terça-feira, 9 de dezembro de 2025

"CAMPO DE AVIAÇÃO"

                                              Por Carlos Eden Meira

Até os anos 50 e 60, os pequenos aeroportos de cidades do interior eram chamados de "campos de aviação". Era uma época em que os aviões comerciais de passageiros ainda funcionavam com hélices impulsionadas por motores. Havia os pequenos aviões de uma hélice apelidados de "teco-teco", os bimotores de duas hélices e os quadrimotores, obviamente de quatro hélices. Em nosso "campo de aviação" Vicente Grillo, não havia pista de pouso asfaltada, o ponto de apoio para embarque e desembarque de passageiros era uma velha casa de "adobão", no entanto, faziam escala ali, grandes aeronaves de algumas das principais empresas aéreas do Brasil, na época: Nacional Aerovias, e Real. Nesse período, Jequié era um município de maior importância no Estado, sendo muito prestigiado pelos figurões da política estadual ou mesmo federal.

Lembro-me de ter visto, juntamente com meu pai, o desembarque de três históricos presidenciáveis de partidos e ideologias diferentes, saindo de seus aviões, ali naquele "campo de aviação". O primeiro que vimos foi o candidato integralista Plínio Salgado. Em outra oportunidade, assistimos à chegada do candidato Juarez Távora, herói da "Coluna Prestes",  um dos líderes da revolução de 30 conhecido como "O Leão do Norte".

De sua comitiva fazia parte, outro personagem histórico, alagoano, famoso na política carioca que inspirou o filme "O Homem da Capa Preta", interpretado por José Wilker. Tratava-se do  deputado Tenório Cavalcanti.

No comício realizado no "Colarinho de Saback" às 10 horas da manhã, fiquei impressionado com a característica imagem do deputado Tenório,  de cavanhaque grisalho, óculos de aros grossos, usando sua famosa capa preta .

Quando discursava com sua voz rouca, abria os braços, mostrando o forro vermelho da capa. No meio daquele amontoado de pessoas que assistiam ao comício, ouviu-se uma voz que gritava: "Deputado, cadê a "Lurdinha"? Algumas pessoas riam, outras fechavam a cara, indignadas. Fiquei sem entender nada, pois tinha apenas sete anos de idade. Meu pai então, explicou que a tal "Lurdinha" era uma metralhadora "Thompson" que conforme diziam, o deputado levava sempre por baixo da capa preta, mas ali, ninguém viu a metralhadora.

Não me sai também da memória a grande aeronave azul que vimos da nossa janela, voando ao longo do Rio de Contas, em direção ao "campo de aviação" trazendo o candidato a presidente, Juscelino Kubitschek, que saiu vitorioso naquela campanha. Mais tarde, na sacada da Rádio Bahiana de Jequié, JK acenou para a multidão que se aglomerava na Praça Ruy Barbosa e na Rua Dois de Julho, e fez um discurso  saudando o povo de Jequié. Hoje, percebo a importância histórica de ter visto  ao vivo, aqui na nossa cidade, esses famosos vultos da História Nacional.

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