domingo, 14 de setembro de 2025

O MITOMANÍACO

                                             Carlos Eden Meira

Valmir (Mentirinha) era  tão mentiroso quanto o Pantaleão de Chico Aniysio. Já citei outro mentiroso em um dos meus textos. O famoso Dag, por exemplo, era um mitomaníaco "de carteirinha". Assim como o Alexandre de Graciliano Ramos. Fazíamos questão de pedir ao "Mentirinha" para contar seus casos mirabolantes. O engraçado é que ele sempre tinha uma versão nova do mesmo caso. Quando alguém questionava:

-Ué, Valmir! Essa história tá diferente hoje! Valmir aumentava:

-E eu já contei esse caso??

Valmir Mentirinha dizia que era repórter de um jornal de Salvador. Não me lembro mais qual era o jornal, mas ele nos mostrava uma carteira de jornalista profissional do sindicato em que era afiliado. Se era autêntico, nunca soubemos.

Numa dessas conversas recheadas de mentiras diversas, Valmir nos contou que durante a visita da Rainha Elisabeth II A Salvador, houve um atraso na coletiva que seria feita pelas rádios, pela TV Itapoã e por todos os grandes jornais da cidade. O atraso se devia ao fato de que Sua Majestade britânica, só começaria a dar entrevistas enquanto Valmir não chegasse!! É mole?

O cara dizia que era namorado da filha de um milionário, dono de uma grande rede de supermercados da Bahia. E que a garota era loucamente apaixonada por ele! Valmir era um amarelo baixinho magrinho, feinho que só vendo.

Numa época de Carnaval, eu, João Batista, Washington e Eliziário fomos fazer uma ornamentação na antiga ACJ, com supervisão de Enaldo Tourinho e coordenada por Anatólio Meira, conforme já citei também, em outro texto. Valmir conversando comigo e com João, disse que iria passar o carnaval com a tal garota milionária, no JTC tido como o tradicional clube da elite Jequieense. A garota teria vindo com ele, escondida dos pais. Inclusive, ele tinha comprado "vários tabletes de LSD" para curtir o carnaval numa boa, com a garota Quando ele soube que iríamos fazer a ornamentação da ACJ imediatamente ele esqueceu garota milionária, "tabletes de LSD" JTC, e, na manhã do dia em que íamos começar a ornamentação, Valmir me apareceu aqui em casa com vários pincéis nas mãos.

-Então? Quando começamos? - perguntou ele.

-Ora, Valmir!! Você não iria com sua namorada rica pular o carnaval no JTC? Questionei.

-Eu?? Que namorada rica é essa? Eu nunca disse nada disso!! -Você disse sim. Até falou que ela foi ao seu apartamento em Salvador, se entregou desesperadamente a você, se despiu e deitou-se na sua cama!! Você a esbofeteou dizendo: -Vista-se já. Quero-te como minha noiva! Não como uma reles amante!! -Você está sonhando acordado, cara. Nunca aconteceu nada disso! Tá doido, é??

Certa vez Valmir contou a história de uma briga em que ele teve de enfrentar uns dez capoeiristas no Largo do Pelourinho. Mas, ainda bem que ele estava armado com uma pistolinha "Derringer" daquelas de dois canos, conhecida como "dois tiros e uma carreira". Quando os caras se aproximaram, Valmir puxou o canivete e enfrentou os dez capoeiristas!! -Peraí, Valmir!! Não era uma pistola?? -Pistola? Eu falei pistola?? Era um canivete que eu puxei, ora essa.

-Então, era um "canivólver"! Disse alguém. As gargalhadas e gozações foram inevitáveis. Valmir ficou com a cara mexendo e "os zói rodando"!

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