Carlos Eden Meira
Meu
primeiro contato com um instrumento musical foi quando meu pai me deu uma
sanfoninha Hering, de quatro baixos. Aprendi a tocar de forma rudimentar,
quando vi num circo, um dos artistas tocar num vibrafone improvisado com
garrafas. As notas musicais eram formadas nas garrafas, quando eram vibradas
com uma espécie de baqueta, dessas usadas por bateristas. As garrafas eram
penduradas de uma maneira que as notas intermediárias, ou seja: sustenidos e
bemóis ficavam penduradas acima das outras garrafas. O que determinava os
graves e agudos era a quantidade de água contidas nas garrafas. Sons mais
graves, mais água, sons mais agudos, menos água. Eu acho que era isso.
Minha irmã, Dorinha estudava
Canto Orfeônico no colégio e me mostrou uma música que era solfejada com
as sete notas musicais dando assim uma ideia de como eu poderia improvisar um
vibrafone igual ao que vi no circo. Dessa maneira fui usando quaisquer objetos
que soavam sob a percussão de uma colher, por exemplo. Copos com água, pratos e
pires maiores e menores formaram meu "vibrafone". Ocorreu então, que
meu pai, Henrique Meira Magalhães achou aquilo interessante e tendo conversado
sobre isso com um velho amigo Jovino Astrê, jornalista dono do jornal O
LABOR resultou num coisa que foi de extrema importância para mim. O velho
jornalista deu a meu pai uma pequena sanfona de apenas quatro baixos, contando
com tristeza, que o instrumento pertencera a um filho mais velho, que morrera
violentamente, na fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Ele queria que meu pai
me desse a sanfoninha que lhe trazia muita saudade do filho morto.
Fui testando as teclas da
sanfona, descobrindo as notas, graças ao meu improvisado vibrafone. Aprendi de
maneira rudimentar a tocar musiquinhas simples, pois, num instrumento daquele
porte não continha as notas intermediárias. ASA BRANCA de Luiz Gonzaga, foi a
primeira música que toquei. O pessoal lá de casa ficou impressionado com aquilo.Como
era possível um menino de seus seis ou sete anos aprender a tocar sanfona sem
ter sido ensinado?
Com o passar do tempo, a
sanfoninha foi envelhecendo. Alguns botões, como eram chamadas as teclas, foram
ficando mudas ou desafinadas. Numa ocasião, eu também já mais velho
viajei para a fazenda do meu avô e levei a "quatro baixos" comigo.
Ali encontrei Vivaldo, o "Araruta" que já citei em alguns dos meus
textos. Vivaldo, tinha um jumentinho, e quando viu a sanfoninha me perguntou se
eu queria trocar pelo jumento.
Não sei o que é que eu iria
fazer com um jumento. Levar pra casa? Impossível! Resolvi então deixar tudo lá
na fazenda. Sanfona e jumento. Vivaldo disse que cuidaria do animal para mim,
mas eu não tinha nenhum interesse por isso. As duas coisas ficaram lá, na
fazenda. Anos mais tarde, aborreci meu pai querendo uma sanfona nova e
maior. Insisti tanto que ele acabou comprando um acordeon Hering, da mesma
marca da velha "quatro baixos" só que essa tinha vinte e quatro
baixos e teclas com sustenidos e bemóis. Ganhei no dia do meu aniversário e foi
uma alegria total. Meu pai achava que eu tocava muito bem e não se preocupou em
me matricular em um curso de música. Mas na verdade, eu fui aprendendo "na
raça" a tocar acordeon. Apelei então para valsas, boleros, chotes
raramente utilizando as teclas pretas intermediárias. Um amigo ao me ver tocar
disse que eu não precisava de curso, pois, tocava bem. Tive que explicar pra
ele, que meu "curso" foi uma inexplicável intuição. Continuei a tocar
em sanfonas maiores. Mas, por negligência de minha parte, ainda toco mal.
E pensar que tudo começou com um vibrafone de circo, os solfejos de minha irmã
e minha "quatro baixos".
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