domingo, 7 de setembro de 2025

QUATRO BAIXOS?

                                             Carlos Eden Meira

Meu primeiro contato com um instrumento musical foi quando meu pai me deu uma sanfoninha Hering, de quatro baixos. Aprendi a tocar de forma rudimentar, quando vi num circo, um dos artistas tocar num vibrafone improvisado com garrafas. As notas musicais eram formadas nas garrafas, quando eram vibradas com uma espécie de baqueta, dessas usadas por bateristas. As garrafas eram penduradas de uma maneira que as notas intermediárias, ou seja: sustenidos e bemóis ficavam penduradas acima das outras garrafas. O que determinava os graves e agudos era a quantidade de água contidas nas garrafas. Sons mais graves, mais água, sons mais agudos, menos água. Eu acho que era isso.

Minha irmã, Dorinha estudava Canto Orfeônico  no colégio e me mostrou uma música que era solfejada com as sete notas musicais dando assim uma ideia de como eu poderia improvisar um vibrafone igual ao que vi no circo. Dessa maneira fui usando quaisquer objetos que soavam sob a percussão de uma colher, por exemplo. Copos com água, pratos e pires maiores e menores formaram meu "vibrafone". Ocorreu então, que meu pai, Henrique Meira Magalhães achou aquilo interessante e tendo conversado sobre isso com um velho amigo Jovino Astrê, jornalista dono do jornal  O LABOR resultou num coisa que foi de extrema importância para mim. O velho jornalista deu a meu pai uma pequena sanfona de apenas quatro baixos, contando com tristeza, que o instrumento pertencera a um filho mais velho, que morrera violentamente, na fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Ele queria que meu pai me desse a sanfoninha que lhe trazia muita saudade do filho morto.

Fui testando as teclas da sanfona, descobrindo as notas, graças ao meu improvisado vibrafone. Aprendi de maneira rudimentar a tocar musiquinhas simples, pois, num instrumento daquele porte não continha as notas intermediárias. ASA BRANCA de Luiz Gonzaga, foi a primeira música que toquei. O pessoal lá de casa ficou impressionado com aquilo.Como era possível um menino de seus seis ou sete anos aprender a tocar sanfona sem ter sido ensinado?

Com o passar do tempo, a sanfoninha foi envelhecendo. Alguns botões, como eram chamadas as teclas, foram ficando mudas ou desafinadas. Numa ocasião, eu também  já mais velho viajei para a fazenda do meu avô e levei a "quatro baixos" comigo. Ali encontrei Vivaldo, o "Araruta" que já citei em alguns dos meus textos. Vivaldo, tinha um jumentinho, e quando viu a sanfoninha me perguntou se eu queria trocar pelo jumento.

Não sei o que é que eu iria fazer com um jumento. Levar pra casa? Impossível! Resolvi então deixar tudo lá na fazenda. Sanfona e jumento. Vivaldo disse que cuidaria do animal para mim, mas eu não tinha nenhum interesse por isso. As duas coisas ficaram lá, na fazenda.  Anos mais tarde, aborreci meu pai querendo uma sanfona nova e maior. Insisti tanto que ele acabou comprando um acordeon Hering, da mesma marca da velha "quatro baixos" só que essa tinha vinte e quatro baixos e teclas com sustenidos e bemóis. Ganhei no dia do meu aniversário e foi uma alegria total. Meu pai achava que eu tocava muito bem e não se preocupou em me matricular em um curso de música. Mas na verdade, eu fui aprendendo "na raça" a tocar acordeon. Apelei então para valsas, boleros, chotes  raramente utilizando as teclas pretas intermediárias. Um amigo ao me ver tocar disse que eu não precisava de curso, pois, tocava bem. Tive que explicar pra ele, que meu "curso" foi uma inexplicável intuição. Continuei a tocar em sanfonas maiores. Mas, por negligência de minha parte, ainda toco mal.  E pensar que tudo começou com um vibrafone de circo, os solfejos de minha irmã e minha "quatro baixos".

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