quarta-feira, 12 de outubro de 2022

"BOBS" VOADORES.

                                                                    Carlos Eden Meira

O freguês estava sentado sozinho, tomando sua cervejinha sossegado. Nossa mesa repleta de garrafas e copos, ocupada por uma turma de amigos, ficava a uns dois metros mais ou menos, da mesa dele na sala do “Bar de Tõe”, que era o “point” da galera na época.

Conversávamos falando alto, dando risadas das piadas que alguém contava, e cantávamos ao som de um violão sempre presente nas nossas cervejadas.

Tudo corria tranquilo naquele alegre ambiente, quando surgiu uma mulher usando “bobs” nos cabelos, cobertos por um lenço estampado. Passou por nossa mesa, caminhando em direção à do freguês solitário, puxou uma cadeira e pediu um copo ao garçom, pegou a garrafa sobre a mesa e encheu de cerveja. O homem à sua frente permaneceu calado, observando-a sem esboçar nenhum gesto. A mulher passou então, a gritar um festival de desaforos, batia na mesa fazendo tremer a garrafa e derramar o líquido do copo. E o homem ali, calado estava, calado continuou. De repente, a mulher num gesto inesperado levantou-se e atirou toda a cerveja do seu copo, na cara do cidadão.

Aí, ocorreu a cena que apesar da violência, não deixou de ser hilariante. O homem num movimento brusco levantou-se e arrastou a mulher para a beirada de uma das janelas do bar, passando a esbofeteá-la, e a cada tapa, um “bob” voava dos cabelos saindo pela janela. O agressor só parou, quando todos os “bobs” estavam espalhados na calçada do lado de fora da janela.

Tentamos impedir o ato violento, mas o homem estava possesso. Não havia quem conseguisse segurá-lo. Um ex-delegado de polícia nosso conhecido ia passando do outro lado da Avenida Rio Branco, em direção à Rua Itália, o que nos levou a chamá-lo para intervir. Ele então respondeu: -Eu hein? Já não sou mais delegado. Fui substituído já há um bom tempo. Telefonem para a polícia! Chamamos então o dono do bar e pedimos pra fazer uma ligação para a polícia. Ele ligou, porém disseram que a viatura estava em outra missão, mas que logo chegaria. A mulher, depois dos safanões ficou com um “penteado” cujas mechas dos cabelos desenrolados dos “bobs” apresentavam um visual que lembrava a Medusa, figura lendária da mitologia grega. Cada mecha era uma ponta arrebitada para cima.

O homem foi-se virado na zorra deixando a mulher sozinha no bar ainda esbravejando, enquanto apanhava o lenço, saiu para pegar os “bobs” na calçada e também sumiu de vista. Cuidamos de voltar à nossa mesa e pedimos mais cerveja. Fazer o quê??

O rapaz do bar ligou novamente para a polícia, desta vez cancelando a chamada.

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