segunda-feira, 24 de abril de 2023

HISTÓRIA DA APAE DE JEQUIÉ

 

                                                 Oscar Vitorino Moreira Mendes

                                        

Às vezes é necessário escrever sobre determinado aspecto da história, da cultura, ou instituição de uma determinada cidade, pois sem esse registro, muitos fatos e acontecimentos importantes passariam despercebidos. Consequentemente, as pessoas desconheceriam como tudo aconteceu; inclusive, isso revelaria um desapreço para com as pessoas que se empenharam para que tudo se tornasse realidade.

Decorridos quase 44 anos da fundação da APAE de Jequié, a minha inquietação é muito grande e também a dos meus companheiros e companheiras que comigo não mediram esforços para que essa importante obra fosse instalada em Jequié. Não sei se eles trazem consigo, esse mesmo sentimento. Até peço desculpas aos distintos companheiros fundadores, pelo fato de ter tomado essa iniciativa, mesmo não tendo procuração para representá-los.

Justifico minha atitude porque sempre comento essa lacuna com uma das pioneiras dessa área em Jequié, que é também uma das fundadoras da instituição em destaque. Trata-se da minha querida companheira de muitos anos, Edília Mesquita Mendes. Este sentimento nos acompanha, a mim e a ela, mesmo através do seu silêncio. Sei perfeitamente, que não necessitamos de medalhas ou condecorações, mas é necessário que fatos relevantes para a sociedade cheguem ao conhecimento geral de nossa população.

Talvez poucos saibam como se deu a fundação da APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Jequié, e quem foram os seus principais fundadores e colaboradores. Desejo que todos compreendam o porquê dessa minha inquietação em levar o assunto em questão a público.

Considero esta exposição de suma importância, pois, a existência de uma obra sem a sua história não tem fundamentação. Contudo, desejo salientar que não faço nenhuma objeção ao que existe hoje na instituição, nem tampouco levanto qualquer crítica contra os membros das diversas diretorias que por lá têm passado; muito pelo contrário, tenho uma satisfação muito grande em acompanhar o desenvolvimento, e os trabalhos lá oferecidos. Meu intuito é parabenizar a cada diretoria, pelo bom desempenho de suas atividades, procurando exercer com denodo o cumprimento das suas funções. Afinal, a APAE, graças a Deus, está-se desenvolvendo a cada dia, ao longo desses quase 44 anos. Nesse contexto, é importante também recordar um pouco os fatos que propiciaram a sua fundação. Afinal, é através da história que passamos a ter conhecimento de como tudo aconteceu.

Considero um justo tributo, reverenciar nomeadamente aquelas pessoas que se dedicaram tanto para a existência de uma obra tão importante!!!

Já por algum tempo perguntas ecoam entre nós: - como a Apae de Jequié surgiu? - quem foram os fundadores? - quem doou o terreno? Essas perguntas pairam no ar, e merecem respostas.

APAE DE JEQUIÉ – PRIMEIRO GRANDE MOMENTO

Cheguei aqui, nesta bela e hospitaleira cidade, precisamente, no dia 23 de julho de 1973, vindo do Estado do Maranhão, mais precisamente da cidade de Chapadinha (região dos cerrados), onde exercia a função de Coordenador de Defesa Animal da Casa do Lavrador, vinculada à SAGRIMA – Secretaria de Agricultura do Estado do Maranhão. Inicialmente sem a família, pois havia passado no concurso de Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia, para assumir o cargo de Médico Veterinário do CONDEPE – Conselho Nacional de Desenvolvimento da Pecuária e, quis o destino, que eu escolhesse para viver,

a cidade de Jequié. Enquanto isso, Edília Mesquita Mendes ou simplesmente Edília, só chegaria com a nossa primogênita no dia 07 de setembro. Dia de pura alegria!

Com o passar dos anos, Edília, pelo fato de a mesma ter realizado um importante estágio na APAE em Salvador, área a que ela sempre se dedicou, começou então a trabalhar com crianças com necessidades especiais, aqui em nossa cidade, numa casa na Av. José Moreira Sobrinho (ladeira da balança), na parte térrea da casa das Irmãs Medianeiras, com oito alunos. Os anos foram passando, e ela sempre dedicada à causa. À essa época, o Dr. Ailton Araújo Sepúlveda (psiquiatra), juntamente com a Dra. Miriam Magalhães Sepúlveda (neurologista), à época, sua esposa, convidaram Edília para trabalhar com eles, na parte pedagógica, na Clínica Neurológica, sito a Rua Costa Brito, onde funciona atualmente a Loja Maçônica Obreiros do Rio das Contas, devido a sua experiência na área. Ela, inclusive, já conhecia Dr. Ailton Sepúlveda da APAE de Salvador, quando o mesmo realizou o seu estágio pelo curso de medicina da UFBA. Após aceitar a proposta, ela foi trabalhar na referida clínica, mas ainda continuando com os oito (08) alunos em Jequiezinho.

Em continuação, Edília sentiu que a clientela da clínica, por ser de caráter particular, nem sempre tinha condições de pagar ao tratamento. Por essa razão, ela fez ver a Dr. Ailton Sepúlveda que não tinha condição de prosseguir, e sugeriu ao mesmo, a possibilidade de se criar a APAE em Jequié. Nessa época (1976) eu, Oscar Vitorino Moreira Mendes (esposo), por fazer parte do quadro do Rotary Club de Jequié, juntamente com Dr. Ailton Sepúlveda e sendo Edília vinculada à Casa da Amizade da mesma entidade, e muito participativa, começamos a levar o assunto para as reuniões do clube e, de imediato, os companheiros do Rotary Club de Jequié, tendo na presidência à época, o companheiro Garcias Menezes Lopes (in memoriam) começaram a se interessar pelo assunto.

Já incentivados pela nova causa, o Rotary Club de Jequié, resolveu chamar para si o projeto e, de pronto, formou uma comissão para ir à Salvador, estar com a senhora Ilka Santos de Carvalho – Superintendente Institucional e uma das fundadoras da Apae de Salvador, para apresentar o projeto, na esperança de ser implantada a entidade em Jequié. E assim aconteceu.

Na ocasião, a senhora Ilka Santos de Carvalho sugeriu que fôssemos à Vitória da Conquista ou Itapetinga, e visitássemos as APAEs daquelas cidades, pois as mesmas já funcionavam normalmente, e procurássemos saber das suas diretoras, o que seria necessário para se criar a APAE em Jequié. Na época, a diretora da APAE de Itapetinga era a senhora Maria de Fátima Sarmento (pedagoga) e a de Vitória da Conquista, senhora Thereza Guerreiro (psicóloga). Devido à distância, a Comissão optou por se limitar a Vitória da Conquista, o que de fato veio a acontecer. De lá, trouxemos muitas informações importantes, bem como modelos de estatutos.

A comissão era composta por Dr. Arivaldo Silva Nascimento (coordenador), e responsável direto pela elaboração do estatuto, pelo fato de o mesmo ser advogado, além de Manoel Francisco Souza Neto (Manelão) - agropecuarista, a própria Edília Mesquita Mendes (Pedagoga), Oscar Vitorino Moreira Mendes (Méd. Vet.), Wilson Rosa (Contador), Dra. Miriam Sepúlveda (Neurologista), entre outros. O Dr. Ailton Sepúlveda não fez parte dessa comissão.

Elaborado o estatuto, foi o mesmo apresentado em uma Reunião de Assembleia Geral de Fundação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Jequié – APAE, no dia 29 de setembro de 1979, às

21h, no auditório da Associação Comercial e Industrial de Jequié – ACIJ, assumindo a presidência da mesa, Dr. Ailton de Araújo Sepúlveda, convidando a mim, Méd. Vet. Oscar Vitorino Moreira Mendes para secretariar os trabalhos. E para compor a mesa diretora, o presidente convidou o Presidente do Lions Club de Jequié - Rubens Sandoval de Almeida Andrade, Dra. Thereza Hugles Guerreiro Costa, diretora da APAE de Vitória da Conquista, Dra. Maria de Fátima Sarmento, diretora da APAE de Itapetinga, Dr. Milton de Almeida Rabelo, diretor da Faculdade de Formação de Professores de Jequié (in memoriam), Wilson Olavo Senhorinho Ferreira - Venerável da Loja Maçônica Areópago Jequieense (in memoriam), Dr. Oscar Vitorino Moreira Mendes, representando a Loja Maçônica União Beneficente, Garcias Menezes Lopes – Presidente do Rotary Club de Jequié (in memoriam), e Dr. José Moura Pinheiro, representante da Associação Comercial e Industrial de Jequié.

Na oportunidade, o secretário da assembleia, doutor Oscar Vitorino Moreira Mendes procedeu à leitura ipsis litteris do projeto do estatuto da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Jequié e, colocado em votação, foi o mesmo aprovado por unanimidade, sem quaisquer emendas. Em seguida, o presidente submeteu à apreciação da assembleia, os nomes das pessoas escolhidas para compor a primeira diretoria da entidade. DIRETORIA: Presidente – Dr. Ailton Araújo Sepúlveda, Vice-Presidente – Manoel Francisco Souza Neto, Secretário Geral – Méd. Vet. Oscar Vitorino Moreira Mendes, Primeiro secretário – Dr. Arivaldo Silva Nascimento, Segundo secretário – Dr. Hélio Bomfim Brandão, Primeiro Tesoureiro – Renaldo Mota Cafezeiro, Segundo Tesoureiro – Wilson Rosa. CONSELHO FISCAL: Tibúrcio França de Oliveira Freitas (in memoriam), Evandro Lopes, Launil Parente Jucá, Dr. Rubens Xavier (in memoriam), Wilson Olavo Senhorinho Ferreira (in memoriam). CONSELHO DELIBERATIVO: Rubens Sandoval, Adonias Rizério Pessoa (in memoriam), Mons. Walter Jorge Pinto Andrade (in memoriam), Guilherme Salomão, Cid Carvalho Teixeira (in memoriam), Geraldo de Magela Magalhães Andrade (in memoriam), Dr. Roque Raimundo Caroso de Souza, Dr. Elizeu Maia Matos, Dra. Lúcia Teixeira Barreto, Dr. Flaviano Pinheiro Neto, Dr. Eliel Cerqueira Mendes (in memoriam) e Manoel Almeida Sampaio (Maneca) (in memoriam). Estava assim, para alegria de todos, fundada a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Jequié, ao vigésimo nono dia do mês de setembro do ano de mil novecentos e setenta e nove.

Fundada a entidade, foram registradas em cartório a Ata de Fundação e o Estatuto da associação, com o objetivo de defender as causas referentes aos direitos constitucionais dos deficientes e, principalmente, de prestar todo o tipo de assistência social, cultural, terapêutica e educacional às pessoas com necessidades especiais, graças a essas pessoas, principalmente, Dr. Ailton Sepúlveda, Profa. Edília Mesquita Mendes e Dra. Mirian Magalhães Sepúlveda, por terem aberto o caminho para esse grande empreendimento vivo em nossa cidade, e o Rotary Club de Jequié por ter acreditado no projeto e apoiado a ideia. Atualmente, a Associação é considerada de Utilidade Pública Municipal, Estadual e Federal. CNPJ 14.636.260/0001 Utilidade Pública Municipal nº 969/1983 Utilidade Pública Estadual nº 8733/2003 Utilidade Pública Federal nº 3.027/2010.

APAE DE JEQUIÉ – SEGUNDO GRANDE MOMENTO – TRABALHO DE CAMPO, VISANDO AQUISIÇÃO DE SÓCIOS, E AQUISIÇÃO DE UM TERRENO PARA INSTALAÇÃO DA ENTIDADE.

Fundada a Associação, a diretoria teria que se reunir mensalmente para tratar de assuntos inerentes à entidade. E, dessa forma, a diretoria com ajuda de voluntários, como Mariângela Biondi, Júlia Biondi e Reivaldo Fagundes, que não mediram esforços para colaborar com a causa, partiu para as ruas,

comércio em geral e entidades de Jequié, com o propósito de adquirir sócios. Conquistamos vários. Paralelamente, foram feitas várias campanhas de esclarecimento, seminários, entrevistas em rádios, contatos diversos. Nesse contexto, e acreditando no nosso projeto, começaram a aparecer pais de crianças excepcionais (termo da época), atualmente: Pessoas com Deficiência (PcD), querendo associar-se. Desse modo, pessoas da comunidade, sócios de clubes de serviço, empresários, servidores públicos, maçons e, com isso, fomos aumentando o número de sócios. Mas não paramos por aí; ao contrário, saímos às ruas, nos dedicando de corpo e alma, dia e noite. O trabalho não parava. Fizemos rifas de moto, vendendo bilhetes até no entroncamento de Jaguaquara; colocamos barraca na Festa de Santo Antônio, onde conseguimos a inscrição de vários sócios para a associação. Foi uma luta muito grande, mas muito gratificante.

Como tudo no início é na base do sacrifício e boa vontade, já era hora de procurarmos um local para as nossas primeiras reuniões. Foi então, que gentilmente Dr. Ailton Sepúlveda, na qualidade de dirigente à época, da Associação Bahiana de Medicina - ABM em Jequié, nos cedeu às dependências da entidade para as nossas reuniões. Da mesma forma, o prefeito de Jequié à época Dr. Landulfo Caribé, colocou a nossa disposição, uma das salas da prefeitura. O projeto foi ganhando corpo, e sentimos a necessidade de adquirirmos de alguma forma, um terreno para a sua instalação. Deus é tão bom, que nos direcionou ao senhor H Cerqueira (in memoriam), que possuía alguns lotes no bairro do mandacaru. Contactamos com o mesmo e, depois de explanarmos a situação e, da necessidade de se implantar a associação em nossa cidade, ele não hesitou e, de imediato, nos ofereceu com toda boa vontade, o terreno onde hoje está instalada a APAE de Jequié. ETERNA GRATIDÃO!

Como não bastasse, fizemos gestões junto ao empresário Antônio Ermirio de Moraes (in memoriam) solicitando sacos de cimento para darmos início à construção, e o mesmo, bastante solícito, encaminhou para Jequié, duas carretas de cimento. ETERNA GRATIDÃO!

PESSOAS VOLUNTÁRIAS QUE COLABORARAM ATIVAMENTE PARA IMPLANTAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO.

Mariângela Biondi, Júlia Biondi, senhor Walmick Andrade e Reivaldo Fagundes (Fisioterapeuta), que se tornaria depois, presidente da entidade. À estes, os nossos mais sinceros agradecimentos.

Fica aí então, registrado, a história da criação da APAE de Jequié, contada com muito amor e emoção. As minhas sinceras homenagens aos idealizadores, fundadores, voluntários, colaboradores e associados da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Jequié. Graças a vocês, temos hoje em Jequié, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.

Méd. Vet. Oscar Vitorino Moreira Mendes, fundador da APAE, com muita honra.

Tel. (73) 98803-5153.......E-mail: oscarvitorino@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. Ótima iniciativa, meu caro Oscar! Preservar a memória viva de uma realização da magnitude da fundação da Apae Jequié, é imprescindível para a comunidade. A Apae transforma vidas e melhora o mundo. Nossa gratidão a todas as pessoas que fazem parte dessa história.

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