Carlos Eden Meira
Jaracabão do Sul é uma
pacata cidadezinha do interior. Como acontece sempre nessas pequenas cidades,
há sempre um "manda-chuva" que controla a vida das pessoas através da
política, usando seu prestígio para impor suas maracutaias nunca denunciadas,
por medo ou interesses das pessoas que dele dependem.
Mas, ocorreu ali, um fato
que transformou a vida dos habitantes da cidade, demonstrando que a justiça
tarda, mas não falha. Seja justiça divina, ou justiça dos homens.
Arolando Corbellio pensava
que seu poder em Jaracabão do Sul era inatingível, e, com apoio político de
grandes chefões da capital, para os quais os votos dos
"encabestrados" da cidade e seus distritos estavam garantidos.
Sendo assim, Corbellio fazia
e acontecia sem ser incomodado. Proprietário de fazendas enormes e de uma rede
de lojas, Corbellio usava seu poder para intimidar funcionários, mormente as
funcionárias abusando sexualmente de muitas delas, que, por medo e necessidade,
se submetiam aos asquerosos caprichos do chefe. "Se abrir o bico, já sabe.
Demissão sumária ou coisa pior, tá sabendo"? Ameaçava.
Entretanto,
Corbellio acabou engravidando uma dessas moças. Quis obrigá-la a abortar a
criança, mas ela, apesar de não querer ter um filho com aquele canalha
estuprador , também não tinha coragem de fazer um aborto. Não entendia como
essa prática era feita dentro da lei. Em caso de estupro, ela tinha direito de
tirar a criança? Ao mesmo tempo, achava que a vida daquele pequeno ser dentro
dela não podia ser destruída. A criança não tinha culpa das
atitudes daquele maldito pai.
Corbellio,
revoltado pela recusa de Safira Darnela Praxes (este era o nome da moça) acabou
acusando-a de ladra, afirmando que a mesma roubava no caixa da loja onde
trabalhava. Para isso contou com o testemunho falso de colegas de Safira
confirmando o roubo e uma tentativa de assassinato contra ele, por denunciá-la
à policia.
Grávida,
pobre, afrodescendente, Safira foi demitida sumariamente do emprego. Procurou
apoio da família que acreditava na história dos crimes, pois não era possível
desmentir um homem poderoso como Corbellio.
Mas, Safira
acabou praticando o aborto numa clínica clandestina com ajuda da família. No
dia do julgamento , ela foi condenada a oito anos de prisão por roubo e
tentativa de assassinato. Durante seu tempo na prisão, Safira viveu um inferno
em vida, fez muitas inimigas, mas, também ganhou a simpatia de algumas colegas
de infortúnio. Uma delas tinha sido vítima do Corbellio, estuprada com
requintes de violência. Ela sabia de alguns detalhes da vida
pessoal dele, como beber licores, por exemplo. No entanto, ele era alérgico a
licor de amendoim. Teve graves crises de alergia ao amendoim. Isso bastou para
que Safira tivesse uma ideia.
Tendo
cumprido seu tempo de prisão, Safira chegou a uma localidade próxima à
penitenciária. Roubou roupas num varal e assaltou um transeunte num beco,
levando a carteira recheada de notas graúdas.
Safira
procurou um ponto de ônibus e partiu para Jaracabão do Sul.
A localidade onde ela estava
era a poucos quilômetros de Jaracabão do Sul. Dessa forma, o ônibus, mesmo não
sendo interurbano, tinha permissão para essa curta viagem. Chegando à cidade,
Safira Darnela comprou roupas, cortou e pintou os cabelos. Depois de oito anos
presa, ela não foi reconhecida por ninguém. Estava diferente.
Era época de eleições, e Corbellio
obviamente, era candidato a deputado estadual. Naquela noite, deu uma grande
festa pelo lançamento de sua candidatura num clube da cidade. A entrada era
franca, o que deu a oportunidade que Safira Darnela esperava. Usando uma roupa
provocante, misturou-se à multidão até ver Corbellio já bêbado, rodeado de
puxa-sacos. Aproximou-se dele e disse de maneira sensual: "Aqui tem um
licorzinho?" Corbellio vendo aquela oportunidade de terminar a noite bem
acompanhado respondeu: "Vem comigo". Assim, segurou Safira pela
cintura e levou-a para um local reservado, avisou ao segurança que não deixasse
ninguém entrar, e trancou a porta. "Meu bem, aqui tem licores diversos.
Qual o de sua preferência"? Safira olhou para uma pequena estante repleta
de garrafas. Lá estava, quase escondida, uma de licor de amendoim!! "Adoro
esse cremoso de cacau", disse ela. Disfarçadamente, colocou no copo uma
boa dose do de amendoim, misturou com o de cacau e ofereceu ao Corbellio que,
puxando a moça para si, bebeu de uma vez, todo o conteúdo do copo. Não demorou
muito Corbellio começou a passar mal. Tossia, engasgava suando, perdendo o
fôlego. Era a alergia!
" Sentindo-se mal,
queridinho? Tá lembrado de mim? Você me mandou para aquele inferno. Agora, eu
estou lhe mandando para o inferno de verdade! Talvez você encontre lá uma
capetinha pra estuprar! Tchau, amorzinho"!
Ninguém até hoje sabe quem colocou naquela estante, aquele bendito licor de amendoim. Afinal, o Corbellio tinha muitos inimigos...
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