quinta-feira, 25 de agosto de 2022

O TEIÚ E A COBRA.

                                                                   Por Carlos Eden Meira

O título acima pode até parecer de alguma fábula ou historinha infantil, no entanto, não é nada disso. É que um dia desses, atendi a uma ligação telefônica em que alguém do outro lado da linha insistia em me empurrar um “remédio poderosíssimo”, que me transformaria num sujeito imune a tudo. A primeira coisa que o “milagreiro” falou, foi perguntar se eu já havia tomado algum remédio desse tipo, justamente no momento em que acabava de enviar para o organismo, uma boa dose de “água de matar gato”. No ato, respondi: - “Tô tomando agora!”. O operador de telemarketing então, perguntou qual remédio eu estava tomando, e, quando expliquei o que era, ele deu uma risadinha profissionalmente amarela, dizendo que também gostava de tomar uma pinguinha ou outra de vez em quando, mas, argumentou que o álcool é nocivo à saúde, e que o produto que ele vendia era ótimo, era isso e mais aquilo, e coisa e tal.

Concordei com ele no que se referiu ao álcool, porém, também não pude deixar de argumentar que se esse produto dele tivesse realmente o potencial conforme era apregoado, os postos de saúde, clínicas e farmácias estariam às moscas, e os médicos estariam vendendo cocada na porta da igreja. Seria o tal remédio, um cruzamento do “elixir da longa vida” com água da “fonte da eterna juventude” dos quais rezam as lendas? Lembrei a ele que sendo assim, o remédio parecia ser semelhante ao que era vendido na nossa velha praça da feira, nos meus tempos de criança, quando uma multidão se reunia em volta de dois “picaretas”: um com uma mala fechada na qual dizia haver uma cobra perigosíssima. O outro, com outra mala, onde estaria um teiú. No chão, mais uma mala, abarrotada de vidrinhos contendo um líquido amarelo, tido como um milagroso remédio que curava dor de cabeça, dor de estômago, dor de dente, dor na boca da titela, espinhela caída, dor de cotovelo, dor de corno, dor nos quartos, maleita, bexiga preta, catapora, papeira, amarelão, hemorróidas, lumbago, sezão, tifo, sarampo, topada, mal dos sete dias, além de prevenir contra tudo quanto é “doença braba”.

O teiú e a cobra iriam sair das malas e entrar na porrada, mas antes, era preciso que o distinto público ali presente comprasse o máximo possível de vidros do santo remédio. O tempo ia passando, e nada de cobra e teiú darem os ares de suas presenças. Enquanto isso, algumas pessoas iam comprando o bendito remédio fabuloso, “preparado pelos índios com raízes, folhas e óleos de plantas misteriosas da região da mata”, conforme diziam eles. Para distrair ainda mais a plateia, os dois “ambulantes” inventavam diálogos neste feitio:

- Cês tão pensando que eu preciso deste tipo de ofício pra viver? Preciso não, eu faço porque gosto! Minha mãe tem muita terra lá em Mato Grosso! – Ao que o outro perguntava:

- Ochente! Então tua mãe tem tanta terra assim?

- Tem sim. Em cima dela, coitadinha, enterrada lá em Mato Grosso. Já morreu há muitos anos!

O público ria e se divertia, mas, vendo que aquilo era pura embromação, que nem cobra nem teiú iriam sair de nenhuma mala para brigar, ia esvaziando o local para cuidar de seus afazeres. Alguns desocupados ainda permaneciam ali por um bom tempo, escutando os hilariantes diálogos dos dois “picaretas”. Até hoje, nunca soube de ninguém que tivesse assistido a tal briga dos bichos. Assim, toda vez que me ligam querendo vender remédios poderosos que curam ou previnem todas as doenças, eu os aborreço contando este caso do teiú e da cobra. Haja saco!

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