Por Carlos Eden Meira
Lendo textos biográficos de Charles Schulz, autor
de Charlie Brown e de Robert Crumb, autor de Mr. Natural, descobri semelhanças
entre esses dois gigantes do cartunismo e das HQs, na minha trajetória
como cartunista e a desses dois grandes autores. Guardadas, é claro, as devidas
e enormes proporções. No que se refere a Schulz, me identifico pela timidez,
introspecção e características físicas desse autor, que se sentia
rejeitado assim como eu que também sofria rejeição por algumas pessoas pelo
fato de não ter atrativos físicos, e ser também tímido, tal como se sentia
Schulz.
Charles Schulz sofria bullying na escola ou entre
os amigos de sua pequena cidade, nos EUA, ainda que muitos deles
invejassem seu talento para o desenho e sabiam que aquele garoto tímido,
um dia, seria valorizado. Foi publicando tirinhas de Charlie Brown e Snoopy em
jornais que Schulz chegou ao estrelato nos quadrinhos, e ficou famoso e rico.
No personagem Charlie Brown, Schulz personifica suas próprias amarguras,
revolta e também as amizades e alegrias entre as crianças do seu meio.
Quanto a Robert Crumb, me identifico pela
semelhança entre sua trajetória como artista dos quadrinhos e os bullyings que
sofria mesmo até na idade adulta, só passando a ser reconhecido pela
mídia quando começou a desenhar revistas undergrounds (contracultura) dos
turbulentos anos 60, nos Estados Unidos chegando a ser convidado para desenhar
a capa do álbum CHEAP THRILLS de Janis Joplin. Nem ele entendeu o que foi que
aconteceu. Foi um golpe de sorte, ou foi o talento? Conforme já citei em outro
texto.
Muito antes de publicar cartuns e tirinhas nos
jornais e revistas da cidade, fiz apenas duas revistas, que continuam inéditas
até hoje. As historinhas de Zé Mancada, por exemplo, desenhadas com
esferográfica e coloridas com lápis de cor, nunca foram publicadas. Uma feita
em julho de 1968 e outra em setembro de 1969. Só comecei a publicar cartuns e
tirinhas, nos jornais estudantis do terceiro ano científico do IERP, "O
ANTENA" e "RADAR". Mais tarde colaborei com a seção CARTUNARTE
de Herbert Magalhães no jornal A TARDE durante muitos anos. Ali, criei os
personagens Beijoca, Linda, Ouriço, Gasoso, Al Sapão e Jacomias. Um pouco mais
tarde publiquei em jornais, blogs e revistas de Jequié, o personagem político Dr.
Salvelindo e seu secretário Hortêncio. Todos esses trabalhos foram feitos
sem nenhuma remuneração. Apenas quis colaborar com a imprensa, onde escrevi
textos diversos, ilustrados com charges e tirinhas de minha autoria.
Mas, a partir das publicações na nossa imprensa, alguns escritores locais solicitaram desenhos meus, para ilustrar seus livros pagando pelos serviços. Não era uma boa remuneração, mas já era alguma coisa. Então eu pergunto: o que aconteceu, no meu caso, como cartunista? Foi falta de talento, de coragem para partir para os grandes centros, onde as coisas acontecem, ou uma questão de sorte? Robert Crumb que o diga.
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