segunda-feira, 24 de abril de 2023

PEDRITO: UM ZAGUEIRÃO DE MUITO RESPEITO


A gloriosa história do futebol de Ipiaú tem um capítulo especial para Pedro Freire da
Conceição, o popular Pedrito.
Ele é considerado um dos maiores jogadores que já atuou nos gramados da região e se destacou pela elegância, determinação e capacidade de liderança que tornaram seu estilo inconfundível.
Quem o viu jogar garante que era mesmo um zagueirão de respeito. Os atacantes dos times adversários sabiam o que teriam pela frente e concluíam não ser tarefa fácil enfrenta-lo.
Devido à sua grandeza em campo e à própria estatura física lhe atribuíram o superlativo de “Pedrão”.
Pedrito ou Pedrão são faces de uma mesma moeda, personagem do melhor período do futebol ipiauense, homem de bom caráter, cidadão honrado e recatado. Lendário, podemos assim dizer.
Natural do município de Itagibá, filho do fazendeiro Lourival Freire da Conceição e de dona Etelvina Rosa da Conceição, Pedrito chegou em Ipiaú com a idade de cinco anos e desde então nunca deixou esta cidade.
Nem mesmo quando clubes profissionais lhe fizeram propostas tentadoras.
Começou no futebol atuando pelo Vasco de Alipinho, filho do médico Alípio do Prado Correia, onde também jogou o artista plástico Dicinho que fez capas de discos de Gal Gosta e outras celebridades da MPB.
Na adolescência, Pedrito esbanjava sua categoria nos disputados babas do famoso Areão do Barro, tradicional área esportiva à margem do Rio das Contas.
Dalí foi um passo para ingressar na recém fundada equipe do Bancários Atlético Clube que se tornaria o embrião do Ipiaú Esporte Clube.
A partir do ano de 1963 o Ipiaú protagonizou com o Independente Esporte e Cultura o maior clássico do Campeonato Municipal.
Pedrito ganhou seu primeiro título jogando pelo Bancários. Em seguida repetiu a façanha, em 1964, com a camisa do Ipiaú. A decisão foi contra o timaço do Independente. 1X 0, gol de Caçote em cima do incrível goleiro Betinho.
Na zaga central, Pedrito ganhava todas. Na mesma década, em 1967, voltaria a ser campeão pelo Ipiaú.
O Ipiaú foi o time do seu coração. Nunca perdeu a condição de titular absoluto nos muitos anos de atuação pelo alvinegro, o mesmo acontecendo pela Seleção de Ipiaú.
Outros títulos foram conquistados por Pedrito nos times onde jogou. Em 1965 sagrou-se campeão pelo Botafogo de Jequié.
Na Cidade Sol também vestiu a camisa do Jequiézinho e do Estudantes. Foi campeão em Jaquaquara e Poções e ainda jogou na Seleção de Ubatã.
Na Seleção de Ipiaú foi bicampeão do Intermunicipal e duas vezes vice-campeão. Ele assegura que foi o jogador que mais atuou pela Seleção de Ipiaú, embora haja quem conteste essa informação e atribua esse mérito ao goleiro Joelson.
Em 1968 a Seleção de Ipiaú derrotou Jequié, no antigo Estádio Anibal Brito, por 2 X 0, após aplicar o mesmo placar no Estádio Pedro Caetano.
No decorrer da partida o ponteiro Waldir(Di) sofreu uma forte pancada, foi covardemente agredido pelos reservas do time adversário.
Pedrito se revoltou com a agressão e sua reação em defesa do companheiro deu início a uma confusão, seguida da invasão do campo e espancamentos, radicalizando a rivalidade entre as duas torcidas.
Um motivo que muito honra o defensor ipiauense foi ter jogado contra o genial Mané Garrincha, o mais habilidoso ponteiro do futebol mundial.
ENTREVISTA
A entrevista que segue traz outros detalhes da trajetória desse grande atleta, o maior e mais ético zagueiro central do nosso futebol.
Na ocasião da entrevista ele estava vestido com a camisa do Vasco da Gama, seu time nacional, e tinha sobre a cabeça o chapéu que gosta de usar nas farras e pescarias e que lhe acentua o aspecto do eterno xerifão do futebol ipiauense. Confira:
Sua carreira de futebolista ganhou embalo a partir do Baba do Barro, no Areão do Rio de Contas. Quem mais jogava por lá?
Pedrito- Uma turma boa de bola, porradeira e cheia de história. Os irmãos Cudo, Pimentão e Nane Guará. Juba, Bilene, Dedé, Walmir WBO, Litinho, Laudilino e tantos outros. O baba rolava até anoitecer-.
Sabemos que do areão você foi para o Bancários e daí para o fenomenal time do Ipiaú. Mas no campeonato municipal também vestiu a camisa de outras equipes. Cite algumas.
Pedrito- Fiz uma temporada no time do Estudantes do Ginásio de Rio Novo, sob o comando do Capitão Milton Pinheiro. Também joguei no Vasco da Avenida e no Independente, mas a maior parte da minha história nos gramados foi no Ipiaú Esporte Clube, meu time do coração. Até hoje eu tenho uma camisa do Ipiaú-.
Qual foi a formação mais clássica do Ipiaú?
Pedrito- Gilberto Podão, Cabinho, Pedrito, Joca e Créo. Cardoso e Dernival. Noelito, Caçote, Parará e Bal-.
Na sua opinião quem foi o maior craque do futebol ipiaúense?
Pedrito- O volante Cardoso, do Ipiaú. Ele também jogou no Bancários. Tinha condições de chegar à Seleção Brasileira. Nunca conheci um volante igual a Cardoso. Era completo-.
Qual foi o atacante que você teve mais dificuldade de marcar?
Pedrito- Jorge Pato que jogava no Temão. Também era um jogador diferenciado. Chutava com os dois pés, cabeceava bem, finalizava com perfeição. Me deu muito trabalho. Foi um dos melhores atacantes que eu já vi. Outro grande foi Jorge Campos. Conquistamos juntos um título do Intermunicipal-.
E nesse duelo com Jorge Pato quem levou a melhor? Você ou ele?
Pedrito- Acho que deu empate. Risos...-
E o saudoso Gajé?
Pedrito- Era outro grande atleta. Um dos melhores da Bahia, mas jogando contra mim nunca fez um gol-.
Sabendo da sua categoria, clubes profissionais cogitaram lhe contratar, mas você recusou todas propostas. Porque?
Pedrito- Sempre joguei por amor, nunca pelo dinheiro. O Fluminense de Feira me chamou para substituir Sapatão que depois foi ídolo no Bahia. E o Conquista, que tinha em seu elenco craques como Piolho e Naldo também queria me contratar. Garantiram até minha transferência para agencia do Baneb em Vitoria da Conquista. Achei melhor ficar em Ipiaú-.
Ficou famosa a dupla defensiva formada por você e Humberto Cabeleira, inclusive os dois estavam juntos naquele jogo em que Ipiaú venceu Jequié, dentro de casa, pelo Intermunicipal de 1968, mas foi massacrado pela torcida de lá e ainda perdeu os pontos no tapetão. O maior roubo da história do Intermunicipal. Conta como foi isso?
Pedrito- Primeiro quero dizer que eu tinha um estilo mais clássico e Humberto chegava junto, arrepiava mesmo. Ninguém encontrava moleza com nós. Jequié nunca admitiu perder para Ipiaú. Naquele campeonato a gente já tinha ganhado a primeira partida, no Pedro Caetano.
No jogo de volta estávamos ganhando por 2 X 0. Eles tinham perdido um pênalti, através de Pelé Cotó, no início do jogo e nós indo pra cima, dando show de bola, ensaiando uma goleada. Foi quando Waldir, nosso ponteiro, tomou uma pancada e ficou caído.
Os reservas da Seleção de Jequié se apressaram em tira-lo do campo e um deles deu um chute na cabeça de Waldir. Isso me revoltou e eu revidei. Dei uma voadora no agressor e o tempo fechou. Todo mundo saiu na mão, a torcida de Jequié invadiu o campo e foi porrada pra todo lado. Por pouco não teve morte.
Ganhamos mais não levamos. Roubaram nossa Seleção na Federação Baiana de Futebol. A rivalidade entre as duas cidades aumentou e durou muito tempo-.
Dizem que o governador Lomanto Junior mexeu com os pauzinhos e conseguiu reverter o resultado para Jequié, sob a alegação de que a Seleção de Ipiaú estava com um jogador irregular.
Pedrito- Parece que foi isso. O que eu sei é que naquele ano Jequié foi campeão do Intermunicipal, mas nunca vai esquecer as duas derrotas seguidas que aplicamos neles-.
E a sensação de jogar contra Mané Garrincha?
-Foi muita boa. Ele estava em fim de carreira, fazendo jogos amistosos pelo Brasil. Atuou pela Seleção de Jequié contra a Seleção de Ipiaú. O jogo terminou em empate, mas o que me impressionou foi a simplicidade de Garrincha. No intervalo ele ficou conversando com nós, contando história, dando bons exemplos-.
Aos 77 anos de idade, Pedrito desfruta da aposentadoria pelo extinto Baneb.
Continua morando na Rua Alfredo Brito, é habitual frequentador matutino da Praça do Rotary, curte um sambão nas farras com os amigos e não dispensa uma boa pescaria.
Ele tem três filhos: Ronaldo, Ricardo e Rodrigo. O do meio, Ricardo, também conhecido como Ricardo Mudo, é artista plástico, professor de artes marciais e ex-lutador dessa modalidade. Participou de combates até na Bulgaria.
Já é tempo de a Câmara Municipal de Ipiaú conceder o título de cidadania a Pedro Freire da Conceição e outorga-lhe a Medalha do Mérito Esportivo. Ele merece todas as honrarias. (José Américo Castro)


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