Osmar morava em Porto Alegre e
mensalmente vinha de cavalo a Jequié transportando produtos oriundos do
povoado, para permutar por outros mais baratos ou não encontrados na sua terra
natal. Os produtos permutados abasteciam as dispensas dos familiares e o estoque
da venda do seu pai. Durante o dia fazia negócios e no período da noite ele
saía com o seu irmão e o primo companheiros de viagem. Neste dia eles foram à
Rua do Maracujá que ficava no centro da cidade, local onde as mulheres vendiam
o seu corpo para sobreviver. Entraram primeiro num cassino. Sentaram numa mesa
e pediram uma cerveja. Enquanto bebiam, aconteceu um assassinato no recinto. Em
poucos segundos a polícia, que estava por perto, chegou ao cassino.
Imediatamente começaram a revistar todos que estavam no local. Quando dois
policiais aproximaram da mesa, Osmar falou baixinho para os parentes que iria
perder o revolver. Eles não sabiam que Osmar estava armado. Os parentes estavam
vestidos a caráter, de paletó e gravata, e foram revistados normalmente pelas
autoridades. Osmar que estava com traje esporte, abriu o blusão de couro e
colocou as mãos na cintura. Com um detalhe, à direita, em cima do
cabo do revolver. Os policiais olharam para Osmar porém não o revistaram. Como
ninguém pôde sair do cenário do crime, logo capturaram o assassino e todos
foram liberados. Osmar que já estava apalavrado com uma mulher, foi passar a
noite na casa dela, enquanto os outros foram para o hotel. No quarto da
prostituta, Osmar tirou o revolver e junto com a roupa colocou numa mesinha
próxima da cama. A mulher que estava também no momento do crime, percebendo que
Osmar estava armado, perguntou por que os policiais deixaram de revistá-lo.
Mentiu para ela afirmando que também era policial, e no momento teria sido reconhecido
pelos colegas de farda. Depois de uma longa noite de amor, retornou cedinho
para o hotel, onde ele estava sendo esperado pelos parentes para retornarem a
Porto Alegre.
Anos depois quando Osmar viajava para Feira de Santana, dirigindo o carro da firma Cotel Comercial de Tecidos, foi alertado por motoristas que vinham em sentido contrário, que estava acontecendo uma blitz do exercito próximo a cidade de Milagres. Os policiais deram sinal para Osmar parar o seu carro no encostamento. Quando desceu do veículo, Osmar encontrou um amigo também vendedor de tecidos, que perguntou se ele estava armado. Osmar disse que sim. O amigo aconselhou a Osmar falar que estava portando um revolver, para não ficar preso. Os policiais perguntaram se ele portava algum tipo de arma. Demonstrando muita calma, respondeu que não. Osmar decidiu correr todo aquele risco, não por estar armado e o revolver sem registro, o motivo maior foi porque o revolver era uma herança do seu avô Zezinho dos Laços. Os policiais revistaram primeiro o carro e depois pediu para ele abrir a pasta que levava com documentos da firma, dinheiro e coisas do uso pessoal. Osmar abriu a pasta, pegou o revolver que estava numa embalagem no formato de uma sandália e um conjunto de barbear. Segurou os objetos com as mãos e mandou os policiais fiscalizar o que estava dentro da pasta. Achando que tudo estava correto, os policiais liberaram Osmar que guardou o revolver e o conjunto de barbear e seguiu viagem. Chegando a Feira de Santana, a primeira atitude dele foi procurar o órgão competente e registrar a arma. O revolver é um Smith & Wesson, calibre 32, niquelado que continua em poder de Osmar até hoje. Contou-me que vai fazer um sorteio para saber qual dos filhos herdará a relíquia. Pedi para ele acrescentar o meu nome no sorteio, pois sou um estudioso em tudo que diz respeito a Zezinho dos Laços.
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