J. B. Pessoa
O Seu
Fulô está muito contente, com a festa desse sábado no Clube dos Cadetes,
comemorando mais um aniversário da cidade. Afinal, a festa será animada por uma
dessas bandas modernas, denominadas de “conjuntos” e a sua bela filha, que é
uma excelente cantora, vai cantar durante todo o evento. Fui convidado pelo
distinto amigo, mas não sou um homem de festas sociais, onde a gente não
conhece a maioria das esnobes pessoas, que delas participam. Sou um capiau que
gosta de festas em casa de amigos, onde todos se conhecem e a gente prosa com
satisfação, bebendo moderadamente.
Meus
amigos, por falar de festas em clubes, quem gostava dessas coisas era meu Tio
Abílio Pessoa, que adorava acontecimentos, onde a sociedade se reunia para
comemorar alguma data especial. Abílio era um homem de posses, casado com uma
senhora, provinda de uma das mais importantes famílias da região. Morava em
frente do Jequié Tênis Clube. Ele era um homem moderno e fazia de tudo para
que, o sobrinho tabaréu se enturmasse com os rapazes aristocráticos da cidade.
Eu sempre me dei bem com todas as pessoas e sempre tive amigos de todas as
classes sociais; afinal eu era um homem de negócios e, necessariamente, teria
de conviver com todos. Contudo, nunca gostei de pessoas esnobes, daquelas que
só dão atenção aos mais ricos, em qualquer ocasião festiva. É verdade Seu
Macedo?!... O Senhor também não gosta de gente metida a besta?!... Pois é!
Justamente nessas festas encontramos pessoas assim. É isso mesmo Seu Otonho, as
festas boas quando são nas casas dos ricos ou pobres; nas dos remediados são
chatas!... Concordo com o senhor! Nas festanças ricas, bebidas finas são
servidas para todos e nas festas do pobre nunca falta uma boa destilada. Porem,
na casa do remediado ele serve o bom vinho ou uísque para as pessoas mais
importantes, reservando o vermute com cachaça para os convidados tabaréus.
Voltando
a falar no meu tio Abílio, ele adorava os filmes românticos, onde a historia se
passava em festas elegantes, das principais cidades americanas. Sendo assim,
quando a sede do JTC foi transferida para o local, onde hoje se encontra, houve
um glamoroso baile, em suas dependências, comemorando o aniversário de
emancipação política de Jequié. Abílio, como era sócio do Tênis, fez questão da
minha presença e não tive como recusar ao insistente convite. Na noite de tão
esperado evento, compareci com o casal, na companhia de uma sobrinha da sua
esposa, Agostinha. Seu moço!... Meus caros companheiros de prosa, vocês
precisavam ver: foi uma noite elegante, com a fina flor da sociedade
jequieense. As senhoras ostentavam os seus mais alinhados vestidos, comprados
nas melhores lojas da capital baiana ou costurados pelas mais talentosas
modistas da cidade. Para os homens, o traje foi a rigor; ou seja: o chamado
smoking, com todo mundo parecendo um “pinguim de geladeira”!... Para alguns
rapazes, como eu, foram permitidos trajes escuros, classificados como “passeio
completo”. Como eu tinha um terno de caxemira
escuro,
com listas cinza, usei naquela memorável noite. Abílio estava felicíssimo com
aquela festa. A todo o momento, ele dizia contente: “Olha Manoel, está até
parecendo um filme colorido em Nova Iorque!” E não era exagero, não!... Seu
moço, eu nunca presenciei, em toda a minha vida, uma festa com tantas moças
bonitas. A banda que animava a festa era do Rio de Janeiro. Em todas as mesas,
o champanhe, finos vinhos e uísques eram servidos por competentes garçons e
variados pratos sofisticados eram convindos naquela noite maravilhosa.
A
festa tinha começado às 22 horas, com a banda tocando valsas e boleros. Porem,
depois da meia noite, a rapaziada pediu a banda, que executasse algumas
marchinhas de carnaval, sendo aprovadas pelas moças mais afoitas do salão, com
uma salva de palmas. Pois bem, até eu, que nunca brinquei o carnaval, caí um
pouco na folia, a convite de Elvira, a sobrinha da minha tia Agostinha; porém,
logo depois, eu comecei a me sentir ridículo e voltei para a mesa, com a minha
bela companhia. Abílio não estava contente com aquela mudança, pois detestava
carnavais. Seu moço!... Meus companheiros de prosas!... Não é que, o meu tio
tinha razão! Não demorou muito e uma confusão começou no meio da pista de
danças, com dois jovens se atracando em uma briga, por motivo de ciúmes.
Resultado: de repente, todo o salão se transformou em uma briga generalizada. O
escarcéu tomou conta de todo o salão, com todo mundo participando daquela
desordem. Abílio levantou-se e gritou indignado: “Pronto!... Da elegância de
Nova Iorque, formos parar num saloon de cowboys, do Velho Oeste!” Ele estava
correto!... Pareciam que a rapaziada brigava pelo puro prazer de brigar. Pedi
ao meu tio que se acalmasse e ele sentou em sua cadeira, na espera do
desenrolar dos acontecimentos. Sentado eu estava e sentado fiquei, saboreando o
meu uísque escocês. Como?!!!... O senhor detesta uísque Seu Otonho?... Tem
gosto de madeira podre?!... Bom, eu prefiro, também, uma boa destilada mineira.
Voltando a prosa, a nossa mesa estava situada em um canto do salão, de onde
podíamos ver os acontecimentos, sem nenhuma consequência. De repente, a polícia
invadiu o salão, pois estávamos na época do “Estado Novo”, e os fardados podiam
de tudo. Além disso, o presidente do clube era o chefe de policia da cidade. Em
poucos minutos, a confusão foi desbaratada e a festa recomeçou, sem o brilho de
antes. O meu tio, chateado com os acontecimentos, resolveu ir embora.
Eram
duas horas da madrugada, quando nos retiramos do clube. A festa continuou e
terminou em paz. Depois de deixar Abílio e Agostinha, juntamente com Elvira, em
sua casa, fui para a pensão, que eu estava hospedado, e dormi o sono dos
justos. Pois é meus amigos: onde tem consumo exagerado de bebidas, essas coisas
acontecem. Agora vamos tomar um cafezinho quente, que Seu Macedo vai nos contar
o que aconteceu em uma festa semelhante, na cidade de Ipiaú.
Décimo sexto capítulo do livro não publicado: “ As Aventuras de um Catingueiro”.
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