J. B. Pessoa
Nos
últimos anos, algumas pessoas começaram a se interessar pelo peculiar afluente
do Rio de Contas, o qual foi cognominado de Rio Jequiezinho, depois da grande
enchente de 1914, que destruiu dois terços da cidade de Jequié, obrigando a sua
reconstrução, posteriormente à grande catástrofe.
A
cidade que tinha sido formada a partir do nascimento de um povoado na
confluência dos dois rios cresceu acompanhando às suas margens. Depois do
desastre, seus habitantes procuraram edificar a nova urbe nas partes mais altas,
para evitar que, uma nova calamidade pudesse trazer prejuízos à população.
Nesse sentido, dois grupos importantes passaram a debater na escolha de um
lugar conveniente para situar as novas edificações. Um grupo de jequieenses
preferiu as terras, onde hoje está situado o Bairro do Jequiezinho, pelo fato
do local apresentar uma topografia menos acidentada. Contudo, prevaleceu a
apreciação da colônia italiana, a qual era bastante poderosa e dominava o
comércio jequieense. Insatisfeito com a decisão, um grupo minoritário ergueu
suas residências no local almejado, abrindo uma bela rua, que hoje é
considerada como a artéria mais larga da cidade, a qual foi o embrião do
bairro, que desde então, ficou conhecido como Jequiezinho, por ser menor do que
a parte erguida, comandada pelos italianos.
Com o
tempo as duas “cidades” prosperavam; mas o antagonismo existente entre seus
moradores perduraram por muitos anos. O rio que as separava acabou sendo
conhecido como Rio Jequiezinho. Entretanto, o nome do rio era outro, o qual deu
o nome à cidade: Rio Jequié.
O
povoado que deu a origem a cidade de Jequié, surgiu na confluência entre os
dois rios, o Rio Jequiezinho e o Rio das Contas. Contudo, esse povoado nasceu
na Fazenda Jequié ou Fazenda Barra ou Borda do Rio Jequié. O verdadeiro nome do
rio não está registrado nas atuais edições dos livros sobre a História de
Jequié, do professor e historiador Emerson Pinto de Araújo. Segundo depoimentos
de antigos moradores da cidade, a maioria já falecida, o nome do rio era mesmo
Rio Jequié, o qual deu o nome à fazenda de Joaquin Fernandes da Silva,
desmembrada do grande latifúndio Borda da Mata, de propriedade do inconfidente
mineiro José de Sá Bethencourt.
Existem
várias teorias a respeito da significação do nome Jequié. O livro A Nova
História de Jequié, do professor Emerson, expõe todas elas. Entre as teses
expostas prevaleceu a do engenheiro Teodoro Sampaio e de vários tupinólogos,
segundo os quais, o topônimo Jequié originou-se da palavra “jaquieh”, que na
língua dos Jês ou Tapuias significa onça. Tanto assim que há um desenho de uma
onça no brasão da Bandeira de Jequié.
A
explicação de o rio ser denominado Rio Jequié (rio das onças) pelos índios vêm
dos velhos moradores da cidade. Segundo eles, os animais selvagens, incluindo grande
quantidade de felinos, entre os quais onças, jaguatiricas e suçuaranas, vinham
matar a sede nas águas salobras (salgadas) do pequeno rio, pois os mesmos
necessitavam ingerir sal no organismo.
A
prova de que o nome do rio é Jequié, está nas edições de um livro didático de
Estudos Sociais dos anos 50, editado pela Gráfica Sudoeste, conhecido como
“Livro de Pontos”. Nele há um mapa do município e, na
confluência
entre os dois rios, estão grifados o nome Rio das Contas para o largo e Rio
Jequié para o estreito.
O Rio
Jequié, conhecido atualmente como Rio Jequiezinho, nasce no município de
Lafaiete Coutinho e deságua no Rio de Contas na cidade de Jequié. Outrora, um
rio caudaloso e piscoso, em suas margens os índios cotoxós armavam armadilhas
para pegar os peixes conhecidas pelo nome de jequi, cujo vocábulo, de origem
tupi, é uma das polêmicas teorias, a respeito da origem do nome do estreito
rio. Perto da sua foz havia vários meandros, os quais formavam um verdadeiro
pântano nas suas cheias, atraindo animais pantaneiros, tais como jacarés,
veados, ariranhas etc. Até meados dos anos 60, o Rio Jequié era o paraíso da
molecada jequieense. Depois das cheias, o rio formava vários poços, que eram
verdadeiras piscinas. Os poços mais famosos eram a Raiz, a Panela e o poço da
Represa. Esse era um rio peculiar, pois tinha vários nomes na área urbana e
rural do município. Da sua foz até a parte onde hoje está situado o Bairro São
Judas Tadeu era conhecido como Rio Jequiezinho. Logo após, o mesmo rio era
denominado de Rio de Elza, a seguir Rio da Suíça e logo além, Rio das Almas. Em
suas margens, além de pescar, a meninada caçava, com bodoque e estilingues,
aves e pássaros como a rola-pagou, juritis, codornas e perdizes.
Nos
dias de hoje, o rio agoniza por ter as suas águas represadas, ao longo do seu
curso, em várias barragens particulares. Na parte que divide a cidade, um canal
foi aberto em 1964 para conter suas enchentes. Os filetes de águas que correm
hoje são produtos de esgotos urbanos. Entretanto, esse é um rio perigoso devido
às cheias que pode ocasionar nesse pequeno flúmen. Sua última enchente data-se
do ano de 1983. Nessa época, a parte mais baixa da cidade, hoje totalmente
edificada, ficou toda inundada, devido o acúmulo de águas vindo do Rio
Jequiezinho, as quais sendo barradas pelas águas do Rio de Contas produziram
uma enchente de proporções pequenas, porém trazendo prejuízos a área alagada.
Quando as cheias do Rio de Contas são intensas, devido aos excessos de chuvas
na Chapada Diamantina, a Barragem de Pedras é obrigada a abrir suas comportas,
despejando no rio, um grande volume de águas que, consequentemente, repreza as
águas do Rio Jequiezinho.
Quando foi construída a Avenida Cesar Borges, os engenheiros tiveram a preocupação, em edificar as duas pistas que margeiam o canal aberto de 1964, acima do nível das cheias do Rio de Contas. Entretanto, a irresponsabilidade dos últimos gestores municipais, não fiscalizando ou permitindo a população construir residências nas áreas abaixo do nível das rodovias, ocasionou vários alagamentos em áreas povoadas entre os dois rios, nas últimas cheias do verão de 2021/2022, trazendo prejuízos à população mal informada. Esperamos que esses problemas sejam solucionados, de acordo com os pareceres dos técnicos em questão, no mais breve possível.
Muito bom quero fazer um projeto de pesquisa sobre o Rio Jequiezinho e seus impactos no Planejamento Urbano.
ResponderExcluir