J. B. Pessoa
Em um esplendoroso domingo dos velhos
tempos, um grupo de rapazes, sentados nas escadarias do Grupo Escolar Castro
Alves, após a da última sessão do Cine Bonfim, comentavam com um famoso
jornalista e boêmio local, sobre os acontecimentos que ocorreram no ano que
terminava. A maioria considerava um ano de funestos episódios. Falava da perda
do “pai dos pobres”, e da bela miss que perdeu o concurso, Isso sem contar o
tremendo fracasso da seleção brasileira na copa do mundo, quando apareceu para
juntar-se a eles, um jovem bêbado queixando-se da violência sofrida pelo irmão
na noite anterior, na festa do Jequié Tênis Clube!
- Porra!...Meu irmão não fez nada!...
Apanhar assim?!
- Realmente!... Não gostei da maneira
como o deputado tratou o rapaz! – Disse um estudante do Colégio Estadual, que
acrescentou:
– Afinal, Luizinho é quase uma criança!
- É isso mesmo! - observou outro rapaz,
que também estava indignado com o ocorrido, e o jovem em questão era irmão da
garota mais bonita da cidade!
- Também concordo! - Bradou um, que há
muito tempo, queria uma aproximação maior com os irmãos de tão encantadora
menina! E mostrando indignação, protestou com veemência:
– Agredi-lo, daquela maneira, foi um
ato inconcebível para um cidadão que nos representa politicamente! Afinal, o
rapaz só fez isso por agradecimento.
No baile do clube, o infeliz rapaz,
depois de tomar muito uísque, partiu em direção da senhora do deputado e,
querendo agradecê-la por um favor recebido, tentou beijar suas rechonchudas
faces. Escorregou e o beijo estalou bem na boca da referida dama. Nesse momento
o marido, também bêbado, partiu para pedir satisfações! Tudo poderia ter sido
esclarecido, sem nenhum contratempo. Porém, um bando de bajuladores partiu para
o jovem, deferindo-lhe socos e pontapés, para vingar a honra do mencionado
político.
- Mulher de homem tem que ser
respeitada! – Berrou um sujeito da turma, que tinha sido desprezado pela bela
irmãzinha a conselho dos impertinentes irmãos. Alimentando uma grande birra
pelos rapazes, zombou com despeito:
- Comigo, ele teria apanhado era de
correão, mesmo!
As opiniões sobre o comportamento do
agressor eram as mais variadas, e a calorosa discussão já caminhava um bom
pedaço de horas, quando resolveram pedi a opinião do amigo jornalista que,
alheio àquela situação, saboreava um uísque, que trazia sempre consigo:
- Então Wilson?... O que você acha de
tudo isso?
O jornalista olhou para turma, com um
ar sério, e disse a seguir:
- Concordo com o otário aí... Devia
apanhar de correão, mesmo!
Todos olharam incrédulos para o
jornalista, esperando dele uma resposta favorável ao rapaz. Ele abriu o seu
cantil, tomou mais um trago e acrescentou com deboche:
- Beijar uma baleia feia daquelas,
merecia coisa pior!
(Publicado no jornal Livre Arbítrio)
Do Livro, não publicado: “Velhos Tempos
Jequieenses”
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