxador de votos.
A gente sabe da tradição que é a
indicação de votos dos líderes políticos municipais. Os prefeitos têm relação
próxima com parlamentares, que muitas vezes disponibilizam emendas para as
prefeituras. Quem serão os candidatos apoiados por Zé Cocá, prefeito de Jequié,
à Câmara e a Assembleia Legislativa em outubro?
À Câmara Federal, teremos o apoio ao hoje vice-governador João Leão e ao deputado federal Leur Lomanto Junior. E, para estadual, teremos só o candidato Hassan [Iossef], que foi meu secretário de governo e foi vice-prefeito aqui de Jequié. Terá meu apoio incondicional, para a gente ir à Assembleia Legislativa, com fé em Deus.
Desde que o PP deixou a base do
governo do estado, petistas têm dito que a maior parte dos prefeitos do PP
devem apoiar a candidatura de Jerônimo ao governo do estado. Você tem
participado de conversas sobre isso com prefeitos da legenda? Como tem visto
essa divisão de forças?
Acho que a maioria absoluta ficará com o partido. Muitos estão terminando de assinar seus convênios [com o governo do estado] para tomar suas posições políticas. E alguns, com certeza, irão ficar [na base do governo Rui], alguns que têm relação próxima com o governo ou coisa parecida. Toda unanimidade é burra, né? Mas, com certeza, a maioria absoluta do Progressistas irá ficar com Neto. Não tenho dúvidas disso.
Quando o PP deixou a base do governo
do estado, inicialmente se especulou que você pudesse se manter próximo a Rui
Costa, mas imediatamente você marcou posição firme junto a João Leão. Para
algumas lideranças do governo, você foi visto até como um traidor, pela relação
que tinha com o governo do PT. Como você reagiu a isso e como é sua relação
hoje com o governador?
Eu não conversei com o governador depois sobre isso. Eu nunca escondi do governador, e ele sabe disso, a minha relação pessoal com João Leão. Nunca escondi. O governador sabe. Inclusive, na quinta-feira antes do rompimento, quando começou a estremecer, ele me chamou para ir na casa dele e eu disse: “se houver um rompimento, eu ficarei com João Leão”. Pela minha relação e pela forma de conduzir o processo. Se fosse o contrário, se fosse uma traição de Leão ao governador, com certeza eu ficaria com o governador e diria a Leão: “você está errado”. Como Leão foi tratado, eu me senti no dever e na obrigação de ficar com ele. Foi ele quem me botou na política, me ajudou, construiu junto comigo. Eu tenho uma relação pessoal de amizade com Leão e com Cacá. Então foi uma forma truculenta como o governo tratou Leão. Traição seria se eu fizesse, por exemplo, como Antônio Brito fez na primeira eleição de Rui. Chegou aqui em Jequié na última semana e fez um jantar para Paulo Souto, escondido, dizendo a todo mundo que estava com Rui. Eu fiz questão de mostrar o lado em que eu estaria, com quem eu estaria, e acabou. Isso que é importante para mim. Não caracterizo isso como traição. É posição, de mostrar o lado e onde realmente você está. E outra coisa: o governo queria porque queria que eu largasse Cacá e Leur, que era um compromisso firmado desde a minha campanha para prefeito. E o governador botou na cabeça que queria que eu apoiasse um candidato a deputado federal do município, que eu tivesse uma chapa própria aqui. Eu não poderia deixar dois deputados que colocaram mais de R$ 50 milhões em obras na cidade para atender a um capricho pessoal do governador. Isso pesou muito, quando o governador me chamou e exigiu que eu fizesse essa troca.
Você ou o PP têm alguma
preferência para candidato a vice de ACM Neto?
O PP não tem interferido muito nisso. A gente tem deixado muito à vontade, assim como deixaram a gente bem à vontade no Senado. A composição da chapa é muito boa. Nós temos bons nomes. O nome de Marcelo Nilo é muito bom, Zé Ronaldo é muito bom, Márcio Marinho é muito bom. Temos bons quadros disputando essa vaga. (Bahia Notícias)
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