segunda-feira, 25 de agosto de 2025

VIGANÇA, OU JUSTIÇA?

                                            Carlos Eden Meira

Jaracabão do Sul é uma pacata cidadezinha do interior. Como acontece sempre nessas pequenas cidades, há sempre um "manda-chuva" que controla a vida das pessoas através da política, usando seu prestígio para impor suas maracutaias nunca denunciadas, por medo ou interesses das pessoas que dele dependem.

Mas, ocorreu ali, um fato que transformou a vida dos habitantes da cidade, demonstrando que a justiça tarda, mas não falha. Seja justiça divina, ou justiça dos homens.

Arolando Corbellio pensava que seu poder em Jaracabão do Sul era inatingível, e, com apoio político de grandes chefões da capital, para os quais os votos dos "encabestrados" da cidade e seus distritos estavam garantidos.

Sendo assim, Corbellio fazia e acontecia sem ser incomodado. Proprietário de fazendas enormes e de uma rede de lojas, Corbellio usava seu poder para intimidar funcionários, mormente as funcionárias abusando sexualmente de muitas delas, que, por medo e necessidade, se submetiam aos asquerosos caprichos do chefe. "Se abrir o bico, já sabe. Demissão sumária ou coisa pior, tá sabendo"? Ameaçava.

Entretanto, Corbellio acabou engravidando uma dessas moças. Quis obrigá-la a abortar a criança, mas ela, apesar de não querer ter um filho com aquele canalha estuprador , também não tinha coragem de fazer um aborto. Não entendia como essa prática era feita dentro da lei. Em caso de estupro, ela tinha direito de tirar a criança? Ao mesmo tempo, achava que a vida daquele pequeno ser dentro dela não podia ser destruída. A criança não tinha culpa das atitudes daquele maldito pai.

Corbellio, revoltado pela recusa de Safira Darnela Praxes (este era o nome da moça) acabou acusando-a de ladra, afirmando que a mesma roubava no caixa da loja onde trabalhava. Para isso contou com o testemunho falso de colegas de Safira confirmando o roubo e uma tentativa de assassinato contra ele, por denunciá-la à policia.

Grávida, pobre, afrodescendente, Safira foi demitida sumariamente do emprego. Procurou apoio da família que acreditava na história dos crimes, pois não era possível desmentir um homem poderoso como Corbellio.

Mas, Safira acabou praticando o aborto numa clínica clandestina com ajuda da família. No dia do julgamento , ela foi condenada a oito anos de prisão por roubo e tentativa de assassinato. Durante seu tempo na prisão, Safira viveu um inferno em vida, fez muitas inimigas, mas, também ganhou a simpatia de algumas colegas de infortúnio. Uma delas tinha sido vítima do Corbellio, estuprada com requintes de violência. Ela sabia de alguns detalhes da vida pessoal dele, como beber licores, por exemplo. No entanto, ele era alérgico a licor de amendoim. Teve graves crises de alergia ao amendoim. Isso bastou para que Safira tivesse uma ideia.

Tendo cumprido seu tempo de prisão, Safira chegou a uma localidade próxima à penitenciária. Roubou roupas num varal e assaltou um transeunte num beco, levando a carteira recheada de notas graúdas.

Safira procurou um ponto de ônibus e partiu para Jaracabão do Sul.

A localidade onde ela estava era a poucos quilômetros de Jaracabão do Sul. Dessa forma, o ônibus, mesmo não sendo interurbano, tinha permissão para essa curta viagem. Chegando à cidade, Safira Darnela comprou roupas, cortou e pintou os cabelos. Depois de oito anos presa, ela não foi reconhecida por ninguém. Estava diferente.

Era época de eleições, e Corbellio obviamente, era candidato a deputado estadual. Naquela noite, deu uma grande festa pelo lançamento de sua candidatura num clube da cidade. A entrada era franca, o que deu a oportunidade que Safira Darnela esperava. Usando uma roupa provocante, misturou-se à multidão até ver Corbellio já bêbado, rodeado de puxa-sacos. Aproximou-se dele e disse de maneira sensual: "Aqui tem um licorzinho?" Corbellio vendo aquela oportunidade de terminar a noite bem acompanhado respondeu: "Vem comigo". Assim, segurou Safira pela cintura e levou-a para um local reservado, avisou ao segurança que não deixasse ninguém entrar, e trancou a porta. "Meu bem, aqui tem licores diversos. Qual o de sua preferência"? Safira olhou para uma pequena estante repleta de garrafas. Lá estava, quase escondida, uma de licor de amendoim!! "Adoro esse cremoso de cacau", disse ela. Disfarçadamente, colocou no copo uma boa dose do de amendoim, misturou com o de cacau e ofereceu ao Corbellio que, puxando a moça para si, bebeu de uma vez, todo o conteúdo do copo. Não demorou muito Corbellio começou a passar mal. Tossia, engasgava suando, perdendo o fôlego. Era a alergia!

" Sentindo-se mal, queridinho? Tá lembrado de mim? Você me mandou para aquele inferno. Agora, eu estou lhe mandando para o inferno de verdade! Talvez você encontre lá uma capetinha pra estuprar! Tchau, amorzinho"!

Ninguém até hoje sabe quem colocou naquela estante, aquele bendito licor de amendoim. Afinal, o Corbellio tinha muitos inimigos...

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