quinta-feira, 2 de junho de 2022

Lindolfo Rocha e a emancipação política de Jequié.

                                                             J. B. Pessoa

O grande articulador da emancipação política jequieense foi Lindolfo Rocha, que aqui chegando, percebeu o germe de crescimento que havia no lugar, envolto em nevoas espessas da mesquinharia, que a politicagem regional abraçava aquela pequena, porém ativa, aglomeração urbana, que estava fadada ao progresso e desenvolvimento.

Logo após a sua formação, o povoado de Jequié foi crescendo aceleradamente, devido o aparecimento de diversas pessoas, que resolveram estabelecer em suas terras. Entre essas, um grupo merece destaque especial, os italianos, que aqui chegaram e vieram a se ajuntar às muitas famílias, oriundas de outras localidades do sertão baiano. Profissionais de diversos setores, como alfaiates, barbeiros, pedreiros, ferreiros, carpinteiros, fotógrafos, artesãos, armeiros, dentistas, médicos e advogados, entre os quais, o grande jurista Lindolfo Rocha, que derem um destaque especial àquele dinâmico arraial, o qual, na época, permanecia na condição de distrito de Maracás.

Por volta de 1892, tempos depois da chegada de João Rotondano, primeiro italiano a chegar nessas paragens, existia em Jequié, cerca de cento e cinquenta de seus patrícios, trazendo o progresso e vivendo em perfeita harmonia com a população local. Enquanto o povoado crescia, tropas e boiadas procedentes de diversas regiões permaneciam fazendo ponto obrigatório em Jequié, que passou as contar com uma população flutuante bastante significativa, proporcionando excelentes transações comerciais.

Por essa época, a região era atormentada pelo banditismo, os quais praticavam roubos e assaltos, muitos com requintes de crueldades. Bandoleiros famosos como Zequinha Calango, Antonio de Paulo, Neco Moura, Bráulio Rocha, Joaquim Quixabeira, Estevão Mãozinha e Antonio Bodeiro faziam incursões pelas cercanias jequieenses deixando pavorosa toda à população. Quando os bandoleiros atuavam na região, o clima de medo e terror tomava conta de todos, fazendo com que às boiadas passasse ao largo, o comércio entrava em crise e famílias inteiras deixavam o povoado por falta de segurança.

Nesse tempo, o bacharel em direito Lindolfo Rocha reuniu os homens de bem da terra, a exemplo do grande Nestor Ribeiro e fundou o Clube União, entidade que tinha por principal atividade combater o banditismo e lutar pela emancipação política de Jequié. Esse grande homem valendo de sua amizade com pessoas distintas da capital baiana, conseguiu, do então desembargador Luiz Viana, uma volante de setenta praças, que derrotaram Zezinho dos Laços, o principal malfeitor da região, enviando-o preso a Salvador, o qual foi recolhido no forte de São Marcelo.

A atuação de Lindolfo Rocha nos destinos de Jequié não se encerrou com a prisão de Zezinho. Confiando no apoio da imprensa baiana e de suas amizades entre as lideranças políticas do Estado, desenvolveu esforços no sentido de articular a emancipação política do povoado. Nessa época, uma guerra acirrada era travada entre dois grupos dominantes na política de Maracás: os Rabudos,

chefiados por Marcionílio de Souza e os Mocós de José Antonio Miranda. Os reflexos dessa luta atingiam diretamente a população, pois o povoado, na condição de distrito de Maracás, era obrigado a tomar partido por uma ou outra facção. A jagunçada invadia a cidade e praticava toda a sorte de delitos. Sendo assim, enquanto Jequié permanecesse nessa situação, lamentavelmente sofreria os respingos desse antagonismo. A campanha de Lindolfo Rocha, valendo-se mais uma vez de suas amizades políticas e do apoio da imprensa soteropolitana, foi coroada de êxito. No dia 10 de julho de 1897, Jequié foi elevada à condição de vila e município independente e no dia 25 de outubro do mesmo ano, instalou o município, com a posse do primeiro intendente, eleito pelo voto popular, Urbano de Souza Silva Brito Gondim e a posse do primeiro conselho Municipal de Jequié.

Lindolfo Rocha foi um dos maiores beneméritos do município; no mesmo nível de Nestor Ribeiro, João Rotondano e Vicente Grillo. Chegou a Jequié em 1894, aos 32 anos de idade, abrindo seu escritório de advocacia na Rua da Vitória, que hoje leva o seu nome. Esse grande advogado, de origem humilde, foi o verdadeiro líder da emancipação política jequieense, além de proporcionar um combate sem tréguas ao banditismo. Foi também um grande escritor, publicando diversos livros de ficção e poesias. O seu romance, intitulado “Maria Dusá”, obra que retrata costumes sertanejos e suas relações com a seca nordestina, foi transformada em novela com o nome “Maria Maria” transmitida pela Rede Globo de Televisão.

* Este trabalho foi baseado nas obras do prof. e historiador Émerson Pinto de Araújo.

 


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