domingo, 17 de agosto de 2025

O roubo das goiabas.

                                                 J. B. Pessoa.

Nos velhos e saudosos anos dourados, quando não existia emissora de televisão na Bahia, e um simples receptor radiofônico era privilégio de poucos, o lazer da população, dos bairros periféricos de Jequié, era prosear com seus vizinhos, nas noites enluaradas, enquanto suas crianças brincavam com seus inocentes folguedos infantis.

Longe da vigilância de seus pais, a molecada da cidade aproveitava o luar, para fazer às suas travessuras.

Certa noite de verão, dessa memorável época, dois moleques resolveram roubar as famosas goiabas de um velho ranzinza, que as cultivavam em seu quintal, o qual terminava nos fundos de outro quintal, de um famoso médico, que morava na Rua Bela Vista. Esse médico era pai de duas belíssimas gêmeas, entrando na adolescência, as quais vestiam, às vezes, roupas iguais.

Chegando à rua, os moleques verificaram que o velho se encontrava em seu domicílio e estava em prontidão, com uma espingarda na mão. Ele estava bastante zangado, por roubos sofridos, anteriormente. Os moleques não desistiram de suas intenções. Por fim, resolveram entrar no quintal do ancião, passando pela casa do médico, a qual tinha becos laterais, que dava em seu quintal. Ao penetrar na área do médico, eles notaram no varal do quintal dois vestidos, quase enxutos, e duas boinas que pertenciam às gêmeas. Como estavam só vestidos de calções, os moleques vestiram às roupas das meninas, que eram claras, pondo as boinas na cabeça e pularam o muro que dividia os dois quintais. Dito e feito, os dois malandros fizeram uma devassa, enchendo os seus sacos, com as belas e deliciosas goiabas daquela área. Atento à sua virgília, o velho ranzinza escutou barulhos do seu quintal e correu para ver, o que estava acontecendo. A sua surpresa foi grande, ao ver suas goiabas sendo afanadas por duas gurias, cujos vestidos reluziam na claridade da Lua cheia, sendo reconhecidos por ele. Nesse momento, ele gritou irado, proferindo palavrões, ameaçando processar o seu vizinho por danos em seu patrimônio. Os moleques caíram fora na hora, levando os seus sacos cheios das preciosas frutas, deixando as boinas e os vestidos das meninas, no mesmo lugar onde encontraram.

Naquele momento, o médico e sua esposa estavam aconchegados no sossego do seu lar, concentrados em um rádio, ouvindo um famoso programa de uma emissora carioca. De repente, escutaram batidas violentas em sua porta. Abrindo-a, deram de cara com um velho maluco vociferarando injúrias, acusando as suas filhas de ladras. A jovem senhora não pestanejou: sentindo-se ofendida, presenteou aquele velho mentiroso com uma sonora bofetada. Em seguida, o médico, tranquilamente, chamou o velho à razão, e o levou até o quarto das meninas, que dormiam angelicamente. O pobre velhinho ficou envergonhado com o seu engano e pediu mil desculpas ao casal, justificando o seu ato, sem entender o que tinha acontecido. Foi para casa chateado com tudo aquilo, e com o rosto ardendo pela "bolacha" recebida.

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