quinta-feira, 23 de junho de 2022

QUAL É, VÉI?

                                                   Por Carlos Éden Meira

O texto abaixo já foi publicado há alguns anos. Entretanto, como há uma referência às festas juninas em um trecho, achamos interessante publicar novamente.

Primeiro, eu senti o bafo. Era uma onda de calor, numa mistura de cheiros: suor, perfumes diversos, cerveja, cachaça e sei lá o quê mais. Então, levado pelo contágio do ritmo da música frenética e o efeito de várias doses de vodka ou coisa semelhante, fui arrastado naquele “tsunami humano”. De repente, percebi que mesmo que eu quisesse, não poderia mais sair daquele turbilhão alucinado, espremido entre corpos saltitantes e suados, de maneira que os pés não tocavam o chão. Fiquei à deriva, sem poder me locomover na direção que eu quisesse, com os pés no ar como se flutuasse ao sabor dos movimentos da massa de foliões do chamado “Bloco da Pipoca”, que acompanhava o trio-elétrico. Por um breve momento, vi uma brecha na multidão próxima à calçada e pensei em sair por ali, pulando no meio-fio. Quem disse que pude? Levei um empurrão de banda e fui novamente engolido pela massa ululante, permanecendo por um bom tempo sendo jogado de um lado para outro, como bola de vôlei, ping-pong ou coisa que o valha.

Finalmente, numa esquina qualquer, fui “cuspido” fora daquela alegre bagunça ainda zonzo, o corpo todo dolorido, vendo tudo girando sem entender muito bem o que acontecera. O que teria dado em mim para me meter naquela “zorra trio-eletrizada”? Ainda com as idéias confusas, percebi que havia perdido os óculos. A carteira contendo uns trocados e uns documentos tomaram “chá de sumiço”, e notei também, que uma perna parecia mais curta do que a outra quando tentava andar, o que ficou esclarecido quando vi que só um pé estava calçado. O outro pé do tênis deve ter ficado lá, pulando no meio da multidão.

Traumatizado por esse fato, jurei que nunca mais iria a shows ou eventos barulhentos em praça pública. - Nem arrastado! – dizia eu, quando o pessoal lá de casa me chamou para ver o tal mega-show de Elba Ramalho num São João desses. Terminei indo, pois, ia sair todo mundo e eu não queria passar o São João sozinho em casa. Cuidei de ficar a uma distancia segura, numa mesa de bar defronte do palco, porém, longe demais. Mesmo assim, achei que era melhor longe do que perto da zonzeira geral, da galera muito doida. Eu, hein?

Mas que lugar seguro que nada, meu irmão! O bar onde eu estava era de esquina, as cadeiras estavam sendo disputadas a tapa, e, minha cadeira ficava bem na curva da calçada. Cada marmanjo que passava me dava uma cotovelada nas costas dizendo: - Dá licença aí, meu tio! – eu, com um copo de plástico cheio de cerveja na mão, a cada cotovelada, apertava o copo e espirrava a cerveja toda na minha cara e na roupa. Quando resolvi comer uns amendoins como tira-gosto, foi pior ainda. A cada cotovelada eu engasgava, tossia e voavam amendoins para todos os lados. Além de tudo, da distância onde estava eu via a Elba Ramalho do tamanho de uma pulga, pulando lá no palco. Voltei pra casa, com as costas doloridas, cheias de manchas roxas devido às cotoveladas, faminto, com as roupas molhadas e fedendo à cerveja que quase não bebi, e, praticamente não vi o show da Elba Ramalho. Ainda tive de agüentar na rua, comentários como esse: - E aí, meu tio? Mijou nas calças? Foi um “programão”, hein?

 

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