Magrinho, sempre sorridente,
pernas compridas e finas, pele escura demonstrando suas raízes
afro-descendentes, queixo proeminente num rosto cuja boca, apesar da prótese
dentária que usava, mostrava sinais de que por muito tempo ficara sem os dentes
da frente, o que lhe valeu o apelido de "boca nua". Jurandir Alves
Souza era seu nome verdadeiro, e era sempre visto prestando serviços diversos,
a troco de algum dinheirinho ou pequenos presentes. Gostava de dar respostas
interessantes, nas entrevistas aos radialistas seus conhecidos que o abordavam
durante os programas de rádio transmitidos das ruas do centro da cidade, e
ficava feliz quando alguns deles citavam o dia do seu aniversário.
Em homenagem a ele, no dia
do aniversário, alguém dedicava "Jura", samba de Noel Rosa e
Sinhô, na versão cantada por Zeca pagodinho. Jurandir foi nosso colega na CDL,
onde o pessoal curtia seu jeito "sui generis" de falar que era
interessante. Aos sábados, pela manhã, Jura não hesitava em buscar uma feijoada
e as cervejinhas, coisas que não dispensava nunca, pois, comer e beber era
mesmo com ele. Quando alguém, por brincadeira, dizia que não ia mais ter
feijoada nem cerveja, ele fechava a cara e resmungava o tempo todo. Ali, no
Calçadão da Sete de Setembro, Jura era conhecido por todos. Dos lojistas
aos funcionários das lojas. Creio que em Jequié, pouca gente não
conhecia "Jura boca nua".
Não tenho certeza de nada,
quanto ao que nos acontece quando deixamos este mundo. Apesar de não ser ateu
nem materialista, creio que céu e inferno são simbolismos que representam nossa
própria condição humana. Não me considero capaz de definir os valores que
determinam a felicidade ou a infelicidade de alguém, pois, conheço pessoas que
se alegram com o mínimo, enquanto outras buscam desesperadamente encontrar a
felicidade no luxo e na riqueza. Acabam perdidas no vício e nos excessos que a
fortuna lhes proporciona, tornando-os infelizes. É claro que pobreza não traz
felicidade a ninguém, e se o simples fato de ser rico trouxesse infelicidade,
ninguém iria querer ganhar o prêmio máximo da loteria.
Entretanto, estes não são
fatores imprescindíveis para determinar o que leva uma pessoa a se considerar
feliz ou infeliz. Jurandir Alves Souza era um cidadão pobre, mas não me parecia
uma pessoa infeliz. Pelo contrário, estava sempre alegre, gostava de cantar
enquanto trabalhava. Só ficava visivelmente aborrecido, quando alguém atrasava
o pagamento por um serviço prestado.
Na sua existência simples e humilde, viveu do seu jeito, a vida que o destino lhe reservou. E se houver num outro "plano astral" um mundo melhor do que este em que vivemos, Jurandir, com certeza está por lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário