segunda-feira, 6 de outubro de 2025

UMA QUESTÃO DE SORTE, OU FALTA DE TALENTO?

                                                    Por Carlos Eden Meira

Lendo textos biográficos de Charles Schulz, autor de Charlie Brown e de Robert Crumb, autor de Mr. Natural, descobri semelhanças entre esses dois gigantes do cartunismo e das HQs,  na minha trajetória como cartunista e a desses dois grandes autores. Guardadas, é claro, as devidas e enormes proporções. No que se refere a Schulz, me identifico pela timidez, introspecção e características físicas  desse autor, que se sentia rejeitado assim como eu que também sofria rejeição por algumas pessoas pelo fato de não ter atrativos físicos, e ser também tímido, tal como se sentia Schulz.

Charles Schulz sofria bullying na escola ou entre os amigos de sua  pequena cidade, nos EUA, ainda que muitos deles invejassem seu talento  para o desenho e sabiam que aquele garoto tímido, um dia, seria valorizado. Foi publicando tirinhas de Charlie Brown e Snoopy em jornais que Schulz chegou ao estrelato nos quadrinhos, e ficou famoso e rico. No personagem Charlie  Brown, Schulz personifica suas próprias amarguras, revolta e também as amizades e alegrias entre as crianças do seu meio.

Quanto a Robert Crumb, me identifico pela semelhança entre sua trajetória como artista dos quadrinhos e os bullyings que sofria mesmo até na idade  adulta, só passando a ser reconhecido pela mídia quando começou a desenhar revistas undergrounds (contracultura) dos turbulentos anos 60, nos Estados Unidos chegando a ser convidado para desenhar a capa do álbum CHEAP THRILLS de Janis Joplin. Nem ele entendeu o que foi que aconteceu. Foi um golpe de sorte, ou foi o talento? Conforme já citei em outro texto.

Muito antes de publicar cartuns e tirinhas nos jornais e revistas da cidade, fiz apenas duas revistas, que continuam inéditas até hoje. As  historinhas de Zé Mancada, por exemplo, desenhadas com esferográfica e coloridas com lápis de cor, nunca foram publicadas. Uma feita em julho de 1968 e outra em setembro de 1969. Só comecei a publicar cartuns e tirinhas, nos jornais estudantis do terceiro ano científico do IERP, "O ANTENA" e "RADAR". Mais tarde colaborei com a seção CARTUNARTE de Herbert Magalhães no jornal A TARDE durante muitos anos. Ali, criei os personagens Beijoca, Linda, Ouriço, Gasoso, Al Sapão e Jacomias. Um pouco mais tarde publiquei em jornais, blogs e revistas de Jequié, o personagem político Dr. Salvelindo e  seu secretário Hortêncio. Todos esses trabalhos foram feitos sem nenhuma remuneração. Apenas quis colaborar com a imprensa, onde escrevi textos diversos, ilustrados com  charges e tirinhas de minha autoria.

Mas, a partir das publicações na nossa imprensa, alguns escritores locais solicitaram desenhos meus, para ilustrar seus livros pagando pelos serviços. Não era uma boa remuneração, mas já era alguma coisa. Então eu pergunto:  o que aconteceu, no meu caso, como cartunista? Foi falta de talento, de coragem para partir para os grandes centros, onde as coisas acontecem, ou uma questão de sorte? Robert Crumb que o diga.

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