sábado, 30 de agosto de 2025

LIMOEIRO E "ESCONDERIJO"

                                            Carlos Eden Meira


Era um limoeiro frondoso, no quintal da casa. Ali era o meu "esconderijo", onde eu passava horas a fio, a ler HQs que eu guardava num pequeno caixote, numa época em 1959, quando fugi da escola. Minha mãe, sempre ocupada com os afazeres da casa, quase não tinha tempo livre para me procurar. Além disso, ela sabia que eu não estava na rua com a molecada e mais ou menos, entendia que eu tinha meus motivos para fugir da escola. Meu pai, sempre às voltas com a Associação Jequieense de Imprensa, da qual era fundador, tendo sido, inclusive, um dos primeiros presidentes da entidade, não admitia essa minha fuga da escola e me obrigava a ficar no meu quarto estudando. Para isso, comprou livros de Monteiro Lobato, como A ARITMÉTICA DA EMÍLIA, e outros livros semelhantes do mesmo autor, com temas didáticos para crianças.

Mas, eu fugia para meu mundo de histórias em quadrinhos, que me afastava da "assombrosa" realidade da escola, onde a matemática era o "monstro" que me perseguia. Era o dragão botando fogo pela boca, na capa do livro HISTÓRIAS DE TIA NASTÁCIA, também de Monteiro Lobato.

O meu limoeiro formava uma verdadeira cabana sombreada e fresca. Alí, sentado numa pedra achatada em cima, sentindo o gostoso cheiro dos limões maduros e graúdos, eu viajava para mundos distantes dos contos de fadas, ou dos planetas de outras galáxias, criados pelos desenhistas das revistinhas.

Meu pai acabou decidindo que aquilo não estava certo. - "Ter medo da matemática"? Isso é desculpa pra não voltar para escola"? - dizia ele - Eu teria que voltar à escola de qualquer jeito. Para isso, ele resolveu me matricular numa escolinha particular de uma tia minha, perto de casa, onde acabei concluindo o resto do curso. Hoje, eu agradeço a atitude de meu pai, mas nunca deixei de ler minhas HQs. O limoeiro? Esse, se foi há muitos anos...

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