J. B. Pessoa
O
grande articulador da emancipação política jequieense foi Lindolfo Rocha, que
aqui chegando, percebeu o germe de crescimento que havia no lugar, envolto em
nevoas espessas da mesquinharia, que a politicagem regional abraçava aquela
pequena, porém ativa, aglomeração urbana, que estava fadada ao progresso e desenvolvimento.
Logo
após a sua formação, o povoado de Jequié foi crescendo aceleradamente, devido o
aparecimento de diversas pessoas, que resolveram estabelecer em suas terras.
Entre essas, um grupo merece destaque especial, os italianos, que aqui chegaram
e vieram a se ajuntar às muitas famílias, oriundas de outras localidades do
sertão baiano. Profissionais de diversos setores, como alfaiates, barbeiros,
pedreiros, ferreiros, carpinteiros, fotógrafos, artesãos, armeiros, dentistas,
médicos e advogados, entre os quais, o grande jurista Lindolfo Rocha, que derem
um destaque especial àquele dinâmico arraial, o qual, na época, permanecia na
condição de distrito de Maracás.
Por
volta de 1892, tempos depois da chegada de João Rotondano, primeiro italiano a
chegar nessas paragens, existia em Jequié, cerca de cento e cinquenta de seus
patrícios, trazendo o progresso e vivendo em perfeita harmonia com a população
local. Enquanto o povoado crescia, tropas e boiadas procedentes de diversas
regiões permaneciam fazendo ponto obrigatório em Jequié, que passou as contar
com uma população flutuante bastante significativa, proporcionando excelentes
transações comerciais.
Por
essa época, a região era atormentada pelo banditismo, os quais praticavam
roubos e assaltos, muitos com requintes de crueldades. Bandoleiros famosos como
Zequinha Calango, Antonio de Paulo, Neco Moura, Bráulio Rocha, Joaquim
Quixabeira, Estevão Mãozinha e Antonio Bodeiro faziam incursões pelas cercanias
jequieenses deixando pavorosa toda à população. Quando os bandoleiros atuavam
na região, o clima de medo e terror tomava conta de todos, fazendo com que às
boiadas passasse ao largo, o comércio entrava em crise e famílias inteiras
deixavam o povoado por falta de segurança.
Nesse
tempo, o bacharel em direito Lindolfo Rocha reuniu os homens de bem da terra, a
exemplo do grande Nestor Ribeiro e fundou o Clube União, entidade que tinha por
principal atividade combater o banditismo e lutar pela emancipação política de
Jequié. Esse grande homem valendo de sua amizade com pessoas distintas da
capital baiana, conseguiu, do então desembargador Luiz Viana, uma volante de
setenta praças, que derrotaram Zezinho dos Laços, o principal malfeitor da
região, enviando-o preso a Salvador, o qual foi recolhido no forte de São Marcelo.
A
atuação de Lindolfo Rocha nos destinos de Jequié não se encerrou com a prisão
de Zezinho. Confiando no apoio da imprensa baiana e de suas amizades entre as
lideranças políticas do Estado, desenvolveu esforços no sentido de articular a
emancipação política do povoado. Nessa época, uma guerra acirrada era travada
entre dois grupos dominantes na política de Maracás: os Rabudos,
chefiados
por Marcionílio de Souza e os Mocós de José Antonio Miranda. Os reflexos dessa
luta atingiam diretamente a população, pois o povoado, na condição de distrito
de Maracás, era obrigado a tomar partido por uma ou outra facção. A jagunçada
invadia a cidade e praticava toda a sorte de delitos. Sendo assim, enquanto
Jequié permanecesse nessa situação, lamentavelmente sofreria os respingos desse
antagonismo. A campanha de Lindolfo Rocha, valendo-se mais uma vez de suas
amizades políticas e do apoio da imprensa soteropolitana, foi coroada de êxito.
No dia 10 de julho de 1897, Jequié foi elevada à condição de vila e município independente
e no dia 25 de outubro do mesmo ano, instalou o município, com a posse do
primeiro intendente, eleito pelo voto popular, Urbano de Souza Silva Brito
Gondim e a posse do primeiro conselho Municipal de Jequié.
Lindolfo
Rocha foi um dos maiores beneméritos do município; no mesmo nível de Nestor
Ribeiro, João Rotondano e Vicente Grillo. Chegou a Jequié em 1894, aos 32 anos
de idade, abrindo seu escritório de advocacia na Rua da Vitória, que hoje leva
o seu nome. Esse grande advogado, de origem humilde, foi o verdadeiro líder da
emancipação política jequieense, além de proporcionar um combate sem tréguas ao
banditismo. Foi também um grande escritor, publicando diversos livros de ficção
e poesias. O seu romance, intitulado “Maria Dusá”, obra que retrata costumes
sertanejos e suas relações com a seca nordestina, foi transformada em novela
com o nome “Maria Maria” transmitida pela Rede Globo de Televisão.
* Este
trabalho foi baseado nas obras do prof. e historiador Émerson Pinto de Araújo.
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