J. B. Pessoa.
No final dos anos de 1940, o empresário Benjamim
Alves de Souza adquiriu da família Letto, o famoso Cine Brasil-Itália, o qual
era o mais importante cinema da região, por ter sido o primeiro com projeções
de um sistema sonoro, conhecido como vitaphone, vulgarmente chamado de
"cinema falando".
Rebatizado como Cine Bomfim, o cinema continuou com
suas projeções sonoras, em películas se 18 milímetros, tendo o privilégio de
ser o único da cidade.
Após a inauguração do majestoso Cine Teatro Jequié,
em 1948, com dois moderníssimos projetores de 36 milímetros e suas 1.200
poltronas, o Cine Bonfim perdeu o seu antigo status. Dona Palmira, esposa de
Benjamim, não se deu por vencida e criou o slogan "O pequeno cinema dos
grandes filmes"! Daí então, a rivalidade começa, com o Cine Bonfim
tentando atrair mais espectadores para o seu modesto cineminha.
Aos domingos, os dois cinemas apresentavam, sempre,
em suas inesquecíveis matinês, os famosos filmes de mocinhos e bandidos,
acompanhados dos maravilhosos seriados. Enquanto o Cine Jequié se concentrava
nas produções Hollywoodianas e europeias, o Cine Bonfim, usando a estratégia de
atrair crianças e adolescentes de ambos os sexos; projetava em sua tela, como
atração principal, um filme romântico, de produção hispânica, acompanhado de um
seriado, com a sua famosa "volta na próxima". A artimanha deu certo,
pois começaram os namoros no "escurinho do cinema", trazendo mais
espectadores para o cinema. Contudo, como o seu auditório era pequeno, a
superlotação era inevitável e às consequências tornaram-se folclóricas.
Às vendas despropositadas de entradas, que iam além
da capacidade do pequeno cinema, ocorreram incidentes hilariantes. Em uma
matinê de domingo, quando o Cine Bomfim apresentava o famoso filme "Sansão
e Dalila" de Cecil B. DeMille; a sala estava tão cheia de crianças,
sentadas no assoalho e nas janelas laterais; que um menino, sem poder sair,
defecou ali mesmo, no lugar de onde estava diante das gargalhadas e vaias da
plateia acriançada!
Outro acontecimento, que se tornou folclórico,
aconteceu em uma Semana Santa. Todos os anos o cinema apresentava um filme
antigo, da época do "Cinema Mudo", sobre a vida de Cristo. O operador
se atrapalhou, emendando na película uma pequena parte de outra. O resultado
foi burlesco. Quando Jesus estava sendo surrado, apareceu o cowboy Buck Jones
distribuindo tiros a valer! O comentário jocoso a seguir foi que, o
"mocinho" atirou nos soldados bandidos para salvar Jesus!
A partir da criação da tela larga, denominada de Cinemascope,
foi o primeiro a aderir à novidade em Jequié.
Diferentemente, dos de 16 mm, era necessário dois
projetores 36 mm para exibições das novas películas. O dono do cinema só
comprou um, ocasionando os incômodos intervalos. A molecada da cidade não
perdoou a falha. Gritos, assobios, vaias e xingamentos eram constantes. Porém,
mesmo com todas às suas desvantagens, era o cinema o preferido da meninada
jequieense.
O Cine Bomfim foi o paraíso dos filmes hispânicos. Em sua tela foram exibidas
produções espanholas, mexicanas, argentinas, chilenas, e até paraguaias. Em
1965, devido às situações financeiras do seu proprietário, o "Pequeno
Cinema dos Grandes Filmes" fechou as suas portas, deixando saudades
inesquecíveis às gerações do passado.
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