segunda-feira, 5 de julho de 2021

O PADRE, O SANTO E A ONÇA.

                                                                             Por Carlos Eden Meira

Carlos Eden Meira e Washington Rosa.

O título acima pode até lembrar qualquer interessante assunto de livrinhos de cordel, mas, nada tem a ver. Andávamos pela Rua Dois de Julho, num alegre dia de Carnaval: eu, “o padre, o santo e a onça”. Tímido como sempre fui recusei-me a usar qualquer outra fantasia, e saí fantasiado de mim mesmo. Washington Rosa era o “padre”, Eliziário Andrade era o “santo” e João Batista Pessoa era a “onça”. Nesse alegre grupo, o mais engraçado era João, numa fantasia de onça, curta e apertada, com um rabo feito de arame revestido de algodão ou coisa parecida, coberto pelo mesmo tecido amarelo pintado de manchas pretas como o resto da fantasia, e enrolado para cima. O interessante é que todos que passavam por ali diziam: “Olha João, vestido de onça”! E todos nós ríamos daquilo, pois João, mesmo com a máscara da fantasia era facilmente reconhecido.

Quero, entretanto, esclarecer que na verdade, este texto foi a maneira mais singela que encontrei para homenagear nosso querido amigo Washington, o “padre” daquele alegre grupo. Nesses últimos anos antes da pandemia, João, Washington, eu e Eliziário nos encontrávamos às vésperas do São João, pra relembrar os velhos tempos de juventude. Íamos para a casa de um sobrinho de Eliziário, e lá tomávamos “umas e várias” noite adentro, enquanto relembrávamos as alegres noitadas do passado. Com a Covid 19, esses encontros obviamente deixaram de existir, e, neste terrível ano de 2021 fomos bruscamente atingidos pela dor e tristeza profundas, já que alguns dias após a angustiante perda da minha esposa Lourdes, pessoa muito querida de muitos dos nossos amigos, perdemos também o nosso dileto amigo Washington que quase diariamente ligava para mim, tentando me reconfortar pela partida de Lourdes, a quem tinha grande consideração e amizade.

Washington Nascimento Rosa, muito ligado à arte e cultura em Jequié foi um dos pioneiros no nosso teatro, tendo sido ator na primeira apresentação de “Morte e Vida Severina” dirigida por Eliziário Andrade e Osvaldo Bulhões, e diretor em algumas peças, como “A Volta do Camaleão Alface”. Por um longo tempo, Washington atuou no meio musical, como empresário de diversos cantores e grupos musicais que aqui se apresentaram. Nos últimos tempos, passou a trabalhar no ramo de barzinhos e restaurantes típicos, onde pretendia continuar, não fosse seu estado de saúde seriamente abalado por um infarto do qual sobreviveu e vinha se cuidando.

No dia 14 de junho, Washington partiu após um terceiro infarto. Este que poderia em outras circunstâncias ter sido mais um feliz São João a reunir mais uma vez, aquele “grupo carnavalesco o padre, o santo, a onça” e eu, acabou sendo o mais triste da minha vida, até aqui. Mas, tenho a esperança de que um dia, estaremos todos juntos eternamente, no melhor São João de todos os tempos! Com Luiz Gonzaga, Dominguinhos e quem mais lá estiver!!

4 comentários:

  1. Gostei muito ! O padre, o santo e a onça. Tem muitas histórias.

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  2. Muito bem lembrado Éden, linda homenagem ao meu querido irmão. Não é em vão que ele tinha tanto carinho por vcs. Obrigada do fundo do meu coração.

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  3. Agradeço a todos pelo gentil comentário!!

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