Por
Carlos Eden Meira
Até os anos 50 e 60, os
pequenos aeroportos de cidades do interior eram chamados de "campos de
aviação". Era uma época em que os aviões comerciais de passageiros ainda
funcionavam com hélices impulsionadas por motores. Havia os pequenos aviões de
uma hélice apelidados de "teco-teco", os bimotores de duas hélices e
os quadrimotores, obviamente de quatro hélices. Em nosso "campo de
aviação" Vicente Grillo, não havia pista de pouso asfaltada, o ponto de
apoio para embarque e desembarque de passageiros era uma velha casa de
"adobão", no entanto, faziam escala ali, grandes aeronaves de algumas
das principais empresas aéreas do Brasil, na época: Nacional Aerovias, e Real.
Nesse período, Jequié era um município de maior importância no Estado, sendo
muito prestigiado pelos figurões da política estadual ou mesmo federal.
Lembro-me de ter visto,
juntamente com meu pai, o desembarque de três históricos presidenciáveis de
partidos e ideologias diferentes, saindo de seus aviões, ali naquele
"campo de aviação". O primeiro que vimos foi o candidato integralista
Plínio Salgado. Em outra oportunidade, assistimos à chegada do candidato Juarez
Távora, herói da "Coluna Prestes", um dos líderes da revolução
de 30 conhecido como "O Leão do Norte".
De sua comitiva fazia parte,
outro personagem histórico, alagoano, famoso na política carioca que inspirou o
filme "O Homem da Capa Preta", interpretado por José Wilker.
Tratava-se do deputado Tenório Cavalcanti.
No comício realizado no
"Colarinho de Saback" às 10 horas da manhã, fiquei impressionado com
a característica imagem do deputado Tenório, de cavanhaque grisalho,
óculos de aros grossos, usando sua famosa capa preta .
Quando discursava com sua voz
rouca, abria os braços, mostrando o forro vermelho da capa. No meio daquele
amontoado de pessoas que assistiam ao comício, ouviu-se uma voz que gritava:
"Deputado, cadê a "Lurdinha"? Algumas pessoas riam, outras
fechavam a cara, indignadas. Fiquei sem entender nada, pois tinha apenas sete
anos de idade. Meu pai então, explicou que a tal "Lurdinha" era uma
metralhadora "Thompson" que conforme diziam, o deputado levava sempre
por baixo da capa preta, mas ali, ninguém viu a metralhadora.
Não me sai também da memória a grande aeronave azul que vimos da nossa janela, voando ao longo do Rio de Contas, em direção ao "campo de aviação" trazendo o candidato a presidente, Juscelino Kubitschek, que saiu vitorioso naquela campanha. Mais tarde, na sacada da Rádio Bahiana de Jequié, JK acenou para a multidão que se aglomerava na Praça Ruy Barbosa e na Rua Dois de Julho, e fez um discurso saudando o povo de Jequié. Hoje, percebo a importância histórica de ter visto ao vivo, aqui na nossa cidade, esses famosos vultos da História Nacional.
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