Carlos Eden Meira
Valmir (Mentirinha) era tão mentiroso quanto o Pantaleão de Chico
Aniysio. Já citei outro mentiroso em um dos meus textos. O famoso Dag, por
exemplo, era um mitomaníaco "de carteirinha". Assim como o Alexandre
de Graciliano Ramos. Fazíamos questão de pedir ao "Mentirinha" para
contar seus casos mirabolantes. O engraçado é que ele sempre tinha uma versão
nova do mesmo caso. Quando alguém questionava:
-Ué, Valmir! Essa história tá diferente
hoje! Valmir aumentava:
-E eu já contei esse caso??
Valmir Mentirinha dizia que era repórter
de um jornal de Salvador. Não me lembro mais qual era o jornal, mas ele nos
mostrava uma carteira de jornalista profissional do sindicato em que era
afiliado. Se era autêntico, nunca soubemos.
Numa dessas conversas recheadas de
mentiras diversas, Valmir nos contou que durante a visita da Rainha Elisabeth
II A Salvador, houve um atraso na coletiva que seria feita pelas rádios, pela
TV Itapoã e por todos os grandes jornais da cidade. O atraso se devia ao fato
de que Sua Majestade britânica, só começaria a dar entrevistas enquanto Valmir
não chegasse!! É mole?
O cara dizia que era namorado da filha
de um milionário, dono de uma grande rede de supermercados da Bahia. E que a
garota era loucamente apaixonada por ele! Valmir era um amarelo baixinho
magrinho, feinho que só vendo.
Numa época de Carnaval, eu, João
Batista, Washington e Eliziário fomos fazer uma ornamentação na antiga ACJ, com
supervisão de Enaldo Tourinho e coordenada por Anatólio Meira, conforme já
citei também, em outro texto. Valmir conversando comigo e com João, disse que
iria passar o carnaval com a tal garota milionária, no JTC tido como o
tradicional clube da elite Jequieense. A garota teria vindo com ele, escondida
dos pais. Inclusive, ele tinha comprado "vários tabletes de LSD" para
curtir o carnaval numa boa, com a garota Quando ele soube que iríamos fazer a
ornamentação da ACJ imediatamente ele esqueceu garota milionária,
"tabletes de LSD" JTC, e, na manhã do dia em que íamos começar a
ornamentação, Valmir me apareceu aqui em casa com vários pincéis nas mãos.
-Então? Quando começamos? - perguntou
ele.
-Ora, Valmir!! Você não iria com sua
namorada rica pular o carnaval no JTC? Questionei.
-Eu?? Que namorada rica é essa? Eu
nunca disse nada disso!! -Você disse sim. Até falou que ela foi ao seu
apartamento em Salvador, se entregou desesperadamente a você, se despiu e
deitou-se na sua cama!! Você a esbofeteou dizendo: -Vista-se já. Quero-te como
minha noiva! Não como uma reles amante!! -Você está sonhando acordado, cara.
Nunca aconteceu nada disso! Tá doido, é??
Certa vez Valmir contou a história de
uma briga em que ele teve de enfrentar uns dez capoeiristas no Largo do
Pelourinho. Mas, ainda bem que ele estava armado com uma pistolinha
"Derringer" daquelas de dois canos, conhecida como "dois tiros e
uma carreira". Quando os caras se aproximaram, Valmir puxou o canivete e
enfrentou os dez capoeiristas!! -Peraí, Valmir!! Não era uma pistola?? -Pistola?
Eu falei pistola?? Era um canivete que eu puxei, ora essa.
-Então, era um "canivólver"! Disse alguém. As gargalhadas e gozações foram inevitáveis. Valmir ficou com a cara mexendo e "os zói rodando"!
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