J. B. Pessoa.
Nos saudosos anos dourados havia em Jequié uma escola pública, a qual
era especial em toda sua conjuntura. Foi criada para suprir às necessidades do
ensino primário na cidade. Tinham em seu corpo docente professoras graduadas em
Escolas Normais. Contudo, o seu corpo discente abrigava os piores moleques da
cidade; muitos deles de famílias tradicionais, expulsas de outros
estabelecimentos escolares. Era uma escola com duas alas distintas, uma
masculina e outra feminina. Nessa escola estudavam crianças e pré-adolescentes
oriundas de famílias com menor poder aquisitivo da cidade, como também, algumas
remediadas. As pessoas ricas ou da classe média alta, com melhor poder
financeiro, matriculavam os seus filhos nas glamorosas escolas particulares,
cujas professoras eram a nata da competência profissional.
Havia nessa escola, certa funcionária pública. Foi contratada para
ajudar uma velha servente, na limpeza e manutenção diária dessa superlotada
escola. No início da sua atuação, ela desenvolveu um excelente trabalho,
deixando o estabelecimento escolar impecável. Foi de grande ajuda para sua
velha colega de trabalho, e todas as professoras louvavam à sua competência
profissional; principalmente as alunas, pois os sanitários permaneciam,
impecavelmente, limpos.
Como era uma mulher dinâmica, ajudava as professoras na disciplina
escolar. Fez um bom trabalho, impondo respeito na molecada, pois era forte e
não tinha medo de cara feia. A diretora da escola, admirada com a autoridade
nata daquela mulher, a qual era uma solteirona de meia idade, interessante e de
porte elegante, resolveu promovê-la a um caro adequado à sua competência. De
servente, que era, foi promovida a ascensora escolar, com um salário superior
ao que ganhava. Os alunos da escola não gostaram da promoção, devido ao fato
daquela mulher antipática ser injusta, pois não separava o joio do trigo,
perseguindo inocentes e culpados com a mesma crueldade; além do fato dela ser
desonesta, pois não devolvia os objetos esquecidos pelos estudantes na escola.
Frequentava aquele educandário, um aluno de treze anos, caboclo,
descendente dos índios da região. O garoto tinha muito orgulho da sua
ascendência indígena. Era um moleque arrogante e indisciplinado. Bastante
forte, tornou-se o terror da meninada, pois era um brigão feroz, impondo
respeito na molecagem em geral, sendo temido até pelas professoras, pois era
filho de um famoso pistoleiro da região.
Certa manhã, quando a meninada voltava do recreio para suas salas de
aula, o impertinente moleque resolveu desobedecer àquela destemida ascensora.
Ela lhe ralhou com firmeza, e o moleque lhe desrespeitou com injúrias e
palavras de baixo calão. Resultado: o mequetrefe recebeu uma tremenda sova, que
ficou famosa na cidade, a qual foi comentada por muitos anos em Jequié. As
professoras adoraram; contudo, a garotada detestou. Principalmente a molecada
da escola. Todos os alunos ficaram solidários com o moleque, pela impertinência
daquela arrogante e antipática mulher.
A molecada da escola jurou vingança: "Isso não pode ficar assim"
clamou os moleques que estudavam naquele estabelecimento escolar. Os
estudantes, em geral, traçaram planos mirabolantes, para se vingar do inimigo
comum a todos. Depois de muitos prós e contras chegarem a uma estratégia
brilhante, a qual iria enxovalhar a inimiga espertalhona e ninguém poderia
acusá-los de nada.
Certa manhã, perto do Natal, um cidadão chegou à escola no intuito de
visitar um afilhado. Ele carregava consigo um grande pacote, embrulhado com um
finíssimo papel dourado e enlaçado com uma fita vermelha. O cidadão era o irmão
mais velho de um dos moleques. Depois de conversar com o garoto, despediu-se
dele e foi embora, fingindo ter esquecido o presente na mesa da ascensora. Ela
viu o embrulho e não alertou o cidadão do seu esquecimento. Ao meio-dia, quando
finalizou o período matutino, a funcionária permaneceu na escola por
determinado tempo. Logo a seguir, ela saiu carregando em um saco o embrulho,
sem saber, que aquele era o seu presente de Natal, doado pela molecada que a
odiava. Foi embora para a sua casa, satisfeita da vida. Sem serem notados, os
moleques acompanham a funcionária pública até a sua residência e ficaram na
expectativa dos acontecimentos.
Logo depois
que a mulher adentrou em sua casa, as pessoas que transitavam pela rua ouviram
um sonoro grito de ódio, que ressoou por toda a vizinhança. Ao abrir o
presente, a mulher verificou que havia excrementos fecais dentro da bela caixa,
com um bilhete que dizia: "Merdas para uma merda". Nesse momento,
toda a molecada da escola apareceu em frente à casa da vigarista e presenteou
àquela ascensora escolar com um coral de estrondosas vaias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário