terça-feira, 2 de dezembro de 2025

REBELDES E UTÓPICOS

                                              Por Carlos Eden Meira

Há sempre um momento em que se acredita em ideias transformadoras, na democracia plena, nas justiças humanas e divinas, em um novo tempo de paz duradouro. Após o fim dos horrores da Segunda Guerra Mundial, houve o "bombardeio midiático" do cinema, do rádio, dos jornais e revistas que mostravam os Estados Unidos como os "grandes salvadores do mundo livre". O "comunismo ateu" era, após o fim do nazismo de Hitler, o grande vilão para o mundo ocidental. A fantasia hollywoodiana povoava nossas mentes juvenis com seus heróis e com suas mensagens subliminares, onde o fetichismo imperava dentro dos novos conceitos de modernidade.

Quando foi lançado o filme "REBEL WITHOUT A CAUSE" (1955), cujo título no Brasil foi pessimamente traduzido para "JUVENTUDE TRANSVIADA", seus autores e produtores ainda não imaginavam os efeitos midiáticos que o filme provocaria. Tendo James Dean como protagonista, um jovem ator de 24 anos, que morreu num acidente de carro no mesmo ano do lançamento do filme, descobriu-se a força do fetichismo representada nas roupas, trejeitos, comportamentos e penteados do personagem de Dean.

Todos os rapazes e   adolescentes queriam possuir uma jaqueta vermelha como a de James Dean no filme. Surgia ali, um antagonismo ideológico onde a chamada "sociedade de consumo" ia de encontro à rebeldia histórica dos jovens, sempre inconformados com a hipocrisia da sociedade, já que a mensagem do filme mostrava essa realidade da juventude estadunidense do pós-guerra. Poderia até ser mesmo uma rebeldia sem causa, como diz o título do filme, já que se tratava de um país tido como uma das nações mais ricas do mundo, entretanto, não creio que haja rebeldia sem causa. Nos anos sessenta, a ilusão estadunidense foi desmascarada pelos jovens rebeldes da contracultura que denunciavam a violência da guerra do Vietnam. Músicos, poetas e artistas diversos aliaram-se aos ativistas políticos que escancaravam para o mundo, o racismo, o imperialismo e o belicismo de uma nação que se propunha ser "guardiã da liberdade"

Veio daí, a tendência esquerdista de alguns países da América Latina, sempre tratada pelos estadunidenses como seu quintal. Passou-se então, a acreditar que a salvação viria com o socialismo. Dessa forma, movimentos revolucionários de esquerda explodiram em quase toda América Latina, sufocados pelas ditaduras, e a consequente repressão, financiada pelos EUA. Che Guevara era agora, o novo ídolo. Anos mais tarde, com o fim da União Soviética e seu sistema totalitário de esquerda, e após a queda do muro de Berlim, passou-se a questionar a "salvação socialista" em muitos países, principalmente a Rússia, país que deu origem à revolução comunista, e que apesar de ser hoje uma república democrática, possui todos os defeitos e imperfeições sociológicos de  qualquer país imperialista do mundo. Ainda assim, o pensamento de Karl Marx continua vivo. Ao ler "A UTOPIA"  de Thomas Morus, cheguei à conclusão de que o socialismo puro de Marx tem certas semelhanças com o pensamento de Morus, por ser difícil de pôr em prática.

A rebeldia dos jovens é natural e necessária para que as coisas mudem. E sem utopia, não haveria esperança num futuro melhor para se lutar. Sem ir de encontro "àquela velha opinião formada sobre tudo", como cantava o saudoso Raul Seixas, não haveria evolução.

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