quinta-feira, 4 de setembro de 2025

TITAN

                                   Carlos Eden Meira

Era um cachorrinho esperto. Cruzamento de perdigueiro com dálmata, Titan foi dado de presente a Maneca, um dos meus irmãos mais velhos. Habilidoso em trabalhar com madeira, Maneca fez no quintal, uma casinha para Titan. Foi o primeiro cãozinho que tivemos em casa. Logo pela manhã, quando alguém abria a porta dos fundos, Titan entrava casa adentro, corria para nosso quarto e subia na minha cama me acordando. Eu aos sete anos de idade, considerava o cachorrinho como meu brinquedo preferido. Ainda pequeno, não o deixávamos sair de casa.

Com o passar do tempo, Titan já saía às ruas, e, se metia em brigas com outros cães, pois, apesar de não ser da raça de cães de briga, Titan não era covarde e enfrentava até cachorros maiores e violentos. Certa vez, teve um sério ferimento no pescoço resultante de uma violenta mordida de um pastor-alemão. Isso nos preocupou bastante, fazendo com que providenciássemos uma coleira de couro larga e cheia de pontas de metal que, após algum tempo curando a ferida, Titan, agora protegido, já podia sair às ruas.

Titan, à medida que crescia, demonstrava uma rara Inteligência para um animal. Aprendeu, por exemplo, a abrir um portãozinho de madeira que tínhamos na frente do pátio da casa, que não trancávamos durante o dia. Titan enfiava a pata na grade do portão, abria, e tranquilamente, saía.

Em épocas de São João, Titan, diferente da maioria dos cães, não tinha medo do barulho de bombas e foguetes. Gostava mesmo era de correr atrás das chamadas "cobrinhas elétricas" que soltávamos para vê-lo correr alegremente. Mesmo não sendo treinado para ser cão de guarda, Titan, à noite, assustava qualquer pessoa estranha que chegasse no portão da frente, ou nos fundos da casa.

Quando nos mudamos para a casa de minha avó, Titan já era um cachorro idoso, na faixa dos onze ou doze anos. Era uma época em que os animais não comiam ração específica para sua espécie. Gatos e cachorros comiam restos de comida, e pronto. Nessa condição, Titan, desorientado pela idade começou a entrar em casas alheias procurando comida, e acabou ingerindo vidro moído misturado com alguma coisa. Um ato maldoso de alguém que até hoje não sabemos quem foi. Assim, botando sangue pela boca, morreu nosso Titan. Se existe um céu para animais, Titan ali está, correndo atrás de fogos celestiais.

 


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