Por Carlos Eden Meira
Era dessas pessoas bem
conservadas, que parecem ter menos idade do que outras pessoas até mais jovens.
Pai de muitos filhos aparentava ser mais jovem do que os próprios filhos mais
velhos, e andava de moto, numa época em que tal veículo era coisa muito rara na
cidade. O barulho dessa moto chegando tarde da noite aborrecia algumas mães da
vizinhança, pois, o ronco do motor assustava crianças pequenas que acordavam
chorando. Outros vizinhos intrigados buscavam uma explicação para o tal
“fenômeno” da longa juventude do nosso personagem, acreditando tratar-se de
algo sobrenatural.
Ora, se era sobrenatural, era
preciso verificar para qual “feitiçaria” havia ele apelado, para manter-se
jovem assim. Era uma época em que ginástica aeróbica, academias de exercícios físicos,
ou mesmo os complementos energéticos, nem se sonhava em existir. Então, só
podia mesmo ser feitiçaria, ora essa! As coroas bisbilhoteiras da rua muitas
das quais amigas da esposa do homem ficavam de tocaia no intento de descobrir
tal “mistério”, e, num certo dia, viram o sujeito guardando furtivamente, uma
garrafa debaixo da cama. Não sei como, elas identificaram algo dentro da tal
garrafa, coisa em que chegaram à unânime conclusão de que se tratava de um
capetinha. Um capetinha mesmo! Com rabo, chifre e tudo mais!
A mais velha das bisbilhoteiras
explicava: - “Minha avó me contava que quando alguém quer permanecer sempre
jovem, tem que procurar um ninho de urubu, apanhar um ovo, deixar chocar
colocando o mesmo debaixo do ‘sovaco’, durante alguns dias. Terminado o período
do ‘choco’, deve quebrar o ovo, e de dentro, não sai um urubu como naturalmente
deveria ser, e sim, um capetinha que tem de ser apanhado rapidamente, colocado
dentro de uma garrafa, a qual deve ser bem tampada com uma rolha, imediatamente.
Faz então, um acordo com o tal capetinha, que no caso desse homem foi manter
sua juventude bastante prolongada, sendo que em pagamento do favor, quando o
sujeito morresse, o capetinha levaria sua alma para os quintos dos infernos!” -
Pronto! A fofoca então se espalhou pela vizinhança, rapidamente.
Em pouco tempo, as pessoas
passaram a olhar para o tal cidadão furtivamente a cochichar, assombradas com o
assunto. A esposa do nosso Aladim, Dr. Fausto, ou coisa que o valha acabou
inevitavelmente tomando conhecimento do caso, e resolveu investigar. Pois bem,
um belo dia, quando o marido em sua moto barulhenta saiu para trabalhar, a
mulher deu uma busca por toda a casa, e acabou achando debaixo da cama, a tal
garrafa. Com certo receio, apanhou o objeto e destampou, despejando seu
conteúdo no chão, aliviada ao ver que dali não saiu nenhum capetinha. Ficou,
porém, com muita vontade de dar uns bons cascudos no marido, pois, da garrafa
saiu mesmo foi muita pinga com folhas diversas, comumente usadas nas “temperadas”.
O pobre homem por imposição da esposa tinha sido proibido de beber, mas, tomava
seus “gorós” escondido dela. Quanto à sua prolongada juventude, um dia, a
medicina terá alguma explicação. Alguns dos vizinhos “biriteiros” quando
souberam do fato afirmavam categoricamente que, na verdade, o homem estava
mesmo era “conservado” pelo álcool.
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