sexta-feira, 19 de novembro de 2021

O CAPETINHA NA GARRAFA

                                              Por Carlos Eden Meira

Era dessas pessoas bem conservadas, que parecem ter menos idade do que outras pessoas até mais jovens. Pai de muitos filhos aparentava ser mais jovem do que os próprios filhos mais velhos, e andava de moto, numa época em que tal veículo era coisa muito rara na cidade. O barulho dessa moto chegando tarde da noite aborrecia algumas mães da vizinhança, pois, o ronco do motor assustava crianças pequenas que acordavam chorando. Outros vizinhos intrigados buscavam uma explicação para o tal “fenômeno” da longa juventude do nosso personagem, acreditando tratar-se de algo sobrenatural.

Ora, se era sobrenatural, era preciso verificar para qual “feitiçaria” havia ele apelado, para manter-se jovem assim. Era uma época em que ginástica aeróbica, academias de exercícios físicos, ou mesmo os complementos energéticos, nem se sonhava em existir. Então, só podia mesmo ser feitiçaria, ora essa! As coroas bisbilhoteiras da rua muitas das quais amigas da esposa do homem ficavam de tocaia no intento de descobrir tal “mistério”, e, num certo dia, viram o sujeito guardando furtivamente, uma garrafa debaixo da cama. Não sei como, elas identificaram algo dentro da tal garrafa, coisa em que chegaram à unânime conclusão de que se tratava de um capetinha. Um capetinha mesmo! Com rabo, chifre e tudo mais!

A mais velha das bisbilhoteiras explicava: - “Minha avó me contava que quando alguém quer permanecer sempre jovem, tem que procurar um ninho de urubu, apanhar um ovo, deixar chocar colocando o mesmo debaixo do ‘sovaco’, durante alguns dias. Terminado o período do ‘choco’, deve quebrar o ovo, e de dentro, não sai um urubu como naturalmente deveria ser, e sim, um capetinha que tem de ser apanhado rapidamente, colocado dentro de uma garrafa, a qual deve ser bem tampada com uma rolha, imediatamente. Faz então, um acordo com o tal capetinha, que no caso desse homem foi manter sua juventude bastante prolongada, sendo que em pagamento do favor, quando o sujeito morresse, o capetinha levaria sua alma para os quintos dos infernos!” - Pronto! A fofoca então se espalhou pela vizinhança, rapidamente.

Em pouco tempo, as pessoas passaram a olhar para o tal cidadão furtivamente a cochichar, assombradas com o assunto. A esposa do nosso Aladim, Dr. Fausto, ou coisa que o valha acabou inevitavelmente tomando conhecimento do caso, e resolveu investigar. Pois bem, um belo dia, quando o marido em sua moto barulhenta saiu para trabalhar, a mulher deu uma busca por toda a casa, e acabou achando debaixo da cama, a tal garrafa. Com certo receio, apanhou o objeto e destampou, despejando seu conteúdo no chão, aliviada ao ver que dali não saiu nenhum capetinha. Ficou, porém, com muita vontade de dar uns bons cascudos no marido, pois, da garrafa saiu mesmo foi muita pinga com folhas diversas, comumente usadas nas “temperadas”. O pobre homem por imposição da esposa tinha sido proibido de beber, mas, tomava seus “gorós” escondido dela. Quanto à sua prolongada juventude, um dia, a medicina terá alguma explicação. Alguns dos vizinhos “biriteiros” quando souberam do fato afirmavam categoricamente que, na verdade, o homem estava mesmo era “conservado” pelo álcool.

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