sexta-feira, 12 de setembro de 2025

O Pau de Merda.

                                                  J. B. Pessoa.

Nas enluaradas noites jequieenses, quando a brisa natural das áreas agrestes beneficiava o típico verão sertanejo, a meninada dos círculos periféricos da cidade aproveitava a claridade lunar, para realizar suas famosas travessuras.

Nessas memoráveis noites de antigamente, as pessoas reuniam-se em suas calçadas e, sob o encanto de uma Lua imaculada, distraiam-se em agradáveis palestras com seus vizinhos, enquanto suas filhas moças e meninas divertiam-se com as saudosas cantigas de rodas e outras saudáveis brincadeiras de outrora, que a força do tempo apagou.

Aproveitando a falta de virgília familiar, a molecada aproveitava a claridade lunar para realizar suas travessuras. Os moleques eram peraltas e inconsequentes. Adoravam pegar peças irritantes, nos transeuntes que encontravam pela noite. A molecagem preferida deles era o famoso "pau de merda", também conhecido como pau de cocô. A pegadinha consiste em untar um pau com excrementos fecais e, simulando uma briga, fazer com que, alguém desavisado o segure, melando toda à sua mão.

Para o fato acontecer, torna-se necessário uma articulação teatral de uma briga de rua. Os moleques eram talentosos em suas atuações e, dificilmente, alguém percebia a fraude representada.

Em uma bela noite de luar, quando a lua cheia parecia sorrir para todos, os moleques do Largo do Cururu resolveram sair pelas redondezas, para aplicar nos ingênuos a pegadinha preferida deles. A molecada percorreu às ruas próxima do largo encenando à sua malfadada arte e não logrou êxito em seus objetivos. A Lua estava mais resplandecente, do que em noites anteriores, e a meninada notava o pau sujo. Os moleques ficaram chateados, por não haver pegado a peça em ninguém e desistiram da ideia. Quando voltavam, decepcionados, para suas casas, apareceu um senhor humilde, de cabelos brancos, aparentando uns sessenta anos. Naquele momento eles resolveram pegar a peça naquele velho e, imediatamente, encenaram a trama da falsa briga.

Como havia um garoto pequeno e magro, dando uma surra em um forte e grande, o velho parou e ficou observando toda àquela encenação. Quando o moleque forte agarrou o dito pau e ameaçou o pequeno, todos os moleques protestaram contra a covardia do grandão, mandando o medroso jogar o pau fora e lutar como um homem. O moleque então pediu ao velho que segurasse o pau, alegando que, se ele jogasse fora, o outro poderia usar aquele porrete contra ele. O velho concordou! Quando o moleque lhe ofereceu o pau melado de merda, ele segurou o seu pulso com firmeza e, tomando-lhe o pau, enfiou dentro da boca do moleque, fazendo aquele mequetrefe comer o que não queria. Não satisfeito com isso, limpou o pau sujo na roupa do moleque e, raivoso com aquela falta de respeito, partiu para os outros, distribuindo porretadas a torto e direito, botando toda a molecada para correr.

Moral da história: "Não subestimem os velhos. Eles já foram crianças, também".

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