Carlos Eden Meira
O freguês estava sentado sozinho, tomando sua cervejinha sossegado. Nossa mesa repleta de garrafas e copos, ocupada por uma turma de amigos, ficava a uns dois metros mais ou menos, da mesa dele na sala do “Bar de Tõe”, que era o “point” da galera na época.
Conversávamos falando alto, dando risadas das piadas que alguém contava, e cantávamos ao som de um violão sempre presente nas nossas cervejadas.
Tudo corria tranquilo naquele
alegre ambiente, quando surgiu uma mulher usando “bobs” nos cabelos, cobertos
por um lenço estampado. Passou por nossa mesa, caminhando em direção à do
freguês solitário, puxou uma cadeira e pediu um copo ao garçom, pegou a garrafa
sobre a mesa e encheu de cerveja. O homem à sua frente permaneceu calado,
observando-a sem esboçar nenhum gesto. A mulher passou então, a gritar um
festival de desaforos, batia na mesa fazendo tremer a garrafa e derramar o
líquido do copo. E o homem ali, calado estava, calado continuou. De repente, a
mulher num gesto inesperado levantou-se e atirou toda a cerveja do seu copo, na
cara do cidadão.
Aí, ocorreu a cena que apesar da
violência, não deixou de ser hilariante. O homem num movimento brusco levantou-se
e arrastou a mulher para a beirada de uma das janelas do bar, passando a
esbofeteá-la, e a cada tapa, um “bob” voava dos cabelos saindo pela janela. O
agressor só parou, quando todos os “bobs” estavam espalhados na calçada do lado
de fora da janela.
Tentamos impedir o ato violento,
mas o homem estava possesso. Não havia quem conseguisse segurá-lo. Um
ex-delegado de polícia nosso conhecido ia passando do outro lado da Avenida
Rio Branco, em direção à Rua Itália, o que nos levou a chamá-lo para intervir. Ele
então respondeu: -Eu hein? Já não sou mais delegado. Fui substituído já há um
bom tempo. Telefonem para a polícia! Chamamos então o dono do bar e pedimos pra
fazer uma ligação para a polícia. Ele ligou, porém disseram que a viatura
estava em outra missão, mas que logo chegaria. A mulher, depois dos safanões
ficou com um “penteado” cujas mechas dos cabelos desenrolados dos “bobs”
apresentavam um visual que lembrava a Medusa, figura lendária da mitologia
grega. Cada mecha era uma ponta arrebitada para cima.
O homem foi-se virado na zorra
deixando a mulher sozinha no bar ainda esbravejando, enquanto apanhava o lenço,
saiu para pegar os “bobs” na calçada e também sumiu de vista. Cuidamos de
voltar à nossa mesa e pedimos mais cerveja. Fazer o quê??
O rapaz do bar ligou novamente para a polícia, desta vez cancelando a chamada.
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