quarta-feira, 24 de setembro de 2025

BENÉ SENA: DO BOSSA 6 AO TRIO ARQUIDÁ

                       José Américo Castro

Aos 78 anos o músico Benedito Freire Sena que nos meios artísticos é mais conhecido como Bené Sena, continua na ativa e cada vez mais refinado.

Sua performance no Trio Arquidá sempre motiva aplausos da plateia, admiração dos mais jovens e boas recordações ao saudosistas, sobretudo aqueles que nas décadas de 1960/70 curtiam o conjunto Bossa 6, uma das mais emblemáticas bandas de baile do interior baiano.

Naquele tempo imperava a Jovem Guarda e o repertório do grupo ia nessa pegada, incutindo nas rebeldias do rock in rool.

Agora a onda em que Bené surfa é outra, é mais leve, embora mais antiga. Suas baquetas fornecem a base rítmica dos clássicos do Chorinho, Maxixe e outros gêneros que antecederam a Bossa Nova, a qual também marca presença no repertório do experiente baterista e seus companheiros.

Bené nasceu em Nazaré das Farinhas, no Recôncavo, lugar riquíssimo em cultura musical.

Encantava-se com as retretas e disputas entre as duas filarmônicas da cidade, com os batuques dos terreiros de candomblé que mesmo à distância chegavam aos seus ouvidos e se fundiam aos cantos dos corais da Igreja Católica.

Essa profusão lhe substanciou, forjou a condição de ritmista, e revelou o grande baterista que é.

Chegou em Jequié quando ainda não tinha dois anos de idade. Veio num trem de ferro ouvindo o thuco-thuco da locomotiva Maria Fumaça.

Seu pai era o Chefe da Estação de Jequié. Pelos mesmos trilhos Bené voltou muitas vezes á Nazaré ao longo de sua infância e adolescência.

BOSSA 6

A Jovem Guarda mesclava música, comportamento e moda. Nesse embalo a turma do Bossa 6 fazia sucesso. Cabelos longos e outros estilos da época, a turma do Bossa 6 era a bola da vez em Jequié e região.

As baquetas de Bené batiam firmes na batera, repicavam, destacavam naqueles embalos e concorridos bailes. Jaime Luna (teclados), Nilton Muniz (baixo), Judimar Boneco (guitarra solo) e Marinho Alves (guitarra base) eram os outros membros da banda em sua formação original.

O sucesso era tanto que chegou ao ponto de num clube social em uma cidade do sul da Bahia a banda dividir a animação de um baile junino com nada menos que o grande Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

O Bossa 6 também se apresentou no palco do Teatro Castro Alves, em Salvador, na finalíssima de um Festival de MPB, interpretando canções de Jaime Luna.

A forte concorrência lhe rendeu sonora vaia por parte do público que apoiava os representantes da capital. O vencedor do festival foi Moraes Moreira.

Passados os tempos áureos do Bossa 6, da Jovem Guarda, Bossa Nova, Tropicália e outros movimentos, Bené Sena continua o baterista de sempre. Nunca deixa o instrumento, mesmo em momentos de novos desafios.

Adiante lhe dão missão administrativa. Foi Diretor de Cultura do Município em 2007/2008 e Secretário de Cultura no biênio 2009/2010.

Apresenta boas propostas, pretende resgates e evoluções, mas se depara com incompreensões e até intolerâncias religiosas.

XANGÔ MENINO

Comprou briga ao denominar de Xangô Menino a festa de São João em Jequié, no ano de 2010, ocasião em que Gilberto Gil, autor da musica homônima em parceria com Caetano Veloso, fez um show na Praça da Bandeira e foi homenageado pelo município.

A polêmica ferveu antes, durante e depois, mas Bené não cedeu. Manteve firme a sua convicção cultural.

Aderiu ao radialismo cultural e junto com Jaime Luna apresentou por mais de uma década , em emissora comunitária de Jequié, o programa “Armarinho de Miudezas”.

O nome era em homenagem a uma obra literária do jequiéense , no entanto o conteúdo sonoro presenteava o ouvinte com o melhor da musica clássica, em suas diversas vertentes.

Aquelas manhãs de domingo pela 104.9 ganharam contação didática, fizeram a cabeça de quem buscava o melhor.

Ainda nos trilhos da musicalidade, Bené forma o Trio Arquidá com ele na bateria, seu filho Murilo Sena no piano e Luiz Carlos Silva no contrabaixo. Aí é outra historia, é refino, oferta de perolas, suave presente aos nossos ouvidos.

 

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