Lembro-me
do “trem fantasma”, num parque de diversões, nos meus tempos de infância. Entre
garotos e garotas éramos uns oito “passageiros”, naquele pequeno vagão aberto
percorrendo um túnel povoado de “assombrações” diversas. Algumas garotas
gritavam realmente apavoradas com os fantasmas, lobisomens, morcegos gigantes e
bruxas que surgiam repentinamente dos cantos escuros do túnel, enquanto nós
meninos estimulávamos o pânico, e nos divertíamos fingindo também, ter medo.
Claro que alguns dos meninos menores também estavam assombrados, e era com
alivio que viam se aproximar a luz no fim do túnel onde terminava aquela
“viagem”.
Para
mim, aquela viagem continua. Entretanto, as “assombrações” são outras e são
reais. Muito mais assombrosas, pois, agem em plena luz do dia ou a qualquer
hora, e povoam as instituições, levando o horror dos extremismos ideológicos
obscurantistas, da ignorância, do fanatismo intolerante, da mentira e da
hipocrisia, acompanhados de crimes violentos e corrupção que ferem mortalmente
a dignidade humana. Diferentemente daquelas crianças que se sentiam aliviadas
ao ver a luz no fim do túnel, sinto-me ansioso e apreensivo, pois, um novo
“trem fantasma” parece estar fazendo o caminho inverso, saindo da luz em
direção a um escuro túnel.
Vivemos
uma era de incertezas, onde o preconceito, o desrespeito aos direitos
individuais superam os valores humanitários, onde a violência urbana e as
guerras entre facções criminosas parecem totalmente fora de controle. A ciência
moderna passa por um momento grave na luta contra uma pandemia devastadora,
porém muitos indivíduos se preocupam muito mais com interesses que lhes deem
lucro, pouco importa o mal que possam causar ao ser humano. Pouquíssimos são os
recursos investidos na saúde e na educação, na luta contra devastação do
meio-ambiente e calamidades que ameaçam o planeta. O velho antagonismo
ideológico da chamada “guerra fria”, que só serviu aos interesses das potências
dos blocos ocidental e oriental, fomentando ditaduras nos pobres países sob
seus controles, parece mais ativo do que nunca, usando agora, os novos recursos
tecnológicos de uma mídia de amplitude global que mais confunde do que
esclarece.
Sinto
falta daquele velho parque de diversões e seu “trem fantasma”, onde as
“ameaças” eram apenas vampiros, lobisomens, fantasmas e bruxas. Meras
divertidas ilusões, “assombrações” que desapareciam quando surgia a luz no fim
do túnel.
NOTA:
O texto acima é uma reedição atualizada pelo autor, adaptada para os dias de
hoje.
Gostei muito do Texto. Verdadeiro.
ResponderExcluirLindo e bem colocado o texto.
ResponderExcluirObrigado pelo seu feliz comentário!!
ResponderExcluirMuito boa a comparação que Eden faz. Vemos que os monstros realmente são muitos e onipresentes. O pior é que a superabundância e onipresença causam muitos danos.
ResponderExcluirMuito obrigado a todos pelos comentários.
ExcluirBelíssimo texto! Retrata todo o drama que estamos vivendo. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado, Creusa.
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