sexta-feira, 17 de junho de 2022

O Rio Jequiezinho.

                                                                      J. B. Pessoa

Nos últimos anos, algumas pessoas começaram a se interessar pelo peculiar afluente do Rio de Contas, o qual foi cognominado de Rio Jequiezinho, depois da grande enchente de 1914, que destruiu dois terços da cidade de Jequié, obrigando a sua reconstrução, posteriormente à grande catástrofe.

A cidade que tinha sido formada a partir do nascimento de um povoado na confluência dos dois rios cresceu acompanhando às suas margens. Depois do desastre, seus habitantes procuraram edificar a nova urbe nas partes mais altas, para evitar que, uma nova calamidade pudesse trazer prejuízos à população. Nesse sentido, dois grupos importantes passaram a debater na escolha de um lugar conveniente para situar as novas edificações. Um grupo de jequieenses preferiu as terras, onde hoje está situado o Bairro do Jequiezinho, pelo fato do local apresentar uma topografia menos acidentada. Contudo, prevaleceu a apreciação da colônia italiana, a qual era bastante poderosa e dominava o comércio jequieense. Insatisfeito com a decisão, um grupo minoritário ergueu suas residências no local almejado, abrindo uma bela rua, que hoje é considerada como a artéria mais larga da cidade, a qual foi o embrião do bairro, que desde então, ficou conhecido como Jequiezinho, por ser menor do que a parte erguida, comandada pelos italianos.

Com o tempo as duas “cidades” prosperavam; mas o antagonismo existente entre seus moradores perduraram por muitos anos. O rio que as separava acabou sendo conhecido como Rio Jequiezinho. Entretanto, o nome do rio era outro, o qual deu o nome à cidade: Rio Jequié.

O povoado que deu a origem a cidade de Jequié, surgiu na confluência entre os dois rios, o Rio Jequiezinho e o Rio das Contas. Contudo, esse povoado nasceu na Fazenda Jequié ou Fazenda Barra ou Borda do Rio Jequié. O verdadeiro nome do rio não está registrado nas atuais edições dos livros sobre a História de Jequié, do professor e historiador Emerson Pinto de Araújo. Segundo depoimentos de antigos moradores da cidade, a maioria já falecida, o nome do rio era mesmo Rio Jequié, o qual deu o nome à fazenda de Joaquin Fernandes da Silva, desmembrada do grande latifúndio Borda da Mata, de propriedade do inconfidente mineiro José de Sá Bethencourt.

Existem várias teorias a respeito da significação do nome Jequié. O livro A Nova História de Jequié, do professor Emerson, expõe todas elas. Entre as teses expostas prevaleceu a do engenheiro Teodoro Sampaio e de vários tupinólogos, segundo os quais, o topônimo Jequié originou-se da palavra “jaquieh”, que na língua dos Jês ou Tapuias significa onça. Tanto assim que há um desenho de uma onça no brasão da Bandeira de Jequié.

A explicação de o rio ser denominado Rio Jequié (rio das onças) pelos índios vêm dos velhos moradores da cidade. Segundo eles, os animais selvagens, incluindo grande quantidade de felinos, entre os quais onças, jaguatiricas e suçuaranas, vinham matar a sede nas águas salobras (salgadas) do pequeno rio, pois os mesmos necessitavam ingerir sal no organismo.

A prova de que o nome do rio é Jequié, está nas edições de um livro didático de Estudos Sociais dos anos 50, editado pela Gráfica Sudoeste, conhecido como “Livro de Pontos”. Nele há um mapa do município e, na

confluência entre os dois rios, estão grifados o nome Rio das Contas para o largo e Rio Jequié para o estreito.

O Rio Jequié, conhecido atualmente como Rio Jequiezinho, nasce no município de Lafaiete Coutinho e deságua no Rio de Contas na cidade de Jequié. Outrora, um rio caudaloso e piscoso, em suas margens os índios cotoxós armavam armadilhas para pegar os peixes conhecidas pelo nome de jequi, cujo vocábulo, de origem tupi, é uma das polêmicas teorias, a respeito da origem do nome do estreito rio. Perto da sua foz havia vários meandros, os quais formavam um verdadeiro pântano nas suas cheias, atraindo animais pantaneiros, tais como jacarés, veados, ariranhas etc. Até meados dos anos 60, o Rio Jequié era o paraíso da molecada jequieense. Depois das cheias, o rio formava vários poços, que eram verdadeiras piscinas. Os poços mais famosos eram a Raiz, a Panela e o poço da Represa. Esse era um rio peculiar, pois tinha vários nomes na área urbana e rural do município. Da sua foz até a parte onde hoje está situado o Bairro São Judas Tadeu era conhecido como Rio Jequiezinho. Logo após, o mesmo rio era denominado de Rio de Elza, a seguir Rio da Suíça e logo além, Rio das Almas. Em suas margens, além de pescar, a meninada caçava, com bodoque e estilingues, aves e pássaros como a rola-pagou, juritis, codornas e perdizes.

Nos dias de hoje, o rio agoniza por ter as suas águas represadas, ao longo do seu curso, em várias barragens particulares. Na parte que divide a cidade, um canal foi aberto em 1964 para conter suas enchentes. Os filetes de águas que correm hoje são produtos de esgotos urbanos. Entretanto, esse é um rio perigoso devido às cheias que pode ocasionar nesse pequeno flúmen. Sua última enchente data-se do ano de 1983. Nessa época, a parte mais baixa da cidade, hoje totalmente edificada, ficou toda inundada, devido o acúmulo de águas vindo do Rio Jequiezinho, as quais sendo barradas pelas águas do Rio de Contas produziram uma enchente de proporções pequenas, porém trazendo prejuízos a área alagada. Quando as cheias do Rio de Contas são intensas, devido aos excessos de chuvas na Chapada Diamantina, a Barragem de Pedras é obrigada a abrir suas comportas, despejando no rio, um grande volume de águas que, consequentemente, repreza as águas do Rio Jequiezinho.

Quando foi construída a Avenida Cesar Borges, os engenheiros tiveram a preocupação, em edificar as duas pistas que margeiam o canal aberto de 1964, acima do nível das cheias do Rio de Contas. Entretanto, a irresponsabilidade dos últimos gestores municipais, não fiscalizando ou permitindo a população construir residências nas áreas abaixo do nível das rodovias, ocasionou vários alagamentos em áreas povoadas entre os dois rios, nas últimas cheias do verão de 2021/2022, trazendo prejuízos à população mal informada. Esperamos que esses problemas sejam solucionados, de acordo com os pareceres dos técnicos em questão, no mais breve possível.

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