sábado, 27 de setembro de 2025

O Presente de Natal.

                                              J. B. Pessoa.

Nos saudosos anos dourados havia em Jequié uma escola pública, a qual era especial em toda sua conjuntura. Foi criada para suprir às necessidades do ensino primário na cidade. Tinham em seu corpo docente professoras graduadas em Escolas Normais. Contudo, o seu corpo discente abrigava os piores moleques da cidade; muitos deles de famílias tradicionais, expulsas de outros estabelecimentos escolares. Era uma escola com duas alas distintas, uma masculina e outra feminina. Nessa escola estudavam crianças e pré-adolescentes oriundas de famílias com menor poder aquisitivo da cidade, como também, algumas remediadas. As pessoas ricas ou da classe média alta, com melhor poder financeiro, matriculavam os seus filhos nas glamorosas escolas particulares, cujas professoras eram a nata da competência profissional.

Havia nessa escola, certa funcionária pública. Foi contratada para ajudar uma velha servente, na limpeza e manutenção diária dessa superlotada escola. No início da sua atuação, ela desenvolveu um excelente trabalho, deixando o estabelecimento escolar impecável. Foi de grande ajuda para sua velha colega de trabalho, e todas as professoras louvavam à sua competência profissional; principalmente as alunas, pois os sanitários permaneciam, impecavelmente, limpos.

Como era uma mulher dinâmica, ajudava as professoras na disciplina escolar. Fez um bom trabalho, impondo respeito na molecada, pois era forte e não tinha medo de cara feia. A diretora da escola, admirada com a autoridade nata daquela mulher, a qual era uma solteirona de meia idade, interessante e de porte elegante, resolveu promovê-la a um caro adequado à sua competência. De servente, que era, foi promovida a ascensora escolar, com um salário superior ao que ganhava. Os alunos da escola não gostaram da promoção, devido ao fato daquela mulher antipática ser injusta, pois não separava o joio do trigo, perseguindo inocentes e culpados com a mesma crueldade; além do fato dela ser desonesta, pois não devolvia os objetos esquecidos pelos estudantes na escola.

Frequentava aquele educandário, um aluno de treze anos, caboclo, descendente dos índios da região. O garoto tinha muito orgulho da sua ascendência indígena. Era um moleque arrogante e indisciplinado. Bastante forte, tornou-se o terror da meninada, pois era um brigão feroz, impondo respeito na molecagem em geral, sendo temido até pelas professoras, pois era filho de um famoso pistoleiro da região.

Certa manhã, quando a meninada voltava do recreio para suas salas de aula, o impertinente moleque resolveu desobedecer àquela destemida ascensora. Ela lhe ralhou com firmeza, e o moleque lhe desrespeitou com injúrias e palavras de baixo calão. Resultado: o mequetrefe recebeu uma tremenda sova, que ficou famosa na cidade, a qual foi comentada por muitos anos em Jequié. As professoras adoraram; contudo, a garotada detestou. Principalmente a molecada da escola. Todos os alunos ficaram solidários com o moleque, pela impertinência daquela arrogante e antipática mulher.

A molecada da escola jurou vingança: "Isso não pode ficar assim" clamou os moleques que estudavam naquele estabelecimento escolar. Os estudantes, em geral, traçaram planos mirabolantes, para se vingar do inimigo comum a todos. Depois de muitos prós e contras chegarem a uma estratégia brilhante, a qual iria enxovalhar a inimiga espertalhona e ninguém poderia acusá-los de nada.

Certa manhã, perto do Natal, um cidadão chegou à escola no intuito de visitar um afilhado. Ele carregava consigo um grande pacote, embrulhado com um finíssimo papel dourado e enlaçado com uma fita vermelha. O cidadão era o irmão mais velho de um dos moleques. Depois de conversar com o garoto, despediu-se dele e foi embora, fingindo ter esquecido o presente na mesa da ascensora. Ela viu o embrulho e não alertou o cidadão do seu esquecimento. Ao meio-dia, quando finalizou o período matutino, a funcionária permaneceu na escola por determinado tempo. Logo a seguir, ela saiu carregando em um saco o embrulho, sem saber, que aquele era o seu presente de Natal, doado pela molecada que a odiava. Foi embora para a sua casa, satisfeita da vida. Sem serem notados, os moleques acompanham a funcionária pública até a sua residência e ficaram na expectativa dos acontecimentos.

Logo depois que a mulher adentrou em sua casa, as pessoas que transitavam pela rua ouviram um sonoro grito de ódio, que ressoou por toda a vizinhança. Ao abrir o presente, a mulher verificou que havia excrementos fecais dentro da bela caixa, com um bilhete que dizia: "Merdas para uma merda". Nesse momento, toda a molecada da escola apareceu em frente à casa da vigarista e presenteou àquela ascensora escolar com um coral de estrondosas vaias.

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