sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Zezito o filho de Tranquilíno

Charles Meira e Zezito Souza
                                                                     
                                                                                          Charles Meira
            
         No dia 27 de Junho de 2011, estive na cidade de Maracás em companhia do meu tio Osmar Marques, visitando o nosso amigo Zezito Souza, pessoa a quem  temos muito apreço e admiração. Esta viagem estava há meses programada com sua filha Rita e seu esposo Carlos, que moram também na nossa cidade. Infelizmente, devido a afazeres comerciais, não foi possível a presença do casal em Maracás. Para não ir sozinho, convidei meu tio que veio de Feira de Santana visitar suas irmãs. Como havia mais de dez anos que não visitava a cidade em que morou na sua infância e desejava também rever Zezito e outros amigos, prontamente aceitou o meu convite.
            Saímos de Jequié às 06h30 e chegamos à residência dele às 9hs e fomos recebidos com muita alegria. Depois de um café reforçado, batemos um longo papo, bastante descontraído, sentados no sofá da sala com Zezito, onde dialogamos sobre assuntos que tínhamos curiosidade de saber, na maioria relacionados com sua convivência com seu pai Tranquilíno Antônio de Souza. Inicialmente nos informou que é carinhosamente tratado de Zezito, mas o seu nome de registro é José Antônio de Souza Sobrinho e nasceu em  30/10/1920 em Maracás - BA. É viúvo, e sua esposa chamava-se Emília Almeida de Souza, nascida em 07/10/1926 em Maracás – BA e morreu em 13/02/2004 em Salvador – BA. Constituíram uma família de 16 Filhos, 27  netos e 16 bisnetos. O seu pai chamava-se Tranquilíno Antônio de Souza, nascido em 04/06/1883 em Maracás - BA e morreu em 21/03/1933 em Jequié - BA. Casou-se primeiro com Laura Marques Souza que morreu durante o parto do primeiro filho. O segundo casamento foi com Maria Anália Nogueira Souza e tiveram 04 filhos. Seu avô chamava-se Marcionílio Antônio de Souza, nascido em 30/04/1858 em Condeúba – BA e morreu em 09/06/1943 em Maracás – BA e a sua avó foi Francisca Joaquina Alves Meira, e tiveram 10 filhos. Depois de citar os familiares, entrou no assunto que desejávamos. Contou que saiu pequeno de Maracás e foi morar em Jequié. Prosseguindo o bate-papo, fala com segurança e um pouco de emoção do seu relacionamento com o pai na infância, vivido a maior parte na Fazenda Gruta Baiana, localizada em Distampina – BA, hoje Itagibá – BA. Falou que seu pai o chamava carinhosamente de cabloquinho, era amoroso e nunca encostou a mão nos filhos, igual tratamento também era dispensado à sua esposa. Perguntou se queríamos parar um pouco e tomar um cafezinho, decidimos prosseguir a conversa que estava por demais agradável. Ele deu um sorriso e começou a falar algumas coisas que aconteceram na Gruta Baiana durante tiroteios com Jagunços e soldados. Apesar da pouca idade na época, disse lembrar com clareza, que uma das salas da casa estava repleta de caixas com munição e diversos tipos de armamentos pesados, um verdadeiro arsenal de guerra. Nessas investidas dos inimigos, Tranquilíno, que era muito valente e excelente atirador, estava sempre à frente, comandado os trinta jagunços que tinha na fazenda. Relatou Zezito que, mesmo quando não estava nesses confrontos, seu pai permanecia o dia todo com a arma na cintura. Era um homem que não tinha medo de nada. Quando avisado por amigos sobre tocaias, sempre ia com seus jagunços conferir de perto a veracidade dos fatos. Ao contrário do que pesávamos, Zezito disse tudo que sabia do que aconteceu naquela época com seu pai. Em continuação aos relatos, ele falou que numa determinada manhã, chegou à fazenda um negro chamado de Laurindo, montado em um cavalo e entregou um bilhete enviado pelo senhor Juca Costa, fazendeiro em Distampina, hoje Itagibá, avisando a Tranquilíno que os camaradas de Silvino tinham passado em sua propriedade, tomado leite e estavam indo com destino a Gruta Baiana. Imediatamente, Tranquilíno escolheu dez dos seus melhores homens e mandou atrás deles, com ordem de acabar com a raça dos jagunços de Silvino. O celular de tio Osmar tocou,  pediu licença e saiu da sala para atender a ligação. Era seu filho informando que um carro tinha derrubado o muro da sua casa em Feira de Santana. Tio Osmar foi à praça para fazer uma ligação para seu filho e saber detalhes do ocorrido, pois os seus créditos tinham acabado. Mesmo com a ausência dele, Zezito voltou a contar as histórias do seu pai. Com aparência de tristeza, passou a relatar fatos ocorridos na época da  prisão e morte de Tranquilíno. Falou que seu pai se entregou a pedido do seu avô Marcionílio Antônio de Souza, através de um bilhete enviado para ele na Gruta Baiana. Disse que na data da prisão ele tinha 10 anos de idade e sua mãe estava grávida. Quando a criança nasceu, registrou com o nome de Paulo. Relatou que antes de seu pai morrer, dividiu a Fazenda Gruta Baiana com os quatros filhos e a parte de Tranquilíno foi  vendida para Juca Rebouças, para quem Zezito tempos depois vendeu as terras que o coube na partilha. Contou que Tranquilíno perto de falecer, recebeu a visita do senhor Teófilo Saraiva e que o amigo, percebendo que Tranquilíno estava morrendo, pediu uma vela para colocar na mão dele. Mesmo fraco e batido, falou arrastado e baixinho: “homem não precisa de vela para morrer”. Horas depois Tranquilíno faleceu. Quando ele morreu, Zezito tinha 13 anos de idade e foi morar com seu tio Olindino Nogueira que ficou com a responsabilidade pela criação de Zezito. Ele estudou somente até os 13 anos de idade. Zezito contou também um fato que aconteceu na sua adolescência, quando tinha aproximadamente 20 anos de idade e morava em Distampina, hoje Itagibá. Depois de desavenças com Mariano Coxo, devido ao término do namoro dele com a filha do “Rabudo”, deixou estremecido a amizade dos familiares, o que motivou aos quatro filhos de Mariano irem até a fazenda de sua irmã Helenita Souza Ferreira, mais conhecida como (Sinhá Moraes) para matá-lo. Quando chegaram à localidade, encontraram Zezito armado, pronto para revidar a investida dos agora inimigos dele. Felizmente, ele foi contido pelo seu cunhado Antônio Morais. Em seguida, mandou os filhos de Mariano entrarem e conversaram, tentando resolver o problema. Entretanto, os ânimos continuaram acirrados, devido a Zezito e os quatro encontrarem-se no mesmo local com a arma na cintura, pronto para a qualquer momento sacarem e atirarem. Porém, depois de muita conversa, Antônio Morais conseguiu controlar a situação e convencer os homens a irem embora. Para o bem de todos, eles foram e não mais voltaram. Próximo do final do bate-papo, tio Osmar voltou da praça e depois que sentou no sofá, Zezito falou também da sua vida profissional. Disse ter trabalhado durante quatro anos como cobrador na Empresa Brasil em Jequié, de propriedade do Sr. Waldomiro Borges. Falou do seu retorno a Maracás no ano de 1942, onde morou durante o período de um ano com seu tio Marcionílio Filho, mais conhecido como “Su”, na Fazenda São Pedro, no Município de Maracás. Concluiu a conversa, dizendo que trabalhou trinta anos como Oficial de Justiça em Maracás, onde se aposentou. Depois de agradecer a Zezito a paciência e a boa vontade de nos contar um pouco da história da sua vida, perguntei a ele como foi a sua relação com seu avô Marcionílio. Revelou que teve pouco contato com o coronel, devido ao mesmo ser muito fechado e malcriado, opinião que ele também tinha da minha pessoa.    
            Depois de um passeio na cidade, onde tiramos muitas fotos e respiramos o ar puro da manhã da cidade de Maracás, revendo locais de rara beleza como: a Igreja Matriz de Nossa Senhora das Graças que foi construída pelos alemães Helmut e Herbert, o belo e bem cuidado jardim e a estatua do índio escultura feita por João Burge que ficam na Praça Rui Barbosa. Depois visitamos o casal amigo Alicio e Lícia, pais do prefeito de Maracás Nelson Portela. Almoçamos com Zezito e ás 14hs nos despedimos dele, agradecendo a Deus por nos ter proporcionado momentos de muita alegria durante a visita que fizemos ao nosso amigo. Retornamos à casa de Lícia para comermos doce de marmelo, banana e de leite. Em seguida, Alicio me levou para visitar o escritor Antônio Eloy Spínola e a tio Osmar para conhecer a casa de parentes. Ás 16h30 saíamos de Maracás com destino à Jequié.
            Zezito o único filho vivo dos integrantes de destaque que fizeram parte do grupo dos “Rabudos”, em outubro completa 91 anos de idade, gozando de boa saúde e se sentindo muito feliz. Mora sozinho na Rua Afrânio Peixoto, Maracás – BA a terra das flores, uma opção dele, pois não quer morar com os filhos que residem em Maracás, Jequié, Itiruçu, Salvador, Maringá e na Inglaterra. 

* Texto publicado na Revista Cotoxó em 2011.

OBS: José Antônio de Souza Sobrinho (Zezito Souza), faleceu na cidade de Jequié na Casa de Saúde Santa Helena em 22/11/2015 e no dia 23 foi enterrado na cidade de Maracás. 

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