A data de 28 de outubro é conhecida como Dia Mundial do Judô, em
homenagem ao nascimento do mestre japonês Jigoro Kano. Ele é o criador da arte
marcial cujo nome pode ser traduzido em português como “Caminho Suave” por
ensinar técnicas de luta que apostam na integração do corpo, mente e espírito,
sem a utilização de armas.
Mas o que a pequena cidade de Maracás, localizada
do outro lado do globo terrestre, tem a ver com essa história? A relação é mais
próxima do que se pode imaginar. É lá que o judô vem extrapolando o universo do
esporte para se consolidar como ferramenta de transformação social, através do
Projeto Jiquiriçá, fundado em 2014.
O principal exemplo vem do fundador do projeto e presidente da Ajam (Associação Jiquiriçá de Artes Marciais), Djalma Silva Jr., de 42 anos. “Quando mais jovem eu era muito briguento e procurei uma academia de artes marciais pra me ‘ajudar’ nisso. Mas fui apresentado a uma filosofia de vida totalmente diferente, que pregava o oposto da violência”, lembra o sensei, que é faixa preta de judô e jiu-jitsu e foi levado pela prática do trabalho solidário a cursar uma faculdade de Serviço Social.
OITO TÍTULOS - Ainda em fase de retomada
gradual por conta da pandemia, o projeto Ajam tem capacidade para acolher até
150 alunos, que participam de forma totalmente gratuita, graças a ações de
apoio como a da Largo | Vanádio de Maracás, que contribui com recursos para
participação em competições e doação de quimonos para os atletas. Em sete anos,
o Jiquiriçá já conquistou oito títulos em campeonatos estaduais.
Algumas dessas medalhas estão no acervo de Kennedy
Almeida, vice-presidente da associação. Hoje com 23 anos, ele chegou ao projeto
ainda adolescente e enfrentou junto com o sensei os perrengues da fase inicial,
quando os treinos aconteciam em uma garagem emprestada. Entre altos e baixos,
ele se tornou o primeiro faixa preta do projeto e passou de aluno a professor.
Quanto ao número de medalhas, ele já perdeu as contas. Mas não esquece do
principal prêmio que o esporte lhe deu. “Antes de pensar no lado competitivo, o
judô ensina a valorizar disciplina e respeito”, avalia.
Esses são os valores que Neison Novaes carrega até hoje, mesmo estando afastado do projeto. Ele conheceu o grupo aos 16 anos e chegou até a faixa amarela. Atualmente, aos 22 anos, mora em Jequié, onde cursa faculdade de Farmácia. “Mesmo que não pratique, a gente é para sempre judoca. Levo o que aprendi para os meus estudos e para a minha relação com as pessoas. O judô é para toda a vida”, revela.
PRESENÇA FEMININA – O projeto Jiquiriçá também
abre caminhos para o protagonismo feminino na comunidade. Que o diga a
professora Juliane Caires, que entrou no projeto como aluna e passou pelo posto
de monitora até se tornar professora. Dona de troféu e medalhas conquistados
com o apoio do projeto, agora ela cursa faculdade de Educação Física e aguarda
a confirmação do exame que lhe dará a faixa preta. “O judô muda a vida da
gente. A cultura e o código de honra das artes marciais ajudaram a desenvolver
meu caráter”, enfatiza.
Já Rosana Souza tem dois motivos para ser fã do
projeto. Os filhos Dheyson, de 14 anos, e Bruno, de 12, são alunos desde
pequenos. “Eles evoluíram em tudo. Dá para perceber até na educação, no
comportamento. Fora a escola, porque o projeto exige que tenham boas notas para
fazer o exame de faixa”, pontua.
A paixão pelo esporte também desconhece faixa etária ou aptidão física. Tanto que Naildes Nascimento, de 62, é uma das alunas mais assíduas do projeto. Inicialmente ela frequentava apenas para acompanhar o irmão Roque, de 37 anos, que é PCD. “Os médicos notaram melhoras em meu irmão depois das aulas. Então eu comecei a praticar também e me apaixonei. Eu só me sinto doente no dia em que eu não vou”, conta a atleta faixa amarela. (Jequié News)
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