domingo, 1 de agosto de 2021

Curto e Grosso

                                              J. B. Pessoa

Em um esplendoroso domingo dos velhos tempos, um grupo de rapazes, sentados nas escadarias do Grupo Escolar Castro Alves, após a da última sessão do Cine Bonfim, comentavam com um famoso jornalista e boêmio local, sobre os acontecimentos que ocorreram no ano que terminava. A maioria considerava um ano de funestos episódios. Falava da perda do “pai dos pobres”, e da bela miss que perdeu o concurso, Isso sem contar o tremendo fracasso da seleção brasileira na copa do mundo, quando apareceu para juntar-se a eles, um jovem bêbado queixando-se da violência sofrida pelo irmão na noite anterior, na festa do Jequié Tênis Clube!

- Porra!...Meu irmão não fez nada!... Apanhar assim?!

- Realmente!... Não gostei da maneira como o deputado tratou o rapaz! – Disse um estudante do Colégio Estadual, que acrescentou:

– Afinal, Luizinho é quase uma criança!

- É isso mesmo! - observou outro rapaz, que também estava indignado com o ocorrido, e o jovem em questão era irmão da garota mais bonita da cidade!

- Também concordo! - Bradou um, que há muito tempo, queria uma aproximação maior com os irmãos de tão encantadora menina! E mostrando indignação, protestou com veemência:

– Agredi-lo, daquela maneira, foi um ato inconcebível para um cidadão que nos representa politicamente! Afinal, o rapaz só fez isso por agradecimento.

No baile do clube, o infeliz rapaz, depois de tomar muito uísque, partiu em direção da senhora do deputado e, querendo agradecê-la por um favor recebido, tentou beijar suas rechonchudas faces. Escorregou e o beijo estalou bem na boca da referida dama. Nesse momento o marido, também bêbado, partiu para pedir satisfações! Tudo poderia ter sido esclarecido, sem nenhum contratempo. Porém, um bando de bajuladores partiu para o jovem, deferindo-lhe socos e pontapés, para vingar a honra do mencionado político.

- Mulher de homem tem que ser respeitada! – Berrou um sujeito da turma, que tinha sido desprezado pela bela irmãzinha a conselho dos impertinentes irmãos. Alimentando uma grande birra pelos rapazes, zombou com despeito:

- Comigo, ele teria apanhado era de correão, mesmo!

As opiniões sobre o comportamento do agressor eram as mais variadas, e a calorosa discussão já caminhava um bom pedaço de horas, quando resolveram pedi a opinião do amigo jornalista que, alheio àquela situação, saboreava um uísque, que trazia sempre consigo:

- Então Wilson?... O que você acha de tudo isso?

O jornalista olhou para turma, com um ar sério, e disse a seguir:

- Concordo com o otário aí... Devia apanhar de correão, mesmo!

Todos olharam incrédulos para o jornalista, esperando dele uma resposta favorável ao rapaz. Ele abriu o seu cantil, tomou mais um trago e acrescentou com deboche:

- Beijar uma baleia feia daquelas, merecia coisa pior!

(Publicado no jornal Livre Arbítrio)

Do Livro, não publicado: “Velhos Tempos Jequieenses”


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