sábado, 17 de maio de 2025

O folclórico Cine Bonfim.

                                                                                            J. B. Pessoa.

No final dos anos de 1940, o empresário Benjamim Alves de Souza adquiriu da família Letto, o famoso Cine Brasil-Itália, o qual era o mais importante cinema da região, por ter sido o primeiro com projeções de um sistema sonoro, conhecido como vitaphone, vulgarmente chamado de "cinema falando".

Rebatizado como Cine Bomfim, o cinema continuou com suas projeções sonoras, em películas se 18 milímetros, tendo o privilégio de ser o único da cidade.

Após a inauguração do majestoso Cine Teatro Jequié, em 1948, com dois moderníssimos projetores de 36 milímetros e suas 1.200 poltronas, o Cine Bonfim perdeu o seu antigo status. Dona Palmira, esposa de Benjamim, não se deu por vencida e criou o slogan "O pequeno cinema dos grandes filmes"! Daí então, a rivalidade começa, com o Cine Bonfim tentando atrair mais espectadores para o seu modesto cineminha.

Aos domingos, os dois cinemas apresentavam, sempre, em suas inesquecíveis matinês, os famosos filmes de mocinhos e bandidos, acompanhados dos maravilhosos seriados. Enquanto o Cine Jequié se concentrava nas produções Hollywoodianas e europeias, o Cine Bonfim, usando a estratégia de atrair crianças e adolescentes de ambos os sexos; projetava em sua tela, como atração principal, um filme romântico, de produção hispânica, acompanhado de um seriado, com a sua famosa "volta na próxima". A artimanha deu certo, pois começaram os namoros no "escurinho do cinema", trazendo mais espectadores para o cinema. Contudo, como o seu auditório era pequeno, a superlotação era inevitável e às consequências tornaram-se folclóricas.

Às vendas despropositadas de entradas, que iam além da capacidade do pequeno cinema, ocorreram incidentes hilariantes. Em uma matinê de domingo, quando o Cine Bomfim apresentava o famoso filme "Sansão e Dalila" de Cecil B. DeMille; a sala estava tão cheia de crianças, sentadas no assoalho e nas janelas laterais; que um menino, sem poder sair, defecou ali mesmo, no lugar de onde estava diante das gargalhadas e vaias da plateia acriançada!

Outro acontecimento, que se tornou folclórico, aconteceu em uma Semana Santa. Todos os anos o cinema apresentava um filme antigo, da época do "Cinema Mudo", sobre a vida de Cristo. O operador se atrapalhou, emendando na película uma pequena parte de outra. O resultado foi burlesco. Quando Jesus estava sendo surrado, apareceu o cowboy Buck Jones distribuindo tiros a valer! O comentário jocoso a seguir foi que, o "mocinho" atirou nos soldados bandidos para salvar Jesus!

A partir da criação da tela larga, denominada de Cinemascope, foi o primeiro a aderir à novidade em Jequié.

Diferentemente, dos de 16 mm, era necessário dois projetores 36 mm para exibições das novas películas. O dono do cinema só comprou um, ocasionando os incômodos intervalos. A molecada da cidade não perdoou a falha. Gritos, assobios, vaias e xingamentos eram constantes. Porém, mesmo com todas às suas desvantagens, era o cinema o preferido da meninada jequieense.

O Cine Bomfim foi o paraíso dos filmes hispânicos. Em sua tela foram exibidas produções espanholas, mexicanas, argentinas, chilenas, e até paraguaias. Em 1965, devido às situações financeiras do seu proprietário, o "Pequeno Cinema dos Grandes Filmes" fechou as suas portas, deixando saudades inesquecíveis às gerações do passado.

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