sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

QUAL É, VÉI?

                                                   Por Carlos Eden Meira

Primeiro, eu senti o bafo e o cheiro. Era uma onda de calor, numa mistura de suor, cerveja, cachaça e sei lá o quê mais. Então, levado pelo contágio do ritmo da música frenética e o efeito de várias doses de vódica ou coisa semelhante, fui arrastado naquele "tsunami humano". De repente, percebi que mesmo que eu quisesse, não poderia mais sair daquele turbilhão alucinado, espremido entre corpos saltitantes e suados de maneira que os pés não tocavam o chão. Fiquei à deriva, sem poder me locomover na direção que eu quisesse, com os pés no ar como se flutuasse, ao sabor da massa de foliões do chamado "bloco da pipoca", que acompanhava o trio elétrico

Por um breve momento, vi uma brecha na multidão saltitante, quando nos aproximamos de uma calçada da avenida onde passávamos. Pensei sair por ali, pulando no meio-fio. Quem disse que pude?? Levei um empurrão de banda e fui engolido pela massa ululante, permanecendo por bom tempo sendo jogado de um lado para outro, como bola de vôlei, ping-pong, ou coisas semelhantes.

Finalmente, numa esquina qualquer, fui "cuspido" fora daquela alegre bagunça, ainda zonzo, o corpo dolorido, vendo tudo girando, sem entender muito bem o que havia acontecido. O que teria dado em mim para me meter naquela "zorra trio-eletrizada"? Ainda com as ideias confusas, percebi que havia perdido os óculos! Meu Deus, quem vai entrar numa bagunça daquela usando óculos? A carteira, contendo  uns trocados e uns documentos, tomaram "chá de sumiço" e notei também, que uma perna parecia mais curta do que a outra quando eu tentava andar, o que ficou esclarecido quando vi que somente um pé estava calçado. O outro pé do tênis, deve ter ficado lá, pulando no meio da multidão.

Traumatizado por esse fato, jurei que nunca mais iria a shows e eventos barulhentos em praça pública. - Nem arrastado! - dizia eu, quando há alguns anos, o pessoal de casa me chamou para um mega-show com Elba Ramalho, num São João da época. Jurei, mas acabei indo, pois iria sair todo mundo, e eu não queria passar o São João sozinho em casa. Cuidei de ficar a uma distância segura, numa mesa de bar defronte do palco, porém, longe demais. Mesmo assim, achei que era melhor assim do que perto da zonzeira geral, muito doida. Eu, hein?

Mas que lugar seguro que nada, meu irmão!! O bar onde eu estava com a família, era de esquina, as cadeiras estavam sendo disputadas a tapa, e, minha cadeira ficava bem na curva da calçada. Cada marmanjo que passava me dava uma cotovelada nas costas, dizendo: - Dá licença aí, meu tio - Eu, com um copo de plástico cheio de cerveja na mão, a cada cotovelada apertava o copo e espirrava a cerveja toda na minha cara e na roupa.

Quando resolvi comer uns amendoins como tira-gosto, foi bem pior! A cada cotovelada, eu engasgava, tossia, e voavam amendoins pra todo lado, inclusive, na cara de quem estivesse na mesa comigo. Além disso, na distância em que estávamos, víamos a Elba Ramalho do tamanho de uma pulga, pulando lá no palco. Voltei pra casa sozinho, deixando a família assistindo o resto do Show. Queriam curtir a festa até o final. Voltei pra casa com as costas doloridas, faminto, com as roupas molhadas e fedendo a cerveja que quase não bebi, e praticamente não vi o show. Ainda tive que aguentar na rua, comentários como esse: - E aí meu tio? Mijou nas calças? Deve ter sido um "programão", hein?

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