J. B. Pessoa.
O quadro acima representa a rua em 1954. Era a casa onde João morava e a vizinha moravam Paulo e Aroldo Vieira.
No pequeno vale entre duas
colinas, nivelando o Rio das Contas, surgiu uma rua singular, a qual conhecemos
como Avenida Santa Luzia. Antigamente, essa área baixa era a estrada natural
das grandes boiadas, vindas do Norte de Minas e do Sudoeste Baiano, com destino
à cidade de Feira de Santana, onde existia uma grande Feira de gado.
Na ocasião da grande enchente
ficou alagada, principalmente na extensão por onde passava um pequeno córrego.
Após a catástrofe de 1914, que quase destruiu a cidade de Jequié, aquela
estrada de boiadas foi, aos poucos, sendo povoada. No princípio
apareceram as vendas e repouso para atender às necessidades dos boiadeiros, os
quais descansavam os seus rebanhos em uma larga área, perto da margem esquerda
do rio. A seguir foram construídas as primeiras moradas, pertencentes às
famílias mais carentes da região.
A construção das casas, que
apareciam na rua, não obedecia a nenhuma regra de planejamento. No princípio
era uma rua torta, cujas casas procuravam evitar proximidade com o corrego, que
transbordava em dias chuvosos, transformando aquela via em um verdadeiro rio.
A rua começava no largo onde
descansavam os animais, o qual foi nominado, tempos depois, de Praça João XXIII
e terminando em um lugar, onde havia uma pequena lagoa, denominada de
"Lagoa do Cururu", hoje Largo do São Francisco. A rua era larga
demais, em algumas partes, e estreita em outras. A partir de um local foi-se
estreitando, longamente, até ficar às duas fileiras de casas, perto uma da
outra, formando um caminho triangular.
Em meados dos anos de 1920,
segundo depoimentos de antigos cidadãos, um senhor afrodescendente, morador da
rua, fez uma novena em sua casa, para pagar uma promessa à Santa Luzia, pela
saúde restaurada de sua filha, chamada Luzia. Depois da novena, numa festa
animada e no calor da animação ele denominou a rua que morava de Rua Santa
Luzia, sob aclamação dos diversos vizinhos, que o apoiavam, integralmente.
Com o passar dos anos, Jequié
foi progredindo, a rua Santa Luzia crescendo e, aquela parte da cidade, situada
na zona oeste, foi modernizada, transformando-se em um bairro periférico, com o
nome Joaquim Romão, que era antigo proprietário daquelas terras.
Antes disso, outro morador de
destaque foi um cidadão conhecido como Manoel Crespo, que por aqui aportou em
1927, construindo várias casas modernas na rua, as quais alugava por um bom
preço e, com o lucro ia construindo outras. Essas novas residências foram
atraindo moradores da classe média e a rua foi adquirindo um status mais
qualificado.
É
interessante notar que, a Avenida Santa Luzia é a única via importante em
Jequié, que não leva o nome de algum político ou pessoa de destaque na
história. Quando a rua começou a ficar importante, alguns políticos tentaram
mudar o nome, homenageando uma figura qualquer. Foi aí então que o cidadão
afrodescendente, chamado Domingos Nery de Santana entrou na disputa. O
Seu Domingos protestou, brigou, quebrou placas com o nome dos pretendentes. Fez
novenas e apelou para padres e pessoas importantes, para conservar o nome da
Santa. Graças à sua persistência e apoio popular, o nome "Rua Santa
Luzia" foi mantido.
Até o início dos anos 60, a rua
continuou sendo o caminho natural das boiadas, quando essa condução passou a
ser substituída por carretas adequadas ao transporte. Nessa época, às rodovias
federais já haviam sido asfaltadas.
Em 1953, os moradores do Bairro
Joaquim Romão fundaram um clube social denominado "Clube dos
Cadetes", o qual ficava de esquina com a atual Avenida Rio Branco, no
setor oeste da cidade, na parte onde, atualmente, está localizado um luxuoso
hotel. Logo depois apareceram um pequeno número de estabelecimentos comerciais,
que deram mais categoria à rua.
As festas no Clube dos Cadetes
ficaram famosas; em seguida, pessoas de outros bairros tornaram-se sócios
daquela singela agremiação. Não tardou muito e logo apareceram os afamados
"pés de valsa", a exemplo do folclórico Zé das Moças, o bem amado das
garotas casadoiras daquela época.
No ano de 1965, na gestão do
prefeito Daniel Andrade, a rua que era torta e irregular sofreu uma grande
reforma. O córrego foi canalizado e várias casas foram derrubadas, para
construir outras, alinhadas metricamente, a rua, que ganhou um moderno sistema
de esgotos. Além disso, foi calçada com pedras paralelepípodais, ganhando o
status de avenida.
No final dos anos 90, a Avenida
Santa Luzia foi novamente reformada, ganhando duas pistas asfaltadas, com
canteiros entre elas e arborizada.
Tendo a sua trajetória
começada na Avenida Lomanto Júnior, atravessando a Avenida Rio Branco e sendo
uma via de comunicação entre a rodoviária e a famosa "feirinha", a
Avenida Santa Luzia tornou-se uma via residencial e comercial, sendo bastante
movimentada, tendo os seus bares frequentados por notívagos e diurnais de toda
a cidade. Recentemente, essa grande via foi, novamente, reformada com
exuberância pelo atual prefeito Zenildo Brandão Santana, mais conhecido como
"Zé Cocá", dando encanto e formosura à famosa avenida, trazendo
alegrias e satisfações para seus felizes moradores.
Como é uma autovia importante,
próxima e posicionada, paralelamente, com a área central da cidade, o futuro da
Avenida Santa Luzia é promissor. Está destinada a se tornar uma bela
avenida, altamente acessível à especulação imobiliária, com imóveis de
alto padrão e lojas conceituais, transformando o ato de morar ou passear em um
evento de sofisticação.