Carlos Éden Meira
- Você toca mesmo? – perguntou a professora. – Que ótimo, vai ser lindo! Em vez do “toca – discos”, um dos alunos é quem vai animar a quadrilha deste ano – dizia ela toda empolgada, sem perceber meu olhar de ódio que fulminava meu colega de sala Cláudio, que sorria com uma expressão de triunfo.
- E–Eu toco muito mal e só umas besteirinhas professora, só umas musiquinhas fáceis, uns forrozinhos bobos e...
- Ah! Não têm importância, qualquer forrozinho já é ótimo. – respondeu ela, eufórica e cheia de planos. – Vai ficar lindo você todo vestido de caipira, chapéu de palha, calça remendada, lenço no pescoço, puxando a quadrilha! Só nossa sala vai ter essa originalidade, vamos surpreender as outras salas!
- M-mas.... – gaguejava eu, com vontade de estrangular o Cláudio, enquanto me vinha à memória a dificuldade e o sacrifício que foi para mim, vencer a timidez e conseguir convidar uma das garotas mais bonitas da sala, a morena Elizete, figura onipresente nos sonhos românticos dos meninos da nossa sala e adjacências. O Cláudio, moleque ruivo de cara sardenta, partilhava comigo a mesma carteira na sala. Naquela época os alunos ocupavam as carteiras de dois em dois, e, eu tive a “sorte” de partilhar a minha carteira com o Cláudio. O pior é que o Cláudio partilhava comigo também, o mesmo objetivo de ter a morenosa e perfumada faceirice de Elizete, como par na quadrilha de São João de nossa sala. Alguns dias antes, não resisti à tentação de contar ao Claudio que a Elizete aceitara meu convite.
- Não acredito! Vou perguntar a ela – disse o Cláudio, completamente agitado e começando a apresentar uns tons esverdeados de inveja, estampados na cara salpicada de sardas, quando eu prazerosamente lancei-lhe no rosto:
- Convidei a Elizete e ela aceitou!
Voltei pra casa naquele dia, radiante de felicidade infantil, pisando em nuvens, o coração dando pulos de euforia junina, e a imagem adorável da Elizete aceitando meu convite, povoando todos os meus pensamentos.
Ah, A Sanfona! Eu jamais deveria ter mostrado ao Cláudio e muito menos tocado pra ele o gonzagueiro instrumento, como fiz certa vez! Dias depois, já em plena sala de aula, estranhei a cara safada do Cláudio que me olhava descaradamente risonho, coisa que me deixava irritado, principalmente pelo motivo de ele não me dizer a causa das ridículas risadinhas. A turma também, me olhava como se eu fosse um macaco de zoológico ou coisa parecida, o que me deixava cada vez mais intrigado. Foi aí que aquilo aconteceu: a professora me chamou com uma expressão radiante de entusiasmo e falou:
- O Cláudio me disse que você toca sanfona, e quer tocar na nossa quadrilha. Ele inclusive, se ofereceu para ocupar seu lugar como par de Elizete na quadrilha não é ótimo?
É-É, ótimo!... - respondi, antes de pular no pescoço do Cláudio tentando esganá-lo, sendo contido pela professora e os colegas.
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