sábado, 17 de setembro de 2022

A HORA DO “VAMPIRO”.

                                                  Por Carlos Eden Meira

Até hoje, não sei qual o nome de batismo da “figura”. Só sei que era um maluco conhecido na cidade, e ele próprio nos contava algumas peripécias de sua juventude, quando ficávamos reunidos na Praça Ruy Barbosa à noite, junto às cadeiras dos engraxates a contar piadas, a fazer resenhas com a última mancada de alguém da turma, a comentar filmes e novos sucessos musicais, ele aparecia por ali e se envolvia na conversa. Alguém logo se lembrava de pedir a ele para que contasse uma de suas maluquices. Lembro-me de uma vez em que contou que quando ele era mais jovem, era fã do cowboy “Durango Kid”, personagem cinematográfico e dos quadrinhos dos anos 40 e 50, o que o levou ao cúmulo de providenciar uma indumentária semelhante ao do seu ídolo, ou seja: camisa preta de manga comprida e calças também pretas, um lenço preto cobrindo o nariz e a boca, um chapelão de cowboy também preto e botas, além de uma cartucheira com dois revólveres de brinquedo. Não se contentando somente com a vestimenta, quis também imitar a performance de Durango Kid nas telas, quando o personagem ao perseguir bandidos, subia em telhados, e dali saltava sobre o facínora que passava embaixo ou sobre seu próprio cavalo, para continuar a perseguição. Para tanto, o nosso “personagem” dirigiu-se a um cenário que ele achou apropriado para sua atuação, o qual era um brega de última categoria da cidade, conhecido como “Os Dez Quartos”.

Ali chegando, todo caracterizado de Durango Kid, tratou de subir no primeiro telhado que encontrou, fingindo estar perseguindo algum marginal. Foi aí que veio o desastre: pisando numa parte do telhado onde o madeiramento era antigo e fraco, ele sentiu o teto ceder sob seus pés, e, quando deu conta de si, tinha caído em cima de uma cama onde um casal se “divertia”. Tomados de espanto, os “pombinhos” milagrosamente ilesos, deram uma sova no “Durango” que saiu dali em carreira desesperada, “levando a porta dos fundos na caixa dos peitos”, conforme seu relato. Quando no começo dos anos 60 foi exibido no Cine Bonfim o filme “O Vampiro da Noite” (Horror of Dracula), com Christopher Lee, houve na cidade uma espécie de paranóia entre os garotos e garotas ou mesmo entre alguns adultos crédulos, em relação a vampiros. Ele então, não perdeu tempo e passou a dar uma de vampiro nas esquinas escuras da cidade, soltando berros e grunhidos apavorantes, botando todo mundo pra correr. Fui testemunha de uma dessas “atuações”, quando precisando tirar uma cópia da certidão de nascimento, o encontrei muito irritado na porta do cartório apinhado de gente, numa fila desorganizada. “Tô aqui desde oito horas da manhã pra tirar um documento, e taí essa bagunça”! Dizia ele, colérico. Um gaiato que estava por ali teve então uma idéia maluca que acabou nos sendo útil.

“Você se esqueceu de que é vampiro”? Perguntou o rapaz, dirigindo-se ao maníaco. “Rapaz,, é mesmo”! Respondeu ele caminhando para sala do cartório onde chegando á porta, soltou um pavoroso berro fazendo caretas horrorosas, com as mãos abertas crispadas como garras, provocando uma reação de pânico naquele amontoado de gente. Assustados, correram todos para fora, deixando a fila vazia. Ele então, calmamente, dirigiu-se ao balcão do cartório e tirou o seu documento. Eu aproveitei o embalo e tirei a cópia da minha certidão. Na saída, o maluco (?) agradeceu ao rapaz pela “boa idéia”, tratando de cair fora, pois, algumas pessoas refeitas do susto ameaçavam um “quebra-pau”, pra cima dele.

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