J. B. Pessoa
Quando
a terrível enchente de 1914 se abateu em Jequié, atingiu também a Praça Luís
Viana, onde estava situada a igreja matriz e os prédios mais importantes da
cidade. Funcionavam, também, naquele lugar, o comércio local e a feira livre
semanal. Atrás dessa praça ficava um mangueiro, pertencente a Vicente Grillo,
onde os feirantes e visitantes deixavam seus animais para pastar. Após a
catástrofe, que destruiu dois terços da cidade, seus habitantes, não mediram
esforços para sua reconstrução. Engenheiros foram contratados para medirem um
novo traçado e novas ruas e praças foram construídas. Vicente Grillo doou à
comunidade aquele mangueiro e nele foi edificada uma nova praça, a qual foi
denominada Praça Ruy Barbosa.
No
espaço, onde foi delineada a nova praça, existiam duas partes distintas. Uma
mais elevada, com um terreno acidentado, cheio de pedras, havendo nela uma
pequena escarpa, rodeada com a vegetação típica da caatinga, e outra, mais
baixa, de constituição plana, onde havia pasto, e era ostentada por uma
magistral gameleira, a qual testemunhou o nascimento daquela dinâmica cidade.
Após a
sua reconstrução, Jequié entrou para o rol das cidades planejadas do Brasil.
Nasceu mais bela do que antes. A feira livre foi transferida para a nova praça
e o comércio ficou mais dinâmico nas ruas Mangabeira e Sete de Setembro, entre
as duas praças. O tempo foi passando, a cidade prosperando e não tardou muito
para que, na nova praça, um majestoso edifício fosse construído.
Inaugurado
em 1918, o Edifício Vicente Grillo tornou-se o motivo de orgulho da população.
Em suas dependências funcionaram várias firmas comerciais, além do primeiro
estabelecimento bancário da cidade, uma agência do Banco do Brasil, que foi
inaugurada em 1923 à primeira escola secundária da região, o Ginásio de Jequié,
fundado em 1935, pelo professor Antônio Felix de Brito.
Na
década de 1920 surgiram várias casas comerciais e residenciais ao largo da
grande praça. Os mais famosos foram os prédios do Rex Hotel, Farmácia Jequié e
a Cadeia Pública. No primeiro semestre do ano de 1930, o intendente Geminiano
Saback mandou efetuar obras de terraplanagem na parte alta da praça, onde
existia a escarpa e iniciou a construção do paço municipal, onde iria funcionar
a intendência de Jequié, com seus departamentos e repartições. Projetado pelo
arquiteto francês André Saffrey, o mesmo que projetou a nova igreja matriz, o
paço iria abrigar, também, o conselho municipal, um auditório, e um salão
nobre. Esse prédio, com dois pavimentos, teria jardins laterais e deveria
contar, também, com um palanque e um coreto. Por motivos, certamente políticos,
o paço não foi concluído; contudo, a balaustrada que separava o desnível do
terreno e a escadaria que daria acesso à porta principal do edifício, foi
construído, o que nos dava uma visão antecipada, de como seria soberbo, o
prédio da Intendência de Jequié. O “Colarinho de Saback”, como ficou sendo
conhecida, pejorativamente, aquela construção, era muito bonito, como podemos
constatar em fotografias existentes no Museu Histórico de Jequié. Mais tarde,
dentro de sua concavidade, foi inaugurado um parque infantil e uma pista de
patins, sendo que, nas festas juninas, as quermesses de Santo Antônio
funcionavam em suas dependências, até o ano de 1968, quando a festança foi
transferida para a Praça Castro Alves, em frente à igreja matriz.
O
local onde se pretendia edificar o paço municipal ficou vazio nas décadas
seguintes. Os intendentes posteriores, mais tarde prefeitos, continuaram alimentando
a ideia de construção da prefeitura municipal naquele lugar. Enquanto isso não
acontecia, o terreno baldio serviu de lugar para os diversos parques
itinerantes, que visitavam a cidade.
Na
gestão do prefeito Virgílio de Paula Tourinho (1934 – 1937), a feira livre foi
transferida da Praça Ruy Barbosa para a Praça da Bandeira. Durante a segunda
gestão do médico Waldeck Pinto de Araújo (1946 – 1947) foi iniciada obras de
ajardinamento da Praça Ruy Barbosa, com a plantação das árvores, dentro de um projeto
moderno, que resultou em um belíssimo jardim, o qual foi concluído na gestão do
prefeito Atenodoro Vaz da Silva (1948 – 1948). Alegando que a velha gameleira
existente na praça, a qual viu surgir a urbes jequieense, não combinava com o
estilo moderno do jardim, o prefeito Atenodoro mandou arrancar a formosa
árvore, sub o protesto de inúmeros cidadãos. Para amenizar os ânimos alterados,
o prefeito a transportou, em um caminhão, replantando-a nas proximidades do Rio
Jequiezinho, fato que não vingou e a gameleira acabou perecendo.
Culminando
com as festividades do centenário do ilustre baiano, o busto de Ruy Barbosa foi
inaugurado pelo prefeito Dr. Nilton Pinto de Araújo (1948 – 1951) na praça
pública, que levava o seu nome. Nessa época, o seu jardim já tinha se
transformado no principal ponto de encontro da juventude jequieense.
No
final dos anos 40 surgiu um novo prédio, que logo se destacou perante os
outros. A nova sede do Banco do Brasil, que contava com dois pavimentos, foi
edificada na praça com esquina para a Rua Silva Jardim, no lugar onde existia a
cadeia pública; sendo que, no final dos anos 60, um novo andar lhe foi
acrescentado, deixando-o mais belo ainda. Em 1954, o empresário Osvaldo dos
Anjos Silva construiu, anexo ao já existente Edifício Sudoeste, outro prédio de
dois andares, onde passou a funcionar, em suas dependências, a famosa ZYN-27
Rádio Bahiana de Jequié, inaugurada no mesmo ano. Em 1958 foi inaugurado um
novo prédio, cujo estilo estava em moda no momento, onde funcionou Magazine Três
Irmãos, mais tarde Loja Amazonas e no final dos anos 60 apareceu o Edifício Rio
de Contas, construído numa parte da praça, também chamada de Rua da Itália.
Nessa mesma parte, em 1976, foi construída a atual agência do Banco Do Brasil e
nos anos 80 e 90 novos e modernos edifícios foram sendo construídos ou
reformados, dando novas características à praça.
Um
fato lamentável foi à reforma feita em um prédio, situado de esquina com a
Avenida Alves Pereira onde, na época, funcionava o Banco Econômico e, anteriormente,
a Confeitaria Cristal. O prédio tinha uma bela decoração externa, de estilo
eclético, a qual foi totalmente retirada, dando lugar o um vazio, bem no gosto
da moda modernosa desse tempo, e que subsiste até os dias atuais. No outro lado
da avenida, de esquina com a Rua João Mangabeira, funcionou nos anos 30 e 40, o
famoso Bar Fascista, reduto de boêmios e intelectuais da época, já nos anos 50
e 60 em frente a esse bar, situado de esquina com a praça, ficava a famosa
boate de Biondi, onde a rapaziada se encontrava com as “moças” mais belas da
região.
Na
Praça Ruy Barbosa Jequié acontecia. Desde as festas de quermesses ao carnaval,
passando pelos comícios e parques itinerantes. Em seu majestoso jardim, com
árvores frondosas e belas flores, encontros eram marcados. Em seus bancos,
casais de namorados trocavam juras de amor nas noites de luar. Nas suas
calçadas, a bela mocidade jequieense desfilava-se com os últimos ditames da
moda internacional. Durante os anos 50 e 60, esta bela praça foi o principal ponto
de encontro de políticos, fazendeiros, comerciantes, jornalistas e
intelectuais, os quais encontravam guaridas no famoso “Bar Cristal”, situado no
andar térreo do Edifício Vicente Grilo. Funcionou, também, nesse prédio, junto
ao Bar Cristal, “O Berimbau”, bar inaugurado em 1969, o qual logo se tornou o
preferido da juventude.
Em um
edifício, ao lado oposto ao Colarinho de Saback, Dois bares funcionaram,
simultaneamente, na mesma edificação, os quais se tornaram famosos nos saudosos
anos 50 e 60. Este prédio tinha dois pavimentos. No andar de cima funcionava um
salão de bilhar, conhecido como o “Bar do Bonege”, o qual era frequentado pelos
entusiastas do jogo da sinuca; no térreo ficava “O Primavera Bar”. Este era um
bar singular, pois lembrava um “saloon” de filmes faroestes. O bar tinha as
portas típicas de um estabelecimento do velho oeste americano. As mesas desse
bar eram redondas, feitas com as rodelas de madeiras serradas de um tronco com
1,40 m de diâmetro. Geralmente, frequentado por homens, as poucas mulheres, que
nele adentravam, eram de reputação duvidosa. Muitas vezes, ocorriam escaramuças
em seu salão, dignas de uma película hollywoodiana.
No
final da década de 1960, a praça sofreu uma reforma que desagradou à maioria da
população. O seu belíssimo jardim foi destruído, dando lugar a outro, bem ao
gosto de uma modernice párvoa. Foram cortadas as árvores “fícus benjamins”, as
quais formavam um belíssimo tapete aéreo; os bancos foram destruídos, ficando
os frequentadores a mercê de um lugar para sentar, o qual era um prolongamento
cimentado, que separava os canteiros das calçadas; o velho “Colarinho de
Saback” foi derrubado, desaparecendo, com isso, o parque infantil e a pista de
patins e, em seu lugar, apareceu uma construção, que se deu o nome de belvedere,
tendo na parte atrás, um monumento esquisito, o qual foi apelidado pela
população de “Canhões de Navarone”. Contudo, após sua inauguração, funcionou um
elegantíssimo bar, na parte alta daquele local, o qual era frequentado pela
fina sociedade jequieense.
Até a
década de 1970, a Praça Ruy Barbosa continuou sendo o ponto de encontro da
juventude jequieense, porém sem o charme e o glamour dos anos anteriores. Após
os anos 80, a praça foi lentamente decaindo, devido a uma série de descasos das
administrações municipais. O local, sendo totalmente descaracterizado de suas
feições originais, deu lugar a uma praça, atípica, de natureza feirante, devido
o número de vendedores ambulantes, barracas de comidas, camelôs; além dos
anacrônicos hippies, com seus belos artesanatos e dos pseudos punks, com seus
protestos gratuitos.
Durante
a primeira gestão do prefeito Luís Amaral (1989 – 1992) o Edifício Vicente
Grillo foi criminosamente demolido, perdendo Jequié, um dos seus principais
cartões postais. Daí pra frente à praça, mal cuidada, perdeu totalmente o seu
brilho e o bar, que funcionava na parte alta do belvedere desapareceu, e o da
parte baixa transformou-se num nicho de notívagos.
A
Praça Ruy Barbosa nunca mais recuperou o brilho de outrora. Entretanto, na gestão
do prefeito Reinaldo Pinheiro (2005 – 2009), a velha praça apareceu com um novo
visual, bastante bonita, dando a impressão de que, um novo tempo de glória
viria novamente. Totalmente reformada e organizada adequadamente, com vários
quiosques, foi reinaugurada pelo prefeito Reinaldo Pinheiro no dia 7 de
setembro de 2008. Apesar dos descasos de administradores posteriores, que
sucederam ao professor Reinado Moura Pinheiro, a Praça Ruy Barbosa vem fazendo
um enorme sucesso entre a população jequieense. As crianças voltaram a aparecer
e brincar nas suas calçadas e tudo indica que a praça será o grande ponto de
encontro da juventude. Esperamos que o poder público não a negligencie e cuide
dela com carinho, a qual tem tudo para ser, novamente, o novo cartão postal da
cidade.
Este
trabalho é baseado nas obras do professor e historiador Emerson Pinto de Araújo
e de depoimentos de diversos cidadãos jequieenses.
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